A Boneca ~ CAMREN

Prólogo

- Olá!

O brinquedo acaba caindo de suas mãos ao se assustar com a aproximação silenciosa daquela voz atrás de seu corpo.

- Desculpe.

- Acredite ou não, mas eu estava tentando não te assustar - ele entrou na sala com passos cautelosos, ainda envergonhado com sua abordagem.

Ela colocou o brinquedo de volta no lugar, certificando-se de não tê-lo quebrado na queda.

- Não! Desculpe por isso, pensei que tinha alguém aqui - ela mexeu no cabelo sem jeito, soltando uma risada incontrolável. O homem acabou rindo junto, achando divertido seu jeito espontâneo - É o Sr. Jauregui?

- Não. Eu sou o garoto do mercado - ele mostrou um sorriso amigável - Bem, o cara do mercado - ele escondeu as mãos no bolso - na verdade sou o dono.

Ela percebeu que ele transmitia a mesma energia espontânea e acabaram rindo juntos.

- Ok, eu sou Austin Kevintch, você deve ser a nova babá.

- Sim, Sra.Cabello. Mas você pode me chamar de Karla Camila.

- Prazer em conhecê-la. Tenho que guardar as compras na cozinha e se quiser me acompanhar podemos fazer um tour pela mansão.

Camila agradeceu e seguiu aquele homem, observando a maneira como ele agia, ele usava o humor para disfarçar seu nervosismo e nunca deixava um silêncio constrangedor entre eles, ele era um pouco mais alto e usava óculos de grau, sua barba era bem cuidada e menos cheia .

Ele tinha uma boa aparência, característica típica de homem que ela era acostumada a se relacionar, para algumas mulheres seria uma ótima chance de aproveitar, mas para Camila era como se ela estivesse prestes a cair novamente em uma armadilha.

Ela nunca mais correria um risco romântico com alguém baseado na aparência, no bom papo e na inteligência duvidosa, isso lhe custou um preço alto e olhar para ele era como se seu passado viesse à tona.

Ela se lembrou dele.

- Você é cubana-mexicana? - Ele estava de costas para Camila, lavando as mãos na pia da cozinha.

- Eu sou. É a minha primeira vez no Reino Unido - ele colocou os produtos enlatados nos armários enquanto tirava mais recipientes dos sacos para entregar a ela.

- Deixa eu adivinhar, Cuba? - Ele apontou para ela segurando uma lata de tomates nas mãos.

- Sim, especificamente em Havana - Ela tirou a comida dos sacos, e abriu a geladeira para guardar os legumes.

- Você sabia que sou muito bom em fazer perguntas, tenho esse dom.

- Dom? - ela se aproxima do balcão que divide o espaço entre seus corpos.

- Procrastinador, vidente, como quiser chamar, eu tinha uma avó que lia folhas de chá e minha mãe lia palmas.

- Eu entendi. E o que você lê?

- EU? Ah, chiclete mascado - ele teve o prazer de fazê-la sorrir mais uma vez, notou que o sorriso deixava seu rosto mais radiante - Não escolhemos nossos talentos Dona Cabello, venha se me permite, não tenha vergonha.

Ele contornou o balcão oferecendo a mão, ela pensou por um momento, querendo entender a mensagem e se conteve para não rir, tirando o chiclete da boca e entregando para Austin.

Ela não acreditava que ele estivesse realmente fazendo aquilo, se fosse verdade, algo que ela achava que seria muito difícil, ela ficaria impressionada, mas apenas decidiu participar de mais uma das graças de Austin Kevintch.

- Muito bem - ele se encosta no balcão analisando o chiclete na palma da mão - ah, marcas de dentes interessantes, vejo que você é uma escritora de Phoenix Montana, parece que veio aqui para se inspirar no interior inglês e fugir da sua agitação. Vida nos Estados Unidos.

- Não.

- Cheguei perto.

- Oh espere.... - as sobrancelhas do homem se ergueram em expectativa - De jeito nenhum - ela riu de sua expressão frustrada.

- Ok, mais uma tentativa - ele olhou para a palma da mão novamente e Camila teve vontade de rir daquele ato barato - Vejo um passado sombrio, fugir de alguém... verdade? É assim que parece aqui.

Austin moveu os olhos da palma da mão para os castanhos de Camila, ele viu que aquela mulher de antes não estava mais ali, ela tinha uma expressão neutra, ainda olhando para ele como se aquele simples levantar dos lábios fosse uma pergunta que ela estava fazendo em seu subconsciente.

Ele ainda estava atuando?

- Vou jogar isso fora - ela pegou o chiclete e jogou na lata de lixo mais próxima.

- Receio que essa tenha sido minha melhor tentativa de flertar, as pessoas desse país me consideram charmoso, sabe?

- Sério? Eu não imaginei...

O silêncio prevaleceu pela primeira vez e Camila logo percebeu que ela estava errada, ele não era muito bom em se livrar daquele momento constrangedor e apenas o ajudou a guardar o resto de suas coisas.

- Você pode me contar um pouco sobre essa família.

- O casal é legal. Duas pessoas que você não vê muito diariamente.

- E a menininha? Laurie.

- Lauren... - a cubana entendeu que o pronunciar era diferente do que estava escrito, ela estudaria para não errar na frente do casal ou da menina - Ela é... bom... não sei como explicar.

No mesmo instante alguém entra na cozinha, interrompendo ou evitando que Austin explique algo parecido com o que ela logo descobrirá.

Uma senhora de blusa vermelha e cabelos grisalhos curtos entrou na cozinha, ela estava de frente para Camila como se avaliasse seu tamanho físico.

- Ah, Sra.Jauregui, é um prazer finalmente conhecê-la - ela sorriu amigavelmente, a senhora apenas levantou uma sobrancelha.

- Onde estão seus sapatos? - Austin percebeu pela primeira vez que Camila não estava usando sapatos, ele estava tão focado nos traços latinos que não percebeu aquelas partes simples.

Sra.Jauregui apenas ignorou a gagueira vinda da mulher e sinalizou a ordem para que ela seguisse seus passos, Camila deu uma rápida olhada em Austin e o homem apenas lhe desejou boa sorte com um sorriso acolhedor, ela deu uma profunda respiração antes de seguir a Sra.Jauregui.

Ela ainda não sabia o que a esperava atrás daquelas paredes de madeira, até agora ela havia adorado o lugar e achado reconfortante ter uma pequena e divertida conversa com o Sr.Kevintch horas atrás, mas mesmo não tendo deixado uma boa impressão ela esperava corresponder às expectativas do Sr. e Sra.Jauregui.

E principalmente da menina.