Capítulo 1 - "Aqueles olhos"

Start from the beginning
                                    

— Todos os dias Lucy, todos os dias. — digo frustado, e em seguida visto o meu jaleco.

— Nenhum avanço? Quero dizer, não conversou com ela?

— Não, sempre a mesma coisa! - respondo sem ânimo. — Vou indo, tenho duas cirurgias hoje.

Me despeço dela e sigo com a minha rotina, naquele dia eu tinha duas cirurgias e um plantão de vinte e quatro horas para cumprir, seria puxado mas tudo era melhor do que dormir e sonhar com aquele garota novamente. Não era ruim, mas eu sentia algo estranho por uma garota que só existia na minha cabeça.

Aqueles olhos azuis não saiam da minha mente

Me dediquei ao trabalho a manhã toda para tentar não focar meus pensamentos na moça de olhos claros, fiz a primeira cirurgia e logo faria a outra, eu iria realizar uma revascularização miocárdica se tratava de uma cirurgia simples e cotidiana, mas era importante eu estar bem preparado e disposto.

Vou para sala dos plantonista, era um quarto com várias beliches onde os médicos usavam para descansar durante o plantão.

Adentro o quarto, tiro o meu jaleco e penduro no cabideiro. Me olho no espelho e não me agrado com o que vejo, meus olhos estavam fundos, a barba por fazer e os cabelos cacheados já estavam sem forma. Eu estava um verdadeiro desastre, precisava me recompor.

— Você está um caco, Victor. — digo encarando meu reflexo no espelho.

Em seguida sinto um ar frio entrando pela janela do pequeno quarto. Estava frio em Seattle, bem, nesses quinze anos que moro aqui posso contar nos dedos os dias que o sol e o calor resolveram aparecer. Morar em Seattle era ótimo, eu adorava o clima e existiam ótimas cafeterias por aqui, e o emprego era bom, muito bom por sinal.

Tento descansar um pouco mas sem sucesso, resolvo sair dali e procurar por Lucy. Talvez ela pudesse me ajudar a descansar a mente, caminho pelos corredores do hospital e logo chego em sua sala. Bato algumas vezes na porta e entro, Lucy estava sentada em sua cadeira e lendo alguns prontuários.

— Preciso de uma consulta. — me deito no pequeno sofá que havia no canto da sala.

A mulher me encara por cima dos óculos e bufa.

— Vai me pagar em dinheiro? — ela tira os óculos e põe sobre a mesa. — Não pode continuar me pagando com poesias, eu preciso de dinheiro Victor.

— O que tem de errado com as minhas poesias?! São lindas. — exclamo indignado, me sentando no sofá.

— São lindas Victor, mas a companhia de gás, luz e água não aceitam poesias como pagamento! — Ela diz com a voz um pouco alterada. — Evans, sinceramente, eu não sei mais como te ajudar. Faz quanto tempo que você sonha com essa garota, um ano?

Lucy caminha até a poltrona que ficava em frente ao sofá, e eu volto a me deitar.

— Dois anos! — Bufo frustado. — Você é a única que sabe, a única que pode me ajudar.

— Já tentou a psiquiatria? — Lucy questiona e pega seu caderno de anotações. — Eu já fiz tudo que estava ao meu alcance, talvez a psiquiatra te ajude.

— Não posso falar com ela — faço uma careta me lembrando da noite em que passei com a psiquiatra do hospital. — Eu transei com ela, não quero encontrá-la tão cedo.

— Victor, você já transou com todas as mulheres desse hospital, pelo amor de Deus. — a mulher me olha com indignação. — O que é isso? Desespero?

— Exatamente, transei com todas na esperança de esquecer a garota misteriosa.

Lucy joga os braços para o alto como se tivesse desistido de mim, naquela altura até eu já tinha desistido.

Foram dois anos sonhando com a mesma mulher. Mas depois de algum tempo eu já não aguentava mais, e então decidi tentar me relacionar com outras mulheres na esperança dos sonhos cessarem, e todas as tentativas foram falhas.

Lucy se senta ao meu lado e segura em minha mão.

— Amigo, procura um psiquiatra, eu estou ficando realmente preocupada com você.

— E se ela existir e a minha missão for encontrá-la? — Exclamo tentando achar uma solução.

Escuto uma gargalhada vindo de Lucy, que pareceu achar a minha ideia engraçada.

— Cada vez fica pior! — A garota se levanta e começa arrumar suas coisas. — Eu tenho que ir pra casa, estou cansada e preciso dormir.

Apenas concordo com a cabeça, antes de sair a mulher se aproxima de mim e deixa um beijo em minha testa.

Sozinho naquela sala fiquei refletindo sobre a nossa conversa, e devo concordar com a minha amiga. Tudo não passa de uma loucura, estou levando isso a sério demais e uma hora ou outra eu vou acabar em maus lençóis.

Vou esquecer a garota misteriosa.

Bem, vou tentar!

A Garota dos Meus Sonhos Where stories live. Discover now