09 - Problemas com o papai

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Já pararam pra pensar no quão escroto um pai pode ser? Às vezes, ele não te bate, não te expulsa, não te ameaça — mas te mata por dentro, te anula, te obriga a viver uma vida que não é tua só pra alimentar o ego fodido dele. Charles era esse tipo de pai. Um bosta. Um homem quebrado tentando quebrar todo mundo ao redor só pra não se sentir sozinho nessa merda que virou a vida dele.

Ele odiava os filhos. Odiava a mulher. Odiava a porra da família inteira, mas fingia que era o chefe de tudo. E sabe por quê? Porque ele nunca teve coragem de ser quem ele era. Porque quando ele era moleque e se apaixonou por outro garoto, o pai dele — Dylan — espancou ele até sangrar. Porque amor, naquela família de mafiosos católicos hipócritas, era pecado. E ser gay era motivo pra apanhar e ser forçado a casar com uma mulher qualquer, só pra limpar a imagem da família depois que o irmão gêmeo dele meteu os pés pelas mãos.

A "tradição" da família Hacker era essa: homens escrotos, ricos, egoístas, traidores, viciados em poder e que só sabiam fazer filho pra manter o sobrenome. Não criavam ninguém, não educavam ninguém. Só fodia tudo e esperavam que os filhos lidassem com os próprios traumas sozinhos. E o Charles? Ele virou isso aí: um filho da puta que traiu a esposa desde o primeiro mês de casamento, que nunca olhou nos olhos dos próprios filhos com amor. E tudo isso porque o pai nunca deixou ele ser quem ele era.

Charles era gay. Sempre foi. E o amor da vida dele foi um garoto chamado Louis.

CHARLES NARRADO
Califórnia – Casa dos Hackers

— Acho que todo mundo tem um segredo que guardaria até o túmulo com medo de ser odiado pelos próprios pais. O meu me destruiu por dentro. Era amor. O tipo que meu pai dizia que era nojento. Que merecia surra. Que merecia inferno.

Na minha adolescência, eu apanhei tanto por isso que eu passei a acreditar que eu era podre. E pra agradar aquele velho filho da puta, eu fiz tudo que ele queria. Casei com uma mulher que eu nem conhecia. Tive filhos que eu nunca quis ter. Traí minha esposa com dezenas de mulheres, não porque eu gostava, mas porque eu queria fingir que era normal.

Mas eu nunca fui.

No dia do meu aniversário de 19 anos, meu pai me viu beijando o Louis. Meu primeiro amor. Aquele beijo me custou tudo. A porra da minha liberdade. O respeito por mim mesmo. E ele seguiu em frente, Louis seguiu em frente, e eu fiquei preso nessa jaula disfarçada de casamento. Fiquei fingindo que não sentia nada. Fingindo que tava tudo bem. Mas caralho, nunca esteve.

Até hoje, eu me pego imaginando como seria se eu tivesse mandado tudo à merda e ido embora com ele. Eu devia ser o cara ligando pra ele toda noite, dizendo que ele é o único da minha vida. Mas ao invés disso, eu virei esse lixo. Um covarde.

"Eu te amo, Louis. Eu sempre amei. E eu sei que nunca vou viver esse amor."

Charles engoliu seco. Estava andando pela mansão dos pais. Tudo era frio ali. A casa era linda, enorme... mas cheirava a dor antiga. Quando chegou perto da cozinha, ouviu vozes. Conhecia bem.

CENA – COZINHA

— "Seu pai voltou pra Califórnia e quer a parte dele nos negócios da família." — Jaden dizia nervoso, quase em sussurro.

— "Puta que pariu, aquele velho broxa não me deixa em paz!" — Vinnie bufava, tragando o cigarro no meio da cozinha dos avós como se ali fosse seu território.

Charles entrou sem bater. A porta rangeu. O clima pesou.

— "Vejo que esqueceram de anunciar que o rei voltou. Sentiu minha falta, filhinho?" — ele disse, com um sorriso cínico, venenoso.

Vinnie levantou como um foguete, olhos fervendo.

— "Vai tomar no cu, seu velho do caralho." — cuspiu. — "Me dá nojo pensar que você é filho dos meus avós. Eles mereciam coisa melhor."

Charles deu dois passos, sem medo, tentando manter a pose.

— "Eu só vim pegar o que é meu por direito. Você me chama de pai de merda, mas você não faz ideia da porra que o seu avô fez comigo."

Jaden cruzou os braços, seco.

— "Então vai arrumar uma buceta velha pra foder, pega tua parte e desaparece, seu merda."

Charles travou. O olhar dele era uma mistura de raiva, culpa, vergonha e solidão. Mas ele não disse mais nada.

Ele sabia que tinha perdido. Tudo. A moral. Os filhos. A chance de ser amado.

Tudo, por nunca ter tido coragem de amar.

Amor Bandido - Vinnie HackerWhere stories live. Discover now