Medidas Urgentes

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BR-020, Trairi, Ceará

08 de fevereiro

22h07min

O helicóptero pousou numa área baldia à margem da estrada que seguia até a cidade. Rosa viu o brilho ténue da neblina sobre a praia distante, salpicada pelas luzes dos barquinhos pesqueiros.

Dez minutos depois, um EcoSport vermelho parou na estrada. Rosa se afastou da aeronave, que subiu e desapareceu no céu noturno antes que nuvens chuvosas aumentassem no céu.

Um homem bateu no vidro do carro, gesticulando para que ela assumisse o banco do motorista. Rosa abriu a porta e o homem pulou para o carona. Ele ligou as luzes internas.

Vestido com bermuda jeans e camisa de algodão cru, o homem piscou para ela. Tinha a tez bronzeada. Era um homem magro, de belo sorriso.

− Eduardo Monteiro – apresentou-se, estendendo a mão para que Rosa apertasse. O aperto era firme. – A superintendência de Fortaleza me convocou às pressas. Espero que tenha feito uma boa viagem.

− Estou um pouco cansada – deu partida no carro e seguiu viagem.

− Serei seu contato aqui para o que precisar.

− Quais as últimas notícias sobre o garoto australiano?

− O menino está sob cuidados médicos. Quadro muito instável. Conseguimos equipamentos mais modernos e dois médicos especialistas em envenenamento. Acharam melhor não transferi-lo para outro hospital. A saúde dele está bastante frágil. Eles acham que sou da Embaixada Americana − ele riu. − Imagine!

A estrada cruzou a cidade de Trairi, com ares de interior. Eduardo orientou Rosa até o hospital. Ele continuou falando:

− Disseram que você vai relatar o caso. Não me deram permissão para isso, apenas para providências. Nem sei o que está acontecendo.

− É um fato bastante sigiloso. Estamos agindo com cautela − Rosa explicou, deixando a entender que ele não devia saber muito.

Ela estacionou o carro. Os dois saíram em direção à porta principal.


Hospital Geral de Trairi

22h23min

Ambientes hospitalares nunca a agradaram. A recepção, desprovida de qualquer conforto, contava apenas com algumas cadeiras. Não se assustou por não haver ninguém para atendê-la. Seguiu até um dos corredores.

Um velho gritava de dor, a perna esfacelada mostrando a ponta branca do fêmur numa cadeira de rodas, no setor de traumatologia.

− Trabulsi.

− O quê? – Rosa perguntou.

− O nome do médico é Estevão Trabulsi – Eduardo comentou. − O menino foi transferido.

− Não deve ser difícil encontrá-lo. O hospital é pequeno.

− Certo, vou procurá-lo na enfermaria. Por falta de leitos, os pacientes são transferidos para lá.

Ela viu Eduardo se deslocar depressa pelo corredor. Precisava encontrar o médico e pegou pelo braço a primeira enfermeira que atravessou seu caminho.

− Estou atrás do Dr. Estevão Trabulsi.

− Ele está ocupado na Urgência.

− Onde fica isso? − inquiriu, autoritária.

Ela apontou a direção.

Um minuto depois, quando Rosa chegou à Urgência, percebeu que o médico era um rapaz, pouco mais de vinte e cinco anos, muito alto, vestindo um jaleco branco e com a barba por fazer. Era o único ali dentro.

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