Estou sentado em sua cama, a chuva se intensificou após comermos então Gael decidiu tirar meu sangue e dar início ao processo dentro da casa que, apesar do temporal lá fora, é aconchegante e quente.
Levanto por um segundo e olho pela janela, Fiona corre livremente pelo espaço, vez ou outra perturbando e assustando algumas galinhas.
— Acha que ela ficará bem? — questiono.
— Fiona? Ela ama chuva, não se preocupe com ela, já com minha horta... — ele diz, ficando ao meu lado na janela — Sempre é destruída pela chuva.
Sua proximidade me incomoda, quase como se meu corpo ativasse o modo sobrevivência, não sei explicar a sensação, mas não é nada cômoda. Me afasto e sento na beirada da cama, em seguida o observo abrir uma maleta de plástico e retirar algo de lá.
— Isto, é uma seringa! — diz, me mostrando o objeto. — Essa parte de cima, a agulha no caso, serve pra ser introduzida na sua pele. Quando introduzida, se você puxar essa parte maior, ela suga o líquido pra dentro desse pequeno tubo. Entendeu?
— Resumindo: você vai espetar isso na minha pele e assim vai ter o sangue, entendi. — digo, de forma mais prática, e ele sorri. — Do que tá rindo?
— Nada, ia fazer uma piada por conta de um pensamento intrusivo, mas seria de mal gosto.
Sem entender nada, continuo acompanhando enquanto ele se move até o armário e tira de lá uma espécie de... Sinceramente não faço ideia do que aquilo seja, então questiono:
— O que é isso?
— Um microscópio, ele serve pra ampliar e observar o mundo não observável a olho nu. O encontrei em uma farmácia a alguns anos e, por sorte, ele funciona até hoje. A melhor parte é que ele não precisa de eletricidade para funcionar, assim como o abajur que se carrega através da luz solar. — diz, mas suas palavras não fazem sentido para mim.
— Entendi! — entendi merda nenhuma.
— Esse não é bem o seu mundo, estou certo?
— Não, nem de longe, não é minha praia e não tenho a mínima paciência pra aprender. O que eu faço?
— Apenas permaneça sentado e passe isso no braço, bem aqui! — diz, me entregando um de seus frascos e em seguida apontando para o lugar onde meu braço se inicia, bem na repartição. — Serve para tirar qualquer tipo de germes ou bac... Serve para limpar o local! E antes que eu me esqueça, passe isso no calcanhar também, onde a Fiona beijou.
Sigo suas orientações enquanto me pergunto como ou com quem ele aprendeu tanto, mas algo me impede de questiona-lo. Quando a mistura encontra a ferida em meu calcanhar causado pela cadela, uma ardência se instala, dolorosa, porém suportável.
Gael caminha em minha direção e se senta ao meu lado, me afasto por impulso e ele percebe, porém não diz nada e pede para que eu estique meu braço em sua direção, seguidamente amarrando um pedaço de pano apertado bem acima do local indicado.
— Você vai sentir apenas uma picada, pode olhar pro outro lado se isso te fizer se sentir mais confortável, relaxe o braço e não o contraia.
Em seguida ele segura meu braço, sua mão está gelada, e eu não fazia ideia de que estava tão desfamiliarizado a ter qualquer tipo de contato humano.
Parece violação, tenho vontade de puxar o braço de volta, de sair dali, de correr, de socar a cara dele ou... Mas porque? Porque me sinto assim? Meu coração acelera, gotas de suor começam a escorrer da minha testa e eu sinto meu corpo formigar. Ele está me ajudando, é um bom ato, porque estou com vontade de fazer com ele o que faço toda vez que um vírus tenta encostar em minha pele?
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MATTEO
RomanceA alguns anos atrás, no início da pandemia, o único passatempo dos seres humanos era reclamar de como as máscaras dificultaram a respiração, de como as mãos ressecaram por conta de uma substância de precaução chamada álcool em gel, de como ficar em...