33. Precisamos seguir...

88 20 1
                                    

Nicole entra na cozinha, se aproxima de mim me abraça e encosta a cabeça nas minhas costas

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Nicole entra na cozinha, se aproxima de mim me abraça e encosta a cabeça nas minhas costas.

— Me perdoa, meu amor... Eu te amo, vem, senta aqui, deixa que eu faço esse chá.

— Não tenho do que te perdoar amor, porque levantou? Eu já ia levar o chá e uns biscoitos para vocês...

— Deixa que eu termino. — Ela diz levando a mão por cima da minha, assim que terminamos de encher a última xícara, ela pega o pote com os biscoitos amanteigados, coloca na bandeja e retira a caneca da minha irmã, deixa sobre a pia e pega a bandeja. — Vem, vamos lanchar na sala, Maitê já dormiu, depois você coloca ela na cama dela.

— Então vamos, aconteceu alguma coisa?   — Pergunto sorrindo enquanto andamos, assim que sentamos, Nicole se ajeita ficando de frente para mim.

— Quero que me perdoe, somos um casal e eu não não dividi o peso de tudo o que aconteceu com você, te deixei carregando tudo sozinho, e isso não está certo, o Noah é tão meu filho quanto seu, você também está sofrendo e não é certo eu deixar você fazer tudo sozinho... — Ela acaricia meu rosto, eu a interrompo quando lágrimas começam a escorrer pelo rosto dela.

— Ei, está tudo bem, claro que estou sofrendo e sentindo uma dor absurda, mas você, além da dor de ter perdido nosso anjinho, também tem a questão física, portanto precisa de cuidados e atenção, e eu sou seu marido, é minha função cuidar de você, e eu gosto de fazer isso.

— Eu sei que você gosta de cuidar de mim, mas preciso que você me deixe cuidar de você, olha só, quase não te vi chorar esses dias, além disso, você está com febre, tossindo... — Ela diz e levanta indo até a cozinha, quando volta está com um antitérmico e um copo de água. — Toma aqui...

— Estou bem amor, acho que peguei um resfriado por conta da chuva, mas está tudo bem.

— Chuva? — Ela franze a sobrancelha me questionando e eu respiro fundo.

— Após o enterro do Noah, eu estava atordoado e permaneci no cemitério, me parecia errado ir embora e deixá-lo sozinho lá, começou a chover e não sei quanto tempo fiquei na chuva, até que sua mãe me ligou e eu vim para casa tomar um banho. Desde aquele dia estou resfriado, mas estou tomando antitérmico e...

— E claramente não funcionou, além da gripe que você não curou, tem todo o estresse desses dias. Toma esse chá, vou pegar o termômetro.

— Não precisa amor, vou tomar o chá e com o remédio vou melhorar.

Nicole nem me dá bola, vai a cozinha e logo volta com o termômetro, tomo o chá enquanto ela verifica minha temperatura.

— Vou ligar para minha mãe vir ficar com Maitê e nós dois vamos ao hospital, você está com quase trinta e oito de febre, você tomou chuva, não se cuidou e não está dando atenção, isso já pode estar virando uma pneumonia.

— Amor, você está de repouso, não precisa.

— Precisa sim, se você não quer ir por você, vá por mim e por Maitê, nós não vamos aguentar se algo te acontecer, por favor... — Ela diz já voltando a chorar e eu a abraço.

— Tudo bem, eu vou.

Ela me dá um beijo e liga para a mãe dela, cerca de quarenta minutos depois estamos no hospital, ela não deixou nem que eu dirigisse e viemos de carro de aplicativo. Temos que esperar algum tempo, mas assim que sou atendido, o médico pede que realize um raio-x e como Nicole disse, estou com um início de pneumonia, mas ainda dá para tratar e acompanhar em casa. Enquanto voltamos para casa, Nicole já pede os remédios e assim que chegamos ela arruma o sofá que é bem grande e reclinável.

— Vem, coloca esse short e essa camiseta e deita aqui, Maitê está dormindo em nossa cama, minha mãe vai dormir no quarto dela e nós dois dormiremos aqui.

— Não gosto de dormir de camiseta, não é melhor você dormir com Maitê, no quarto é mais confortável e...

— Não gosta, mas precisa, não pode pegar friagem, e não vou ficar longe de você, está tudo bem, eu estou bem. — Trocamos de roupa e vamos deitar, Nicole começa a me acariciar. — Eu te amo, e você cuida de mim e eu cuido de você, combinado?

— Combinado.

— Minha intenção era voltarmos na próxima semana ao trabalho, nem que fosse só meio período, não há razão para ficar de licença maternidade se não temos nosso bebê para cuidar, mas você precisa se cuidar também, então vamos ficar em casa até o final do meu resguardo, e nos próximos dias, nossos funcionários terão que dar conta das empresas sem nós.

— Você não acha que precisa de mais tempo?

— Não, precisamos seguir Noah, e só retomando nossa rotina vamos conseguir conviver com essa dor, mas tem mais uma coisa, eu não tive coragem de entrar no quarto do Noah, não consigo e...

— Você quer se mudar?

— Sei que parece horrível, nossa história como família começou aqui e vivemos muitos momentos felizes aqui, só que planejamos muita coisa com o Noah envolvendo esse apartamento e...

— Está tudo bem Nick, eu também não quero continuar aqui, mas confesso que não sabia como falar disso com você, não sei como falar do nosso filho e de tudo o que aconteceu, não sei como agir, e nem o que responder quando as pessoas me dão os pêsames.

Ela me abraça, e sussurra.

— Eu sei exatamente o que é isso, porque estou sentindo a mesma coisa, e olha que nem falei com ninguém ainda, só os médicos e enfermeiros. — Ela então senta e me olhando diz. — Sei que vamos chorar muito ainda, e que vamos sempre sentir a perda do nosso Noah, mas podemos combinar de não falar dele com os outros? Tudo bem se você precisar desabafar comigo, eu entendo, mas prefiro guardá-lo em meu coração, por isso, se eu não tocar muito no nome dele, não ache que eu o esqueci, pelo contrário, é só um jeito de não focar na perda e guardar na memória os momentos que passamos o esperando e comemorando a chegada dele.

— Eu entendo amor, pois quero fazer o mesmo. Está completando sete dias, você quer mandar rezar uma missa ou algo do tipo? — Pergunto pois nunca fomos muito religiosos, mas sei que algumas pessoas fazem isso.

— Não precisa, vamos ficar quietinhos em casa.

— Está bem. E logo vamos procurar uma casa e nos mudar. Agora deita aqui, você já esforçou demais hoje.

Nos deitamos e como de costume ela me acaricia, enquanto eu faço o mesmo com ela, e instantaneamente o peso de tudo o que aconteceu me toma e eu começo a chorar, não consigo controlar, Nicole apenas continua me acariciando, e dizendo que está tudo bem, que eu preciso desabafar e colocar minha dor para fora, percebo que ela também chora, permanecemos assim, até que eu adormeço em meio às lágrimas.

Pela manhã, Nicole não me deixa fazer o café, diz que fará devagar e apenas consigo convencê-la a me deixar sentar na cozinha. Tomamos café em família e já combinamos que na próxima semana, Maitê voltará para a escola.

Assim os dias vão passando, nossa rotina é meio lenta, já que Nicole me faz ficar a maior parte do tempo deitado e não me deixa fazer nada, apesar de eu dizer que é ela quem deveria estar de repouso, o máximo que consigo é faze-la deitar comigo. Branca tem passado pela manhã pegar Maitê e depois a busca na escola e trás em casa no fim do dia, graças a Deus, apesar da dor pela falta do nosso bebê, nossa saúde física está se restabelecendo.

Hoje completa quarenta dias que tudo aconteceu, me recuperei completamente da pneumonia e Nicole também foi liberada pelo médico, estamos enfim indo trabalhar na empresa, durante esse tempo, apenas assinamos alguns documentos e resolvemos algumas coisas de casa. Já encontramos uma casa que gostamos e estamos negociando os últimos detalhes da compra. Estou dirigindo e noto que ela está um pouco tensa, então acaricio sua mão, mas permanecemos em silêncio, ao estacionar, Nicole respira fundo e diz...

Depois da ChuvaWhere stories live. Discover now