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19 de Setembro de 1920:

Semana passada ocorreu o que estão chamando de O Grande Evento. Aconteceu a poucos dias na verdade. Muitos o têm como um presságio divino, um mero acaso, ou um sinal de algo terrível...

Superstições... é claro.

Como médico de longa profissão já tive pacientes de todos os tipos, devido à isto estou acostumado a elaboração de tais crenças. Cheguei de trem a esta pequena cidade de nome Providência. Eu, juntamente com outros médicos da capital, vim a pedido do prefeito, pois o governo ordenou uma vacinação em massa a população de zona rural contra possíveis surgimentos de uma doença "prima" da gripe espanhola. O diferencial desta é que acometia até mesmo os animais.

E confesso que fiquei curioso para saber melhor sobre este tal de Grande Evento.

Pelo o que soube de um feirante: estava uma noite fria sobre a pequena cidade de Providência. As almas dessa cidade já haviam se recolhido à muito e do campo à cidade tudo estava em grande silêncio. Foi quando uma estranha luz verde rasgou o céu. Como uma esmeralda inflamada ela desceu do firmamento atravessando os céus de Providência. Os guardas noturnos, boêmios e almas com insônia assistiram àquele estranho elemento cair. Os cachorros de rua enlouqueciam, os gatos nos telhados rangiam os dentes contra o céu, cavalos relinchavam. Por um instante toda a cidade pintou-se com aquela luz verde. Da praça aberta até a ruela mais escondida.

Então, aquele estranho objeto em rota de colisão seguiu para o campo. Caiu nas propriedades do senhor Aroldo. Ele tinha um grande açude em suas terras. E segundo o feirante, o próprio fazendeiro, que ficara até alta da noite cuidando de um cavalo doente, viu o estranho objeto celeste cair dentro do açude. Ele disse que viu uma coluna de água erguer-se no momento do impacto.

Então a calmaria voltou.

Agora, depois de devidamente hospedado, irei começar a vacinação nas zonas rurais com a ajuda de outros profissionais locais. O senhor Aroldo é um da minha lista. Aproveitarei para interroga-lo.

20 de setembro de 1920:

Amanhecera em Providência. Visitei várias casas nas redondezas, alguns aceitaram as vacinações de bom grado já outros nem tanto. Todavia tudo ocorrera bem. Quase no fim do dia, devido à jornada cansativa, despedi os meus auxiliares e disse que iria fazer sozinho as três últimas visitas. O senhor Aroldo era minha penúltima.

Chegando em sua casa o conheci. Era um sujeito grande, de meia idade, bigode farto chapéu e roupas sujas do campo. Fiquei com certo receio, mas fui bem recebido por sua esposa e seus 6 filhos os quais aceitaram as vacinações tranquilamente. Degustando um bom café, questionei-lhe sobre O Grande Evento. O senhor Aroldo me levou até o açude aonde, segundo ele, havia caído o objeto. Disse-me que de manhã algumas autoridades locais vieram até sua casa perguntar sobre o ocorrido. Alguns até mergulharam no açude, mas desistiram de achar o objeto por conta da água escura e devido o açude ser demasiadamente profundo. Ele também me contou que, com medo do que poderia causar, parou de usar a água do açude e tirou os animais dali de perto.

Pelo o que notei, não havia nada de anormal no lugar.

22 de Setembro de 1920:

Levantei-me para tomar um café na praça e ler um jornal. Enquanto o fazia no banco da praça não pude deixar de notar uma conversa atrás de mim. Dois jovens comentaram que viram no campo uma grande coluna de luz verde saindo de algum lugar em direção ao céu.

Juntei alguns pontos em minha mente, mas logo descartei qualquer ideia maluca. Parei de ouvir antes que me percebessem e parecesse rude.

26 de Setembro de 1920:

RAÍZES DA MORTEWhere stories live. Discover now