— Vou dar uma olhada lá em cima — Sam os informou apontando para as janelas do terceiro andar, porque ficar falando sobre os tempos melhores daquele lugar não os levaria a nada. — Tentem descobrir algo aqui em baixo — passou a intercalar o olhar entre Daiana e Bucky — e fiquem de olho nele.

— Deixa comigo — Daiana forçou um sorriso convincente, com a cabeça num leve movimento apontando para o canto da parede, onde seus olhos desde o primeiro instante perceberam haver uma vassoura, mas tudo isso num tom descontraído.

Sua ameaça estava clara para Zemo que também forçou um sorriso. Ela não trouxera o seu cabo, pois não haveria como escondê-lo e chamaria atenção, despertando interesse e desconfiança daquelas pessoas quando tudo o que queriam era ser discretos.

— Não vou atrapalhar vocês — Zemo ergueu as mãos em rendição dizendo aos dois quando o Wilson se afastou para começar a própria investigação.

Ainda mantendo os olhos fixos no Barão, os outros dois se aproximaram um do outro, mas observando seus movimentos. Zemo andava calmo e despreocupado pelo redor, passando quase despercebido pelos demais.

Daiana teria mantido a sua atenção nele, como Sam pedira, se o choro de um bebê não tivesse atraído completamente a sua atenção. Instantaneamente virou o rosto naquela direção e viu como uma mulher de cabelos desgrenhados e presos num coque mal feito tinha profundas olheiras sob os olhos e tentava ninar o bebê quase desesperadamente para fazê-lo parar.

De seu colo, embrulhado num pano encardido e saindo fiapos, ergueram-se dois bracinhos curtos de punhos fechados por minúsculos dedinhos. O choro intensificava na mesma medida que a suposta mãe aumentava seus movimentos para fazê-lo se acalmar, mas o resultado era apenas um choro fino mais estridente.

Daiana tinha o coração acelerado tomado de emoções quando quase hipnotizada pela criança e o choro infantil, sequer percebeu quando afastou-se de Barnes sem lhe dizer nada para se aproximar abruptamente daquela mulher que lhe parecia bastante cansada.

— Está balançando ele com muita força — disse antes mesmo que pudesse pensar, os olhos presos no pequeno rostinho contorcido numa careta enquanto usava toda a força de seus pequenos e frágeis pulmões para chorar.

A mulher cessou os movimentos e ergueu os profundos olhos confusos para Daiana por breves instantes antes de se voltar para a criança e persistir com o balançar.

— Ele não para de chorar — choramingou visivelmente exausta como todas as mulheres, mesmo as que não tinham filhos, sabiam ser a maternidade. Não duvidaria se lhe dissessem que aquela mãe não dormia há dias. — Eu já alimentei, mas não sei mais o que fazer.

— Eu posso... — apontou para o pequeno embrulho que se esperneava, pedindo permissão para se aproximar mais e a mulher assentiu, desesperada por ajuda e não importava de quem, nem se nunca a tinha visto por alí. — Ele pode estar com cólica — informou o que era bastante comum em bebês e aquele parecia ter alguns meses, bem menos de um ano. — Ou frio.

Com cuidado puxou o pano que o cobria, lamentando outra vez a situação por ver que tudo o que aquele bebê tinha para protege-lo do frio era uma blusinha de mangas compridas e aquele pano velho que não parecia servir para aquecer nada. Sob a blusa, tocou o peito da criança, arregalando os olhos ao sentir o quanto estava gelado. Definitivamente chorava de frio, deduziu de imediato.

Daiana não pensou duas vezes antes de retirar seu próprio casaco, que era suficientemente quente, e estendê-lo sobre os braços num pedido mudo para que a mulher o colocasse alí. Não se importava que os próprios braços estivessem arrepiados de frio pela brusca mudança de temperatura. A mulher nem hesitou em entregar a criança para uma estranha, possivelmente culpa da exaustão e o desespero por ajuda naquele caso.

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱𝚞𝚌𝚔𝚢 𝙱𝚊𝚛𝚗𝚎𝚜Where stories live. Discover now