Capítulo 2 - Magnólia

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— É como eu já lhe disse, senhorita, o Signore Savoia não recebe ligações diretas... — a secretária repetiu a mesma fala de mais de uma semana. — Se quiser conversar com ele, precisará marcar uma hora!

Dio dammi pazienza!

— Eu só preciso de meia hora! Meia hora!

— Entendo, mas assuntos pessoais são...

— Não é um assunto pessoal! — reclamei diante do tom de deboche claro em sua voz. — Não esse tipo de pessoal, ao menos... — reclamei. — Na verdade, é um assunto do interesse dele! Acredite, quando ele souber, vai ficar muito nervoso por você ter demorado tanto!

— É claro... — continuou usando o mesmo tom irônico.

Eu estava irritada, frustrada e com vontade de chutar alguma coisa, mas quando encarava o bebezinho deitado naquele carrinho, desistia de perder a calma.

— Tudo bem... — Respirei fundo. — Se você puder só deixar o recado eu já agradeço muito.

— É claro.

Desliguei o telefone com a certeza de que ela não ia passar recado algum. Eu conhecia aquele tipo e nem podia dizer que a culpa era dela. Provavelmente o tal Savoia é quem a instruía a ser assim.

— Alguma novidade? — Padre Giusepe curvou o corpo estendendo os braços para pegar a bebezinha.

Soltei um suspiro frustrado.

— Nada.

— Não se preocupe, Magnólia, as coisas irão se acertar no momento certo, você vai ver...

Encarei por alguns segundos. Queria ter a serenidade de Padre Giusepe, mas fora exatamente por não ter, que deixei o convento e resolvi servir a Deus de outra maneira.

Algo em meu olhar deve ter deixado clara a insatisfação porque o homem riu.

— A calma é uma virtude... Não é bambina? Hum? — segurou as mãozinhas pequenas da menina, fazendo carinho.

Fazia pouco tempo, desde que o Padre Giusepe assumira a direção do orfanato oficialmente, já que seu antecessor, o Padre Telmo vinha piorando do Alzheimer a cada dia. Dedicou a vida aos pequenos, mas não dava mais conta nem de si mesmo.

A bebezinha foi colocada de volta ao carrinho, e o padre a cobriu com a mantinha azul que havia chegado com ela.

— Bem, cara figlia, vou continuar meus afazeres... Preciso encontrar uma maneira de duplicar as doações... — coçou a careca. — Mais um pouco e farei piruetas no sinal ali em frente! — brincou.

Eu ri, mas não era engraçado, a verdade é que o orfanato estava lotado e nossa pequena renda, dos artesanatos que as noviças produziam e das doações da igreja não supriam as necessidades de tantas crianças.

Estávamos há meses no vermelho e era por isso que eu seguia tão empenhada encontrar o tal Filipo Savoia e entregar a ele a filha. Uma boca a menos não resolvia o problema, mas ao menos não deixava crescer.

Empurrei o carrinho pelo jardim. Ainda era começo da manhã e as freiras haviam levado os pequeninos para um banho de sol, já que em pouco tempo, nosso lindo jardim seria tomado pela neve.

— Dê-me aqui... — Irmã Dulce se aproximou e pegou a bebezinha no colo. — Vamos deixar a Magnólia trabalhar não é bambina? — Sorriu.

Agradeci e segui para a minha sala, no andar superior do convento. Estava mesmo precisando de um tempo tranquilo, já que fazia quase duas semanas que eu vinha me empenhando em conseguir falar com o pai da Carmela.

A Herdeira do Arrogante Italiano (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now