Capítulo Um

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Letícia

Pior do que ser uma adolescente e não ter dinheiro, é ser uma adulta lisa.

Quando o meu pai saiu de casa, eu achei que as coisas iam melhorar para a nossa família, mas a minha mãe entrou em uma depressão profunda após perder o marido para a putaria e acabou perdendo o emprego por justa causa após faltar inúmeras vezes, então eu comecei a trabalhar aos catorze anos para sustentá-las e não parei mais.

O dinheiro só dava para pagar algumas contas e comprar um pouco de comida para não morrermos de fome e agora com a Isabella doente, estávamos comprando até ovo fiado no mercadinho do outro lado da rua. A nossa conta com o seu Zé já estava mais de mil reais e eu não tinha noção de como ia pagar essa dívida.

Eu estou me esforçando ao máximo para conseguir vender mais na loja de roupas na qual eu trabalho para ganhar uma comissão maior, mas acho que não levo muito jeito para vendas.

Eu não tenho jeito para convencer os clientes a comprarem as peças de roupas como as minhas outras colegas no emprego e acabo ganhando uma comissão bem menor do que elas.

Suspiro fundo e tento afastar os problemas que rondam na minha cabeça.

— Ei, Let! - Gabriela aparece ao meu lado enquanto estou arrumando a vitrine da loja. - Preciso falar com você.

— Oi, amiga. O que aconteceu? - pergunto, forçando um sorriso.

— Bom, eu sei que você tá precisando de um dinheiro extra no final do mês e tem um amigo meu lá da favela onde moro que tá precisando de um serviço. - ela morde o lábio tentando esconder o sorriso divertido.

A encaro com olhos arregalados não acreditando que essa doida está me sugerindo vender drogas.

— Amiga, sem querer te ofender, nem nada, mas eu realmente nunca vou topar fazer essas coisas que você faz para traficantes. Morro de medo de ser presa. - explico, arrancando uma gargalhada exagerada dela.

Ainda bem que não abrimos a loja ainda ou nosso gerente ia nos brigar.

— Relaxa! Não é isso, garota.

— O que é então?

— Ele tá precisando de uma mulher para fazer visita íntima para o chefe dele que tá preso e o dinheiro é bom, tipo muito bom mesmo.

Dou uma gargalhada nervosa achando que era brincadeira, mas a Gabriela continua séria.

— Meu Deus! É sério isso? Gabi, não! De jeito nenhum. Sem chance. - digo desesperada, balançando a cabeça de um lado para o outro.

Será se ele é bonito? Se o cara for aperfeiçoado, eu poderia fazer um esforço, né? Tudo pela minha família.

— Tá bom, Letícia. Se acalma. Não vou te forçar. Foi só uma sugestão. - ela toca meu braço com carinho e dá um sorriso amigável.

***

Aquela conversa com a Gabriela não saia da minha cabeça, porque eu precisava de dinheiro para pagar as contas atrasadas urgentemente. Era tanta conta que eu tinha uma pasta só de faturas que haviam vencido.

Meu nome já tá até sujo na praça. Dezoito anos e o meu nome já está no SPC e Serasa.

Malditos sejam aqueles que não votaram no Ciro Gomes para presidente, porque tenho certeza que aquele sugar daddy bonitão teria facilitado a minha vida.

Infelizmente, um salário mínimo mais comissão não é o bastante para sustentar eu, minha mãe e irmã caçula, mas me sujeitar a deitar com um traficante em um presídio é demais para mim.

Tem de haver outra solução que não seja eu abrindo minhas pernas e entregando minha pureza.

Estava chegando em casa depois de um dia exaustivo pronta para tomar um banho e dormir, mas encontro minha humilde residência toda no breu. Não estava conseguindo enxergar quase nada.

— O que aconteceu, mãe? - questiono ao abrir porta e encontrá-la acendendo velas nos cômodos para iluminar os ambientes.

— O que você acha, Letícia? A gente não pagou a conta de energia por três meses e ela foi cortada. - ela responde com ironia e raiva e eu olho pela janela e percebo que a vizinhança está toda com luz.

Merda! Só foi aqui mesmo. Olha a vergonha que a pobreza faz a gente passar.

— Eu vou dar um jeito nisso amanhã, mãe. Não se preocupe.

— Que jeito, minha filha? Até amanhã as comidas na geladeira estão todas estragadas e nós fizemos as compras do mês ontem.

Suspiro fundo tentando manter a calma, mesmo que a minha vontade seja de gritar e chorar descontroladamente.

— Confia em mim. - falo firme e procuro meu celular na bolsa e resolvo mandar mensagem para Gabriela.

Mesmo eu não querendo aceitar a proposta da minha amiga, essa é a única solução rápida que pode me ajudar a sair dessa. Não posso deixar minha mãe, uma mulher idosa e minha irmã que é uma adolescente passar por necessidades desse jeito.

É, pelo jeito vou ter que dar o braço a torcer e dormir com um bandido. Deus me ajude a suportar essa barra que vai ser virar puta de um criminoso.

• MENSAGEN ON •

Letícia: AMIGA, ME HELPA!

Gabriela: O que foi, sua louca?

Letícia: Cortaram a luz daqui de casa, acredita? Eu cheguei do trabalho e tava tudo escuro.

Gabriela: Meu Deus, Let! E agora?

Letícia: Aquela parada de dormir com traficante ainda tá de pé?

Gabriela: Sim, menina. Totalmente de pé! Você vai querer fazer a visita íntima?

Letícia: Querer, querer... eu não quero, mas vou precisar aceitar.

Gabriela: Não vai ser nada demais.o cara é legal e bonito e eu já dei para tanto moleque feio e de graça.

Letícia: kkkkkkkkkkk ai amiga.

Gabriela: É sério! Você vai dar para um gatinho, gozar e ainda ganhar dinheiro.

Letícia: Você sabe que sou virgem, não é?

Gabriela: Sei, mas eles não podem saber. Se souberem que tu é inexperiente não vão te querer, porque o Cobra gosta de mulher experiente. Puta igual a mim.

Letícia: Caralho, Gabi. Como vou enganar ele?

Gabriela: Eu te ajudo. Homem é burro e ele não vai perceber.

Letícia: Ok, obrigada. Obrigada mesmo.

Gabriela: Por nada.

Letícia: ❤️

• MENSAGEM OFF •

Que tipo de pessoa tem Cobra como apelido? É cada vulgo estranho que esse povo da favela escolhe... Mas o importante é que eu vou conseguir o que quero, afinal eu preciso ser uma pessoa prática.

Não vai adiantar nada ficar guardando a minha virgindade se a minha família não estiver bem.

Atrás das Grades [1] [Degustação] Where stories live. Discover now