SANS COEUR | MBAPPÉ

| CAPÍTULO 2

MBAPPE

 
  Meu pai passa os dedos sobre a gravada, distraidamente. Ele costuma fazer isso quando está pensando em algo muito importante. Claro, o fato dele estar prestes a entrar com sua única filha no casamento dela seria um motivo justo para tanto nervosismo.

    Mas eu não me deixo enganar. E sugiro que você faça o mesmo. Vou contar um fato imprescindível sobre o meu velho pai: ele não liga para absolutamente nada no mundo além de seu precioso dinheiro e tudo o que construiu com ele. Eu sei, é bem triste e comum hoje em dia. Mas o que eu estou querendo dizer é que, outros homens como ele teria 99% de sua prioridade em cima de seu patrimônio, mas os outros 1% seria destinados a outras coisas. Como, por exemplo, a sua própria filha.
Talvez, se eu fosse um homem, até conseguiria pelo menos conseguiu um pouco de sua atenção, do seu prestígio. E, talvez, se eu fosse um homem, tipo, o que meu pai espera de um filho homem, se eu conseguisse ser tudo isso, conseguia até o seu precioso e inacessível orgulho. Mas meu pai não tem orgulho de mim. Está bem longe disso, na verdade.

    E não, eu não estou sendo dramático ou algo do tipo. Quando tudo isso começou, ele não fazia ideia da minha idade. Teve que perguntar diretamente para mim (se mensagem por aplicativo seja considerado algo direto). Suspeito que ele perguntou a minha mãe também, e também suspeito que ela, assim como ele, não sabia.

    Também não posso afirmar ele me odeie. Acredito que para isso, você tenha que saber pelo menos o mínimo da pessoa em questão. Algo que não está em jogo aqui.

    Cansada de mergulhar em minhas boas lembranças de vida. Olho ao redor da salinha reservada para a noiva e seus convidados, que no caso é apenas meu pai.  Não é tão grande nem muito pequena. É apenas um lugar onde a noiva possa esperar para entrar em seu contrato de prisão. Só isso. Então, como não sou muito boa em observar lugares, volto a encarar meu pai, porque sou muito boa em observar pessoas.

    O motivo dele estar nervoso e de vez quando lançar olhares desconfiados em minha direção, é que ele não confia em mim. Ele não me conhece. Ele não sabe nada sobre mim. Eu sei o que ele está pensando; está pensando nas possibilidades em que eu posso destruir esse casamento em que ele se empenhou nos últimas semanas. Mas o que ele não sabe é que eu jamais faria isso. Primeiro porque sempre soube que isso aconteceria. Meus pais se casaram assim e não sou burra suficiente para acreditar que seria diferente comigo. Eu fui, de certa forma, criada para isso. Eu me praparei para esse momento.

    Acho que possa ser estranho para a maioria das pessoas hoje em dia. Mas, mesmo nessa altura da humanidade em que estamos, ainda existem acordos como esses. E existe muitos, das mais variadas formas.

    Então eu poderia só ir até meu pai e acalmar ele dizendo que não vou estragar seu acordo milionário. Mas não vou. Eu gosto dessa sensação. Meu pai, de certa forma, está com medo mim. Se ele está me temendo agora, eu mal posso esperar para ver sua cara no futuro. Ele acha que essa vai ser a última vez que vai me ver, mas está muito enganado.

    Como se pudesse sentir meu pensamentos, meu pai finalmente me encara diretamente nos olhos e abre a boca para falar. Mas o quer que seja, ele é interrompido pelo som da porta abrindo e a mulher que está responsável pela cerimônia entra com sorriso orgulhoso no rosto. Provavelmente porque conseguiu com esse trabalho de última hora o equivalente a três anos do seu salário normal.

— tudo pronto. Chegou a hora. — ela não olha para mim, olha para o meu pai. Ela deve saber que ele é o responsável pelo dinheiro que vai cair na sua conta mais tarde.

    Então é isso. Respiro fundo e me odeio ter que sentir meu coração dar pontadas de dor inconvenientes. Eu não deveria me sentir assim. Passei os últimos anos me preparando para isso. E passei as últimas semanas estudando o homem que será o meu marido daqui a poucos minutos. Estou pronta para isso. Eu sei o que fazer.

    Eu sou forte e posso me virar sozinha. Afinal, fiz isso nos últimos anos. Isso aqui não pode ser diferente.

    Enquanto acompanho meu pai pelo corredor e enfim, enquanto fico ao seu lado com aquele vestido mais apertado e decotado do que o recomendado para uma noiva, percebo que vou passar um tempo indeterminado da minha vida ao lado de um homem que eu nunca vi pessoalmente na minha vida. Com sua família que tem uma grande chance de me odiar. Vou entrar no escuro. Vai ser como navegar no espaço, nada amém de escuridão. Lembro a mim mesma que eu sei o que fazer.

    Então entramos em uma outra sala. Essa um pouco maior que a que eu estava, e mais organizada também. Está tudo muito lindo para algo que vai ser feito em poucos minutos. De repente sinto pena da mulher que organizou tudo isso. Mas logo passa quando lembro do dinheiro que ela vai receber.

    Enquanto caminho ao lado meu pai, com nossos braços cruzados, como se ele fosse um pai emocionado que está levando sua filhinha que ele tanto ama para as os braços de um cara em que ele vai confia-la pelo resto da vida. Sinto olhares sobre mim e consigo ouvir alguns sussurros. Encaro cada uma das sete pessoas que estão ali, todos da família dele. Cinco adultos e duas crianças. Todos me encarando. Não posso julga-los por isso, até aquele momento eles nunca me viram. Não sei se chegaram a ver minhas redes sociais, mas mesmo assim não faz tanta diferença já que raramente posto foto do rosto. Encaro cada um volta e depois volto meu okhar lara a minha frente, onde me interessa mais. Não me sinto desconfortável com olhares, não faz diferença nenhuma lara mim.

    E lá, na minha frente a poucos passos de distância, esta ele. Não me interessa saber sua roupa, se estar bem vestido ou não. Não me interessa encarar cada parte de seu corpo para saber se é exatamente igual as fotos que apareceu nas minhas pesquisas. Não me interessa nada disso.

    Não. Eu olho para o fundo dos seus olhos. Não desvio o olhar até meu pai me entrar a ele sem fazer nenhuma encenação idiota (e graças a deus por isso). Então junto minhas mãos em frente ao corpo e espero. Olho para os papéis que teremos que assinar daqui a pouco, com uma caneta no meio deles. As alianças estão a minha direita, mais perto dele. E a nossa frente está o homem qje irá prosseguir com tudo isso.
Para mim, isso é tudo uma palhaçada. Gostaria de não ter que fazer isso assim. Gostaria de aoenas assinar os papéis e acabar com isso. Dito a mesma que não vai durar muito.

    Para não ter que acompanhar a parte tediosa disso tudo, permito que minha cabeça viaje para longe daqui. Para uma nova casa que eu não conheço. Para uma cidade e este país que não estou familiarizada. Tudo vai ser novo para mim. Mas tudo bem, posso me acostumar com isso. Essa a parte fácil. Nunca tive problemas em me adaptar.

    Quando tudo isso acabar e eu estar casada com esse cara, eu vou ser literalmente deserdada da família. Porque é assim que funciona. Mas não é como se fizesse grande diferença. Claro, foi meu pai arrumou meu emprego (eu tive que ameaçar ele dizendo que todo o dinheiro que precisasse ia ser retirado do seu patrimônio) então ele me arrumou um bom emprego. Melbor do que eu esperava dele, mas foi pelo fato dele não querer que eu precise deme majs pra nada. Mas não me importo, vai ser mais do que suficiente para mim até terminar a faculdade. Eu ficaria receosa para o caso dele pensar que pode usar a sua influência para da mesma forma que me colocou lá, acabar me tirando. Mas ele não vai ser capaz disso. Ele pode até tentar, claro. Mas meu chefe não vai me demitir, porque ej mesma tomei a frente disso e resolvo garantir do meu jeito.

    Volto a prestar atenção na cerimônia no exato momento que preciso dizer "sim". Que droga, não estava prestando atenção. Nem me lembro do momento que viramos um de frente para o outro. Merda, gostaria de ter prestado atenção na maneira como ele falou.

    Então encaro seus olhos novamente, que agora percebo que formato deles são incrivelmente mais bonitos de perto, então abro um sorriso. E não qualquer sorriso.

    O que quer kylian Mbappe seja como pessoa, eu posso ser mil vezes pior que ele. Se tem uma coisa que homens nao suportam, é ver uma mulher utilizando a sua mesma balança moral. Eu sei o que ele fez e está fazendo. Não é tao difícil de presumir que seus lais esperem que eu me case com ele na esperança que eu seja capaz de mudar ele. Porque eu não vou. Tudo o que ele dizer daqui frente a partir do momento que eu tiver uma aliança do meu dedo e seu sobrenome no meu nome me atingir diretamente, eu faço questão de fazer o dobro.

    Vou fazer a vida dele um inferno.

— aceito. — minha voz sai exatamente como esperava. Como uma mulher que sonhou com isso e vai fazer até o impossível para fazer o marido feliz.

    E encarando seus olhos, eu sei que ele não acreditou.

(...)