Elliott se aproxima da parede de vidro segurando a faca na mão. Ele estende a palma livre e ensanguentada na parede de vidro me olhando friamente enquanto gotas de sangue pingam no chão e o homem tem um último espasmo deitado próximo aos seus pés. Elliott balança a cabeça me reprovando e meus joelhos fraquejam. Não consigo me mover, estou tonta e acho que vou… desmaiar.
Puta-merda!

Fecho a cortina sentindo meu coração acelerar e dou um grito assustada quando um trovão esbraveja alto e logo em seguida outro relâmpago acende o meu quarto escuro.

Respiro fundo e conto até vinte.
É o que qualquer pessoa sensata faria, não é? Contar até vinte para manter a calma, mas não me sinto mais calma.
Volto a olhar pela fresta da cortina e lá está ele parado, olhando em direção a minha janela. 

Esquece a parte que ele é  bonito. Esquece a parte que daríamos um belo casal.

Ele é um assassino.

Meu corpo todo treme. Meus nervos estão abalados.

Sem saber o que fazer, me escondo outra vez, escorregando para o chão.
Meu coração martela forte.
Espero alguns minutos se passarem e tento controlar a minha respiração ofegante.

Merda!

Se acalma.

Se acalma.

Me arrasto pelo chão até a cama e entro debaixo do edredom segurando o meu celular nas mãos trêmulas. Mexo no aparelho procurando o número de Dereck na lista de chamada.
Estou com medo.

E se Elliott entrar aqui?

Não, não tem como.

O sistema de segurança logo seria disparado. Aqui é bastante seguro. É quase uma fortaleza.

Estou com o celular grudado no ouvido ouvido o tum… tum… da chamada para Dereck.

Chama… chama… chama…

— Alô…? — A voz dele soa sonolenta.

— Dereck, ele me viu!

— Amber, você está bêbada. Vai dormir. — Ele diz que eu estou bêbada, mas sua voz não está das melhores.  Voz rouca e preguiçosa por causa do sono.

— Escuta, seu dorminhoco! Ele me viu! — Grito histérica.

— Caralho… Quem te viu, linda?

— Meu vizinho. Eu o estava observando e…

Não sei se seria sensato contar o que houve a D. Não quero que ele se torne testemunha de um assassinato. Por fim, decido não continuar e inventar alguma coisa. Qualquer coisa menos a verdade.

O suspiro forte dele me interrompe.

— Amber, você está aí?

— Estou, D. Tô aqui. Eu… estava observando ele como sempre e ele me viu.

— Já te disse para esquecer esse cara. É sério, esquece ele e volta a dormir. Eu preciso dormir… — Sua voz é um choramingo rouco.

— Ele viu quando tirei foto dele. — Admito.

— Cê tá me zoando?

Agora sim ele acordou.

Sinto vontade de rir da voz assombrada de Dereck, mas reprimo meu desejo. Droga. Por que estou rindo? Elliott acabou de assassinar um homem.
Eu definitivamente não sou uma pessoa normal.

— Infelizmente não. E aconteceu o pior, acabei esquecendo a porra do flash ligado e o meu celular acendeu igual um farol xenon.

— Caralho, Amber! E aí?

— E aí que ele ficou parado na sala do primeiro andar dele olhando para a minha janela, e…  e ele fez que não para mim. Mexeu a cabeça dizendo que não. E eu me escondi. Agora estou aqui encolhida em posição fetal, morrendo de medo dele bater na minha porta para tirar satisfação. —  É o máximo de informação que posso passar.

— Deveria ter chamado a polícia.
Ele me mataria antes.

— E dizer o quê? Que eu estou obcecada pelo meu vizinho amedrontador e que tirei foto dele sem permissão? Ele não fez nada. Eu sou a errada da história! Eu sou uma stalker sem noção que nem sabe stalkear direito.

— Até que enfim você assumiu isso. Amber… Acho que você deveria parar com esse joguinho de bisbilhotar a vida desse cara. Você deveria assistir aos noticiários. As coisas não são brincadeira. Por que você não tenta me perseguir? Você sabe que eu ia adorar.

— D… não, por favor. Você sabe que te enxergo como um amigo.
Ouço um suspiro profundo do outro lado da linha.

— Sei. Então tenta terapia.

— Eu não quero merda de terapia! Eu não faço nada demais, eu só o observo. Isso não infringe nenhuma lei.

— Mas tirar fotos de um estranho sem permissão infringe, Amber.

— Dereck…

— Por que me ligou, linda? Ham?

— Caso eu precise… Você poderia vir aqui?

—  Chego em cinco minutos.

— Não, D. Não precisa vir agora. É só para o caso de eu realmente precisar.

— Você tem certeza? Posso sair agora mesmo.

— Tenho certeza sim.

— Tudo bem, então. Vou ficar atento a qualquer chamada sua.

— Obrigada. E… D?

— Oi.

— Se eu precisar que venha, pode trazer a sua arma por favor? Vou me sentir mais segura.

Ele fica em silêncio por um breve tempo. Acredito que o meu pedido inesperado tenha o pego de surpresa.

— Poxa, ele te assustou mesmo, você odeia aquela pistola.

— Só… só não esquece a arma, por favor.

— Tá bom, Amber. Fica tranquila, foi só a porcaria de uma foto, ele não vai fazer nada com você, tá bom? E eu estou aqui. É só chamar que eu vou correndo.

— Valeu, D. Volta a dormir, tchau.

— Tchau, linda.

Desligo a chamada e me encolho um pouco mais na cama. Sei que não vou conseguir dormir. Mas sei que ele não conseguiria entrar aqui nem se tentasse. O sistema de segurança dessa casa é um dos melhores, e pensar nisso me tranquiliza um pouco.

Me encolho ainda mais. Estou tão encolhida que pareço uma bola de futebol americano.

Motivos.

Preciso saber os motivos que o levaram a cometer um homicídio assim, do nada.

Quer dizer, não pode ter sido nada, não é?
Eu mataria James, mas isso porque ele me matou primeiro, talvez na hora da raiva, matasse Camilla também, não sei. Cada um tem seus motivos. Mas Elliott…

Não faz sentido.
Ele tem uma fundação para ajudar crianças.
Ele é o mocinho.
É o protagonista da história da minha vida, e nela, não cabe um assassino.

Queria saber de quem é o corpo estendido no meio da sua sala.

Será que ele deve dinheiro para Elliott?

Não, não faz sentido. Drogas, talvez. Faz mais sentido agora, mas ele não fuma… minha mente não está tão lúcida para criar suposições coerentes no momento.

Milhões de pensamentos férteis me vem à cabeça, mas a verdadeira resposta, só Elliott tem. Não aceito que ele seja o vilão. Não aceito perdê-lo. Não posso e ainda há esperança até que se prove o contrário, não há? Existe a possibilidade dele não ser um serial killer, a possibilidade dele ter matado o serial killer. Queria me arrastar e olhar através da janela para saber o que ele está fazendo. Se ele vai guardar o corpo no freezer ou jogar no porta malas e dar um sumiço nele, mas não tenho forças para me mover. Estou bêbada demais para isso.

Fecho os olhos contando os segundos para o dia amanhecer e torço para que quando o sol nasça, não haja formigas em minha boca.

OBSESSÃO FATAL Where stories live. Discover now