2-Saya

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Deito na minha carteira escolar. Minha cabeça está doendo por conta da festa de ontem. O som alto tinha se transformado em pontadas nas têmporas. Tateio o bolso da frente da minha mochila até encontrar meu celular. Sem levantar, abro as reder sociais e deslizo pelas publicações.

Foto de ontem. Foto de ontem. Foto de ontem. Apenas isso que encontro. A próxima publicação me faz paralisar. É uma foto de Pam mostrando a língua ao lado de um garoto que segura uma latinha de cerveja. Um arrepio percorre meu corpo e desligo a tela do celular. Tiro da minha bolsa uma revista de fofoca que sempre carrego comigo e folheio até chegar na última página que li. Debruço-me na revista e tento me concentrar nas palavras a minha frente sem animação. Faz um tempo que não encontro uma boa fofoca.

-Saya! O que está fazendo? - Pam larga a mochila na carteira da fila ao lado e se senta em cima da mesa- Olá meninos.

-Acho que nada vai me animar hoje - Digo esfregando os olhos.

-Nem o fato de hoje ser o primeiro dia de aula?

-Não.

Eu costumava gostar dos primeiros dias de aula. Professores novos, matérias novas, alunos novos. Mas hoje a dor de cabeça deixa tudo chato.

-Ei! Será que vai ter alunos novos?

-Espero que entre algum menino bonito- Pam diz e enrola uma mecha de cabelo escuro na ponta dos dedos.

Reviro os olhos e sorrio. Pam passa a maior parte do tempo pensando em uma maneira de conquistar um garoto. Já não basta o que ela beijou ontem?

-Pam, acho que você deu azar- Matias cutuca seu ombro e aponta para a pessoa que entra- Entrou um garoto feio.

Sigo seu dedo até a pessoa que caminha timidamente para uma carteira vazia do outro lado da sala.

-Não é um garoto- digo para eles.

A garota tem os cabelos curtos e escuros. Ela usa uma jaqueta preta bordada com estrelas brancas nas costas por cima da camiseta sem graça do uniforme. Percebo que ela usa óculos e seus lábios estão pintados com um tom discreto de rosa. Ela se senta e tira o fone de ouvidos da bolsa sem fazer contato visual com ninguém.

-Uma menina?- Matias estoura em risadas com seu amigo e eu lanço um olhar feio para eles- Parece um homenzinho.

-Você diz muita besteira- Me volto para frente para não ter que encarar sua cara de idiota.

-Qual é Saya? Por que está defendendo tanto ela?- Ouço ele se aproximar de mim- Acho que alguém quer dar uns amassos na garota nova.

Dou uma cotovelada em seu peito e encaro seu rosto contorcido de dor com ódio. Aquele garoto é muito idiota mesmo.

-Qual o seu problema? Só acho que você não deveria sair espalhando essas coisas por ai. Você nem conhece a garota nova.

-Está bem. Entendi- Ele esboça um sorrisinho idiota e volta para seu lugar.

Para minha sorte, o sinal toca e todos voltam para o seu lugar. Aconchego-me em cima da minha revista e fecho os olhos. Aquela dor de cabeça está me matando.

*

No intervalo, me sento junto com Pam e Matias. Pam divide um sanduiche de atum comigo enquanto Matias devora um saco de batatinhas. Vejo que a garota nova se senta sozinha em uma mesa no canto do refeitório. Suas pernas e cabeça acompanham a música que está ouvindo em seu fone.

-Poderíamos chama-la para sentar com a gente- Deixo escapar. Esse comentário provavelmente não vai ser bem aceito por eles

Eles seguem meu olhar até encontrar a garota nova. Esses mesmos olhos caem sobre mim logo em seguida carregando criticas.

-Ela é esquisita. Já viu o cabelo dela?- Pam pega uma batatinha que faz barulho em sua boca ao mastigar.

-Que tipo de garota usa o cabelo para cima dos ombros?- Matias diz.

-Parece a Saya na fase estranha que ela teve. Achava essas coisas bonitas e queria fazer igual- ela aponta uma batatinha coberta de sal para mim- Tem sorte que eu evitei essa humilhação.

Esboço meu melhor sorriso. Acho que eles tem razão. Eu deveria ficar quieta. Talvez ela seja a maior esquisita do mundo e eles estejam fazendo o favor de me manter longe dela. Mas... há algo no jeito dela que...

-Você precisa experimentar isso!

Pam coloca batatinha dentro do meu sanduiche de atum e me obriga a experimentar. A mistura não fica tão ruim. Mas é tão salgada que me faz fazer careta e rir com eles, me fazendo esquecer o que eu estava pensando.

Os tons de rosa do meu arco-íris Onde histórias criam vida. Descubra agora