𝟐𝟏 | 𝐅𝐔𝐒𝐎 𝐇𝐎𝐑𝐀́𝐑𝐈𝐎

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As portas se abrem e eu sigo pelo corredor deserto, mas bem iluminado. Vou seguindo meus passos até conseguir enxergar a escuridão lá de fora pelas janelas.

Quando estou chegando na porta de vidro que dá a área externa do hotel — uma pequena sacada utilizada como ponte para as escadas que levam até as piscinas lá embaixo —, observo alguém ali parado.

Tudo bem, né? Pode ser só um hóspedes querendo respirar que nem eu ou até mesmo um dos funcionários. Mas não. Não é. E eu o reconheço mais rápido do que imaginava.

— Oi — sussurro, passando pela porta de vidro e me aproximando dele.

Raphael Veiga se surpreende com minha presença e vira a cabeça para me encarar, mas sem sair de sua posição. Os antebraços se mantém apoiados no parapeito e os olhos escuros cravados em mim e em meus passos calmos me aproximando dele.

— Sem sono também? — Ele pergunta quase como se fosse uma afirmativa.

— É... — respondo, finalmente ficando ao lado dele. Me encosto naquele parapeito e olho para o céu estrelado acima de nós. Mas o que me chama a atenção é a forma como a respiração de Veiga se prende de repente. — Sem sono.

— O que 'tá te deixando inquieta?

— Não sei — e estou sendo sincera. Realmente não sei o motivo real que me tirou o sono. Mas deve existir um motivo. Ainda oculto para mim. — Talvez o fuso o horário.

— Faz sentido — Veiga assente, desviando o olhar para o céu também. Isso aqui até se encaixaria bem numa cena de novela. Duas pessoas conversando diante de um céu estrelado. Ótima paisagem.

— E você? — Mudo o foco e o encaro. — O que tem tirado seu sono?

Veiga sorri diante de minha pergunta, abafando um suspiro e abaixando a cabeça brevemente antes de me olhar. E aquele olhar queria dizer tanta coisa que sua boca não pôde falar.

— Nada demais — ele tenta dar de ombros, mas eu reparo na sua hesitação.

Veiga tem treino logo pela manhã, não devia estar acordado uma hora dessas. Se está, há alguma coisa o incomodando, e essa tal coisa só pode ser bem séria. Não iria perder o sono por algo tão insignificante.

É óbvio que tem algo o incomodando, ele só não quer me dizer. Será que tem alguma coisa a ver com o fato de seu pai não ter assistido o jogo hoje?

— Isso é meio impossível — ele vira o rosto totalmente em minha direção agora, estranhando meu questionamento. — Para um atleta, insônia é um problema bem sério.

Veiga sorri de canto pelo que digo, um maldito sorriso que acaba de fazer loucuras com meu coração. Ah, não. Não vou perder a postura por causa de um sorriso, vou?

— Não é insônia — ele informa, pensando bem em como dizer ou em como não dizer porque ele claramente não parece disposto a me contar. — Só estou... pensando demais no passado.

— Em que parte do passado?

Ele sorri de novo.

— Você sabe qual.

— Veiga...

— A gente não precisa falar disso se você não quiser — ele me corta pois sabe a real reação que terei com esse assunto. A forma como tentarei a todo custo não sair da defensiva. — Eu sei que não é o seu assunto favorito. E tudo bem. Eu só... só não consigo deixar de pensar no que eu poderia ter feito para que... que o agora fosse diferente.

— Não está satisfeito com o seu agora? — Pergunto meio desacreditada. — Sua família toda reunida num estádio, todos na mesma energia e felicidade te vendo entrar naquele campo onde você estava representando nosso país. Sua carreira está estável, Veiga. Você está realizado no seu time. Rodeado de pessoas que te amam. O que mais poderia querer?

INTERE$$EIRA ━ palmeirasWhere stories live. Discover now