Os Cristais do Poder

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A sala de controle emitia um zumbido contínuo, hipnotizante. Um difusor emitia um vapor aromático, com perfume de bambu ou eucalipto, difícil de discernir. Baruc estava sentado à mesa, com seu sobretudo apoiado nas costas de sua cadeira de couro, vestido com uma camisa escura e calças pretas. Ele segurava uma caneta com uma mão e esfregava o rosto com a outra. Suas linhas de expressões, mais marcadas ultimamente, refletiam sua idade avançada e seu cansaço. Ele recolocou seus óculos de leitura, analisando os dados das planilhas abertas em uma das três telas à sua frente. Por um segundo, tudo parecia embaralhado e sem sentido, mas logo seu foco retornou e ele voltou ao trabalho.

Não demorou muito para interromper o serviço novamente, pois uma batida na porta o chamou. Pelas câmeras, ele viu Ariom, seu braço direito, olhando diretamente para a tela, como se o encarasse e, pela sua expressão, a conversa não seria agradável. Baruc respirou fundo. Ele definitivamente não estava com paciência para discutir com empregados no momento. Aquela guerra, além de estar sugando seus recursos, também estava esgotando-o mentalmente. "Por que aqueles Reptoides não se entregam logo e me dão o que eu preciso?", pensou Baruc. Sem querer perder mais tempo, ele apertou um botão em sua mesa, abrindo a porta.

— Baruc, eu preciso conversar com você, — disse Ariom, antes mesmo de pisar na sala. O empresário virou sua cadeira giratória, encarando o rapaz, tentando manter uma expressão simpática no rosto, mas falhando miseravelmente.

— Sim, Ariom, o que foi? — O empresário cruzou uma das pernas, colocando suas mãos sobrepostas sobre seu colo.

O soldado titubeou antes de falar, parecendo ter mudado de ideia no último momento, ao se ver frente a frente com seu mentor. Mesmo assim, ele disse, com os lábios comprimidos:

— Essa guerra, senhor. Odurno e Guslig não param de vir atrás de informações. Os outros soldados também ficam me perguntando, querendo saber o que está acontecendo no outro continente. A gente precisa resolver isso de uma vez, as pessoas estão curiosas.

Baruc suspirou ruidosamente antes de responder, desviando os olhos, tentando se manter civil:

— Primeiramente, Guslig e Odurno são dois idiotas que só pensam em dinheiro. Se eles vierem encher o saco de novo, fala que tudo está correndo como o planejado e pergunta se estão precisando que o pagamento seja adiantado. Em segundo lugar, cada soldado sabe exatamente aquilo que ele precisa saber. Você deveria entender isso mais que qualquer outro.

Ariom engoliu em seco, raspando seus dentes e contraindo seu maxilar. Era visível seu desconforto.

— Então me manda pra lá, junto da minha equipe! Em alguns dias eu já extermino todos os Reptoides e trago aquele velho pra você!

O empresário só fechou seus olhos e balançou a cabeça, entretido. Depois de abrir um sorriso discreto, ele disse:

— Ah, Ariom, Ariom. Não é assim que as coisas funcionam. Você é muito mais útil pra mim aqui do que lá, você sabe disso, mas talvez realmente seja a hora de te enviar pra lá, — e Baruc parou, pensando por uns segundos, com a mão no queixo. Em seguida, ele continuou: — Inclusive, falando nisso, tem um serviço pra você e seu time fazerem pra mim. Foi até bom você ter vindo aqui. — Baruc se virou na cadeira, analisando suas anotações e os computadores. Depois de apertar algumas teclas e deslizar o dedo sobre as telas, alguns papéis foram impressos em uma máquina próxima. — Pega esses documentos pra mim, por favor. Esse é o próximo alvo que preciso que eliminem. E façam parecer que foi morte natural. Não quero que chamem muita atenção.

Sem nem questionar qual seria o motivo ou quem seria aquela pessoa, Ariom pegou os papéis, ativando seu modo profissional. Sua postura havia mudado e seus movimentos pareciam precisos e mecânicos. Ele despediu-se de Baruc e já estava saindo, quando o homem mais velho disse:

Os Guerreiros do DestinoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora