46_ Revelações.

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Eu, obviamente, iria passar o dia atualizando meu blog e minhas redes sociais como presente natalino.

ㅡ Terminou, meu bem?

Tirei os fones das minhas orelhas, colocando-as em cima da mesa e me virando para olhar para ele. Easton tirou suas botas e se deitou na cama, enquanto tirava seu suéter.

Balancei á cabeça em concordância, levantando-me da cadeira me ocupando em tirar minhas pantufas. Deitei-me na cama ao seu lado, deslizando pelos lençóis até estar próxima o suficiente do seu corpo.

ㅡ E o pessoal?

ㅡ Wiley e Kevin entraram no quarto sorrindo um para o outro, então prefiro não imaginar. ㅡ Explicou, o que me fez rir sabendo exatamente o que ele quis dizer. ㅡ Payton continua no quarto evitando todo mundo, Ruby está na sala assistindo e Aruna saiu. Avisou que voltaria antes da festa, já que ele tem nos guiar.

Pressionei meus lábios em uma linha fina quando percebi o tom nele na frase final, notando que ele não estava nenhum pouco feliz por ir.

ㅡ Não gosta de festa? ㅡ Indaguei, colocando minha mão em seu peitoral coberto pela camisa.

ㅡ As festas que frequentei no ensino médio me traumatizaram um pouco. ㅡ Comentou, soltando uma risada.

ㅡ Ai, Jesus. As festas eram as típicas dos filmes? Tipo, 16 anos bebendo, se agarrando, brigando e depois parando na delegacia? ㅡ Questionei com desdém, soltando um resmungo ao ver ele balançar a cabeça afirmativamente. ㅡ Credo, Easton. Você viveu, literalmente, a vida de um adolescente dos filmes teen. Como conseguiu?

ㅡ Estou na vida errada, pelo visto.

Acabamos que começamos a rir daquilo, porque era realmente estranho a vida dele ter sido igualzinho aqueles filmes que todo mundo ama. Era estranho e, ao mesmo tempo, engraçado ao ver que realmente poderia existir uma diferença entre aqueles iguais.

ㅡ Easton... ㅡ Deslizei meus dedos pelo seu braço, sorrindo ao notar sua pele se arrepiando em automático, com uma dúvida plantada na minha cabeça. Nessas semanas que tivemos juntos nunca tive coragem ou curiosidade em perguntar, até porque sempre tinha algo a mais que interrompia essa minha linha de raciocínio. No entanto, aquele momento pareceu perfeito. ㅡ Nós nunca aprofundamos o assunto do seu trabalho. Então... Por que desistiu de atuar? Você sentiu que não gostava mais e que precisava parar?

Ele passou a língua pelos lábios quando perguntei, erguendo a mão passando pelos seus fios em sinalização de nervosismo. O mesmo encostou a cabeça na cabeceira da cama, observando a parede parecendo perdido ou tentando achar uma resposta para minha pergunta.

Ou melhor, parecendo pensar na melhor forma de me explicar.

ㅡ Lembra quando você disse que eu era perfeito?

Assenti, me sentando na cama para que eu pudesse estudar melhor suas reações.

ㅡ Eu respondi que você não merecia saber do meu lado ruim... ㅡ Continou, pegando na minha mão e entrelaçando nossos dedos. ㅡ Eu tenho um lado sombrio. Como sabe, eu moro com o Tarantino desde os 9 anos e sabe tudo até o dia de hoje. Eu só não contei uma parte.

Engoli com dificuldade, porque a forma que Easton estava dizendo me deixava curiosa e com receio do que eu poderia descobrir.

ㅡ Eu tive uma época rebelde, mas eu já não era um adolescente. Tinha acabado de me mudar para Los Angeles, após receber um convite para ser testado antes de ter um papel de verdade. ㅡ Continou explicando, parecendo tomar cuidado com as próprias palavras. ㅡ Quando meus pais descobriram que, ao contrário do Tarantino, eu iria tentar uma profissão de verdade eles ficaram orgulhosos e tentavam uma aproximação.

ㅡ De verdade? Como assim?

ㅡ Tarantino trabalha como atendente de academia, o que eu não acho que seja coisa ruim, é um emprego como qualquer outro. Meus pais não achavam isso, o que resultou em mais repulsa deles pelo meu irmão. ㅡ Aquilo atingiu em cheio o Easton, eu podia sentir na sua voz trêmula e no brilho de dor vindo dos seus olhos. Olhos que costumavam demonstrar alegria e calmaria. ㅡ Eu tentei ser ator, por muito tempo, porque eu realmente gostava e me via na frente das câmeras. Até que eles foram para Los Angeles, na busca de que pudessem me ter de volta na casa deles.

ㅡ Isso... Isso é sério?

Ele riu sarcástico, com um claro tom de quem não estava nada feliz.

ㅡ Na cabeça deles aquilo iria funcionar, porque eles estavam fingindo muito bem que estavam arrependidos e queria o filho de volta. Entretanto... ㅡ Pendeu á cabeça pro lado, fazendo movimentos circulares nos meus dedos perdido nos próprios pensamentos. ㅡ Eles só queriam a mim. Porque, diferente do Tarantino, eu estava me tornando alguém de verdade e não um mísero atendente.

Uma lágrima desceu pela bochecha vermelha de Easton, vislumbrando um lado sensível dele que já sabia que existia e que ele escondia extremamente bem. Sempre deixei claro que Easton conseguia controlar seus próprios sentimentos e emoções, no entanto, naquele momento percebi que a dor era maior.

Muito maior do que ele poderia controlar.

ㅡ Quando isso aconteceu simplesmente explodi, Rain. Explodi. ㅡ Afirmou, sussurrando a última parte como se pudesse quebrá-lo. ㅡ Nunca fiquei com tanta raiva como naquele dia. Eu gritei, chorei, discuti com meus próprios pais e disse na cara deles que tinha nojo deles de todos os jeitos possíveis. Minha mãe passou mal, mas eu não senti um pingo de pena e jurei para eles que jamais nutriria sentimentos bons por eles. Porque, da mesma forma que eles repudiavam o Tarantino, iria fazer o mesmo com eles.

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Amor de InvernoWhere stories live. Discover now