17 - Madripoor

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Mas também pensava em John vez ou outra. Com a certeza de que naquela altura ele certamente já teria retornado para casa em algum momento, e não querendo que ele a ligasse e a importunasse outra vez, teve a atitude de manter o celular no modo vibratório para deixá-lo às cegas. Poderia desligar ou manter totalmente no silencioso, mas temia que se Melinda tentasse ligar com uma notícia urgente, acabasse não percebendo. Estava magoada, apesar de temerosa sobre qual seria a reação do marido quando tornassem a se encontrar. Afinal, não poderia fugir dele para sempre.

— Está tão pensativa hoje, querida — a voz de Zemo, dirigida a ela, lhe tirou do devaneio. — Posso saber o que se passa nessa sua cabecinha perturbada? — Bebericou do liquido transparente na taça.

Daiana sorriu de maneira debochada.

— Tramando estratégias para me manter distante de você o tanto possível pelo bem da minha sanidade mental.

Ele retribuiu o seu sorriso de maneira divertida.

— Por falar nisso — olhou ao redor, buscando por algo especialmente ao redor dela. — Reparei que não trouxe seu cabo de vassoura com você. O que me faz deduzir que ou o aposentou, ou o substituiu por aquela coisa que você trouxe.

— Por que? — semicerrou os olhos. — Está querendo levar umas vassouradas? — Entrou na brincadeira inclinando a cabeça para o lado.

— Só curiosidade — riu fraco antes de bebericar mais um pouco do liquido. — E então? — Insistiu numa resposta e a mulher suspirou ajeitando-se na poltrona.

— É este aqui — rendeu-se num suspiro, esticando a mão para o vão que havia entre a poltrona e a parede do jatinho.

De lá, retirou o cabo de vassoura modificado e bem diferente do que Zemo se lembrava. Entretanto, as marcas de sangue seco lhe asseguravam que impressionantemente ainda era o mesmo daquela época. Ainda assim, perguntou:

— Manteve-se ocupada? — Apontou para as marcas vermelhas, insinuando que ela devia manter algum serviço de agente secreta nas horas vagas.

— Eu só não faço mais isso — desviou o olhar para o canto, devolvendo o cabo para o lugar que estava antes.

— E o que está fazendo aqui? — Mediu-a de cima a baixo.

Briguei com meu marido e por isso contrariei sua ordem e fui parar em outro país com uma dupla de amigos meus que ele não gosta para tirar um criminoso mundial de uma cadeia de vigilância máxima só porque estou chateada com ele. Ela não poderia responder isso, com certeza. Então rapidamente lhe deu uma resposta um pouco mais honrosa que apesar de não ter sido a sua causa inicial, era agora:

— Eu não quero machucar mais ninguém — estava sendo sincera, voltando a olhar nos olhos castanhos dele que a analisavam com bastante interesse de uma forma que a deixava desconfortável, quase como se pudesse daquela forma ler a sua alma e constatar se mentia ou não. — Mas há pessoas sendo feridas e prejudicadas por esse grupo — referiu-se aos Apátridas. — Não pretendo enfrentar nada de frente de forma violenta, e por mim eu estaria em casa deitada no meu sofá e cuidando da minha filha, mas eu não posso. Não consigo. Porque mesmo que eu não queira ferir ninguém diretamente, se eu ficar parada podendo fazer algo, por menor que seja, para ajudar... — suspirou jogando-se para trás no estofado — vou estar prejudicando alguém de qualquer forma.

Sua resposta pareceu surpreender aos três que mantiveram-se calados durante todo o momento, ouvindo-a e a observando. Havia cansaço estampado em seu rosto, havia resquícios de dor, arrependimento, medo... mas também havia determinação. E alí estava a mulher por quem Barnes se apaixonara há décadas atrás. De não apenas coração, mas uma alma boa.

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱𝚞𝚌𝚔𝚢 𝙱𝚊𝚛𝚗𝚎𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora