Capítulo 6

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Capítulo 6

No castelo, Renan seguiu Atheya pelos corredores do palácio até o local onde ficavam os quartos dos soldados e dos empregados. Renan sentia seu coração acelerar a cada olhar trocado com a rainha. Aqueles olhos arroxeados o hipnotizaram.

— Você me disse que aqui seria o meu lar.

Ela sorriu ao sentir a dúvida nas palavras dele.

— Esse será um dos assuntos que trataremos no jantar. Se aceitar, ficará no castelo comigo e os demais. Zarek é o líder dos guardas Reais, você será o segundo no comando.

Ele suspirou profundamente. Era evidente a admiração que a rainha tinha pelo comandante Zarek nas suas palavras. Se não tivesse sentido imediatamente esse sentimento absurdo por ela, não se importaria com as palavras dela em relação a esse homem.

Quando chegaram ao quarto, uma das empregadas apareceu. Estava atrasada, e deveria ter sido ela a mostrar o aposento para o humano, em vez da própria rainha o fazer.

— Senhora, me perdoe — ela disse, aproximando-se correndo, trocando as pernas e quase caindo em cima de Renan, que a segurou antes de cair. — Ahh... Sinto muito...

— Você está bem? — ele perguntou, observando o rosto dela, que tinha algumas características diferentes daquelas que ele tinha visto até agora. Ela possuía olhos maiores e expressivos, com pequenas antenas na cabeça. Sinceramente, achou a jovem adorável.

— Estou, senhor. Obrigada — disse, afastando-se do toque do humano e indo abrir o aposento para eles entrarem.

Renan observou a jovem de cabelos azuis encaracolados que chegavam até os joelhos. Ela era muito bonita, assim como a cientista, com um corpo pequeno e esguio. Ambas eram diferentes da rainha, que tinha curvas generosas em comparação com as outras, especialmente seios fartos. Tentou afastar esses pensamentos, pois não queria ter problemas com o comandante Zarek caso aceitasse ficar no castelo.

— Qual é o seu nome? — ele perguntou quando entraram no quarto.

Atheya permaneceu em silêncio, observando-o flertar com uma das empregadas. Mais uma vez, sentiu-se incomodada. Que tipo de homem ele era? Talvez um sedutor. Se fosse esse o caso, o que ela teria que dizer sobre se casar com apenas uma Sharoniana não seria suficiente. Teria que lhe oferecer um harém. Pensando cientificamente, seria ótimo, pois engravidaria várias de uma vez, mas, por outro lado...

— Senhora? Está se sentindo bem...?

Atheya não percebeu que seu corpo estava inclinando levemente, e suas forças a abandonaram de repente. Fechando os olhos, ela desabou, mas antes de tocar o chão, Renan a segurou nos braços.

— Atheya... — ele olhou para o belo rosto dela, que começou a apresentar pequenas partículas de suor, a pele mudando de um tom azul claro para um tom um pouco mais escuro. — O que está acontecendo com ela? — perguntou, preocupado.

— Eu não sei, senhor. Aguarde aqui, vou chamar o médico — disse, saindo correndo a uma velocidade impressionante e fechando a porta com o vento que criou.

— Atheya... — ele colocou o corpo suave na cama, mas continuou segurando sua cabeça com a mão e se ajoelhou à sua frente, observando os lábios levemente avermelhados e a pele que parecia estar voltando ao normal.

Ela abriu os olhos lentamente, soltando um breve gemido rouco que deu arrepios em Renan. Ambos se olharam sem dizer uma palavra. Hipnotizado, Renan aproximou o rosto do dela. Não queria ter problemas com Zarek, mas era mais forte do que ele.

Atheya não sabia se estava sonhando, mas parecia que o humano estava prestes a beijá-la. Ela não deveria aceitar, já que ele parecia ser um grande sedutor, e ela não aceita dividir o que é seu com ninguém.

Ele era diferente, e o que sentia por ele também era diferente. Poderia dizer que era apenas curiosidade em relação a copular com outra espécie, mas sabia que não era só isso, e estava ansiosa para descobrir o que era esse sentimento estranho.

Zarek entrou no quarto, interrompendo o clima, e Renan se afastou, levantando-se e dando espaço para o azulado ajoelhar-se à frente de sua rainha, visivelmente preocupado.

— Senhora, o que aconteceu? Você nunca adoece. Vou levá-la para seus aposentos — disse, fazendo menção de pegá-la no colo, mas foi impedido.

— Eu não sei o que aconteceu, mas estou bem. Obrigada.

— Tem certeza? Kenya foi chamar o médico. Seria melhor que repousasse até ele chegar.

— Vou aguardar na sala do trono — disse, virando-se para Renan. — Tem água quente no cômodo que liga o quarto, naquela porta. Assim que tirar o bracelete, o uniforme se desprenderá do corpo, e há roupas no armário que se ajustarão ao seu corpo assim que as colocar. Vê-lo-ei em breve na sala do trono. Pedirei para virem te buscar em uma hora.

Renan acenou com a cabeça de forma positiva e observou o comandante tocar o ombro da rainha, ajudando-a. Para tanta intimidade, só podiam estar juntos, então... Por que ela ficou esperando no momento em que estava prestes a beijá-la? Por que não o repreendeu?

"Não posso esquecer que sou humano, e talvez as mulheres daqui fiquem curiosas sobre isso... É, pode ter sido mera curiosidade dela querer ser beijada por um humano, talvez não permita que isso se repita, pois estava debilitada" — pensou indo até o banheiro.

Renan entrou no banheiro, que era tão grande quanto o quarto. Aproximou-se da banheira, que caberia meia dúzia de pessoas confortavelmente, e tentou entender como a torneira funcionava para encher a enorme peça de cobre.

— Como se liga essa torneira? Que mecanismo complicado...

De repente, ele passou a mão sobre a peça de cobre, e a água começou a encher a imensa banheira. Enquanto aguardava, foi até a janela e, olhando para baixo, viu o comandante num local mais afastado, dando ordens.

"Parece que ela está sozinha" — pensou, se aproximando da banheira.

Olhou para o bracelete e o tirou do pulso. Seu uniforme de guerreiro se transformou em nanopartículas negras, que retornaram para o bracelete, deixando-o completamente despido.

Deixou a joia sobre o balcão de pedra polida e entrou na banheira. A água estava na temperatura ideal para ele. Fechou os olhos brevemente, mas ao lembrar que a rainha o aguardava, pegou a esponja e se ensaboou tão rapidamente que, quando deu por si, estava no quarto procurando uma roupa no armário.

Franziu a testa ao ver as vestes. Parecia que não usavam camisetas e bermudas. Teria que se contentar com outra vestimenta muito parecida com a que estava usando do bracelete. A diferença era que ela tinha um brasão no ombro e não tinha capa. Assim que a vestiu, ela se ajustou às suas curvas. Colocou as botas e foi se olhar no espelho.

— As roupas deste planeta me caem bem... — sorriu antes de sair do cômodo e encontrar Kenya aguardando do lado de fora com um risinho no rosto. — Você ouviu o que eu disse?

— Sinto muito, não foi por mal. Temos uma audição muito apurada.

— Não tem problema. Poderia me levar até a rainha?

— Sim, senhor. A rainha está aguardando — disse e deu um risinho que fez Renan franzir as sobrancelhas, sem entender.

Olhando para a jovem marciana, teve a impressão de que ela era muito jovem e se viu perguntando sobre sua idade.

— Quantos anos tem?

— Tenho oitenta e nove. Aos noventa, somos considerados maiores de idade. E você?

— Tenho 33, mas pareço ter mais idade do que você. No meu planeta, você não aparentaria ter mais de vinte anos.

Continuaram conversando sobre amenidades até chegarem à sala do trono. Ele entrou e, mais uma vez, ficou hipnotizado ao observar a beleza da rainha. Ela se levantou do trono e se aproximou de Renan, que lhe ofereceu o braço, e ela aceitou de imediato.

— Está melhor?

— Sim, o médico disse para descansar. Acredita que foram as emoções que tive nas últimas horas.

— Fico feliz que esteja bem. Vamos jantar, vossa alteza?

Ela achou graça e sorriu concordando. Então, caminharam lentamente até chegarem à sala de jantar.


Atheya: A rainha de SharonWhere stories live. Discover now