3° Sonhos, Anjos e Missões Secretas

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Agatha


Não sei quanto tempo fiquei sozinha naquele espaço. Observei cada detalhe, cada quadro minuciosamente. Eles eram delicados e tinham uma riqueza de detalhes surpreendentes. No canto da parede tinha um cavalete coberto por um tecido branco, curiosa vou até lá e tiro o tecido que cobre a tela. Perco o meu fôlego quando olho para o trabalho ainda inacabado, mas mesmo assim é possível perceber o esboço de um rosto masculino, mas o que mais me chamou atenção foram os olhos, os olhos verdes fielmente copiados ali. Tão quentes e enigmáticos quanto os do seu modelo. Não contendo a emoção eu passo os dedos por sobre a pintura, sinto o relevo da tinta e os meus pelos dos braços arrepiam.

É estranho, muito estranho você olhar para as pessoas e objetos e não conseguir lembrar-se de nada. Olhar para as suas coisas e não lembrar quando ou como você as adquiriu. E essas coisas machucam sem precedentes.

Saio do estúdio e vou para o quarto da Tifanny que já estava sentada no chão ao lado da casinha de bonecas.

- Você demorou mamãe, já ia te buscar, o papai passou por aqui e disse que você estava no estúdio olhando os quadros.

- Me distrai bonequinha, tinha tantas coisas lindas para ver, que acabei perdendo a noção do tempo. - sorrio para ela e faço carinho na sua bochecha. - Estão, vai me mostrar as suas bonecas? - ela me puxa pelas mãos e me leva até as pranchas na parede e me indica a sua coleção.

- Eu já peguei as minhas, agora escolha as suas.

Na prancha tinha uma grande variedade de bonecas, cada uma mais linda que a outra. Duas em especial chamaram a minha atenção. São de porcelana, lindas e delicadas.

- Mamãe, acho que você não esqueceu de como se brinca com bonecas. - ela me olha com curiosidade. - Eu disse que você ia lembrar quando as visse. Lembrou-se de mais alguma coisa?

- Não meu amor...

- Não se esforce mamãe, lembra o que o médico disse? As lembranças vão voltando naturalmente. - ela falou com uma seriedade incomum para uma criança tão pequena. - E eu vou ajudar você a lembrar.

- Obrigada bonequinha.

Tifanny e eu brincamos a manhã inteira. Conversando com a minha filha descobri várias coisas a respeito dela e consequentemente sobre mim também. Descobrir que brincávamos de bonecas quase todos os dias. Mas que a sua atividade favorita era ir ao jardim zoológico. Também íamos ao parque da cidade e quando o dia estava quente passávamos a tarde brincando na piscina.

Essas revelações serviram para aliviar um pouco aquele aperto no meu coração. Eu me julgava uma péssima mãe, mas depois de tudo o que a Tifanny me contou, descobrir que não fui uma mãe ausente me deu algumas esperanças sobre a minha pessoa.

Escutamos uma pequena batida rítmica na porta, como uma espécie de código. E a Tifanny grita.

- Entra vovó.

A porta foi aberta delicadamente e a mãe do Niko entra no quarto, ela olha para nós duas e abre um lindo sorriso.

- Alguns hábitos estão tão entranhados que mesmo sem memória fazemos exatamente iguais. - ela aponta para as bonecas em minhas mãos. - Você está segurando justamente as suas bonecas favoritas, entre dezenas você escolheu as suas duas meninas. - ela se aproxima de nós duas e se abaixa ao meu lado. - Elas são especiais.

- São? - pergunto confusa.

- Sim. - ela aponta para a boneca de cabelos castanhos e vestida de branco. - Essa é a Anya e a outra de cabelo loiro e de vestido vermelho é a Kisha. Tifanny herdou essas bonecas, elas eram suas.

Lembranças EsquecidasWhere stories live. Discover now