Capítulo 1: Um Bom Lugar Para Se Viver

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   Minha mãe sempre diz: "Charlotte, sempre busque novas experiências". Nunca pensei que, após uma ligação, eu fosse mergulhar de cabeça em uma. Há algumas semanas atrás eu estava no trabalho quando recebi um telefonema do meu avô,  um homem com quem nunca tive muita proximidade, muito por causa da minha mãe. Ele demonstrava na voz estar ofegante, além de começar a falar frases sem sentido, e no final falou para ir ao seu encontro, que ele tinha coisas a me dizer sobre meu pai. Fiquei surpresa dele tocar nesse assunto tão de repente, ele sempre evitou tocar nesse assunto e agora o traz novamente à tona. Isso me trouxe uma série de questionamentos sobre o que se trataria essa questão que se mostrava ser de tanta urgência. Vi essa situação como uma oportunidade de conhecer mais sobre meu pai, e rever meu avô depois de tanto tempo.

   A casa do meu avô fica em uma pequena cidade chamada White River, que acabou se revelando um desafio para encontrar. Aninhada entre densas florestas e às margens de um amplo lago, sua localização remota dificulta a chegada de turistas e visitantes casuais. Se não fosse pela localização exata que minha mãe me forneceu, eu teria me perdido no caminho. Chegando na casa do meu avô, a primeira coisa que chamou minha atenção foi sua estrutura, feita de uma madeira bem robusta e o telhado de ardósia. Eu bati na porta, mas parecia que não tinha ninguém em casa, então após notar que não havia sinal no celular, percebi que só me  restava esperar o meu avô voltar. No entanto, estava com bastante fome, então voltei para o carro e continuei dirigindo pelas ruas da cidade, passando por lojas e casas. O que mais chamou minha atenção foi uma mansão imponente no topo de um morro, visível de toda a cidade. Apesar de minha curiosidade instigada por aquele local, mantive o foco no objetivo imediato. Encontrei uma lanchonete e, ao estacionar o carro, fui atraída pela beleza do lugar. Ao caminhar entre as mesas, escolhi um local vago próximo à janela. Enquanto folheava o cardápio em busca de algo para satisfazer minha fome, uma mulher loira, com longos cabelos que caíam sobre seus ombros, se aproximou de mim com um sorriso caloroso estampado no rosto, falando, “seja bem-vinda ao Raio do Sol, um dos melhores lugares para comer nesta cidade. Me chamo Sofia, o que eu posso ajudar?”. Ela parecia ser muito gentil, então dando uma breve olhada nas opções no cardápio decide escolher uma carne bem passada, talvez valha a pena experimentar. Enquanto esperava minha refeição chegar, pude dar uma olhada melhor no estabelecimento. Realmente era um lugar bem movimentado, havia diversas famílias comendo e sorrindo, parecia ser um lugar acolhedor, onde eu poderia deixar o tempo correr sem pressão. Após terminar de comer, a garçonete apareceu com a conta na mão, então aproveitei para perguntar sobre o paradeiro do meu avô. Após dizer o seu nome Edgar Twain, a garçonete mudou rapidamente de expressão. Com um rosto cabisbaixo, ela disse que ele havia falecido na semana passada. Fiquei surpresa com a notícia, mas para falar a verdade não senti tanto a perda dele por conta de nunca ter tido tanta intimidade. Perguntei a ela o que poderia ter acontecido, então rapidamente ela respondeu: “A polícia disse que ele foi encontrado na floresta com marcas de um animal selvagem. Só de pensar já dá um embrulho no estômago”. Talvez aquilo que ele queria dizer estivesse na sua casa, e como eu ainda estava curiosa do que seria só me resta conseguir a chave de lá, então perguntei a Sofia como chegava na delegacia.

    Ela falou que ficava perto do cais, e que para chegar eu deveria seguir em direção ao lago, e lá encontraria um delegado chamado Trevor que poderia me ajudar. Após agradecer à Sofia, decidi seguir direto para a delegacia. Entrei no meu carro e parti pelas ruas de paralelepípedos da cidade. Ao chegar à delegacia, deparei-me com a simplicidade do local, um espaço um pouco maior que a lanchonete, com algumas paredes descascando. Ao atravessar a porta, aproximei-me do homem que estava na recepção, um velho e barbudo que organizava alguns papeis que estavam na mesa, e após me ver, começou a murmurar. Mesmo um pouco nervosa, falei que meu avô havia morrido recentemente, e que eu tinha vindo atrás das chaves da propriedade dele. Rapidamente ele deu uma gargalhada e com um sarcasmo na voz disse: “Do Edgar? Então quer dizer que o bastardo do filho dele virou pai afinal.” O perguntei se conhecia meu pai, agora em tom de deboche respondeu: “Quem não conhece? O filho exemplar que abandonou o único parente sozinho e nunca mais voltou. Então qual foi a desculpa que ele deu dessa vez para não voltar, mesmo com o pai morto?” Desviei do assunto e perguntei se poderia pegar as chaves, mas como esperado ele negou, dizendo que por ordem do prefeito ninguém poderia se aproximar da casa até entender o que levou ele a ir na floresta aquela noite. Perguntei se havia algum lugar que eu pudesse passar a noite, ele disse que em cima do morro ficava uma mansão antiga que estava aceitando novos hóspedes. Sem muitas opções, a única coisa que eu poderia fazer era perguntar o caminho.

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⏰ Last updated: Mar 01 ⏰

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