Capitulo 35

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Saí de casa hoje com uma forte sensação de estar esquecendo algo, mas apenas relevei. Afinal quantas milhares de vezes isso não aconteceu antes e não era nada?! Infelizmente, dessa vez eu não podia estar mais errada.

No momento em que coloquei o pé na calçada do prédio, a essa altura já muito atrasada pra escola, o tempo, que antes parecia com o de filmes de final feliz, fechou completamente. Confiante de que teria um guarda-chuva em minha mochila, deixei pra lá e fui caminhando até a chuva me pegar e eu descobrir que alguém (provavelmente eu mesma) tinha tirado a droga do guarda chuva do seu devido lugar, vulgo, minha mochila.

Como a vida não é tão maravilhosa, as coisas não param por aí. Nesse exato momento estou em um ônibus lotado, às 7:15 da manhã indo para a escola, em pé, encharcada e humilhada por ter esquecido o dinheiro da passagem e alguém ter pagado pra mim, porque sim, eu também esqueci o dinheiro. E a apostila do colégio. E meu celular.

Não faço a menor ideia de como estou sobrevivendo ainda a essa manhã. Sei nem se até o final do dia eu não vou parar –novamente- em um hospital com a perna quebrada!

O ônibus, milagrosamente, para no meu ponto e eu corro algumas casas até chegar à escola. A cara da tia da portaria não é nada boa. Ela está com o cabelo loiro que parece que vai cair em grandes mechas, como se fosse um elástico desgastado. Mastiga um chiclete cor de rosa, que, infelizmente, é visível. Seu batom vermelho em nada combina com sua sombra azul escuro. Mas mesmo diante dessa visão tão desanimadora, e com todo o universo conspirando contra mim, eu sorrio.

- Bom dia dona Teresa! – Ela olha pra mim e começa a mastigar. Fico em pé na frente do portão, embaixo do temporal que resolveu cair no Rio de Janeiro. "Rebeca, nunca tire guarda-chuva e casaco da sua mochila, justo no dia que você não tiver é que vai chover!", a voz da minha mãe ecoa pela minha cabeça me obrigando a revirar os olhos.

- Ah, a mocinha atrasadinha ainda acha que pode revirar os olhos pra mim? – Ela abre um sorriso diabólico, só falta aquela grande gargalhada que as bruxas dão em filmes de terror.

- Não dona Teresa! Desculpe-me – Me apresso em falar, mas a chuva piora, me fazendo começar a respirar rápido e tremer de frio. – Eu não revirei os olhos para a senhora, mas para mim mesma!

- Se fosse assim, revira-se em frente do espelho. Terá muito tempo de fazer isso nessa manhã já que você pode voltar agora pra casa!- Ela entra pro colégio me deixando trancada do lado de fora. Sinto-me um daqueles cachorros abandonados, sem comida, teto e alguém para acolher.

O pior de tudo é não ter dinheiro pra voltar. E eu aposto que no ônibus eu não vou encontrar mais ninguém para pagar minha passagem, isso já aconteceu uma vez nesse dia – não sei como ainda, mas aconteceu -. Vou andando até a frente de uma casa cheia de arvores. Bom, pelo menos lá a chuva não está tão forte. E eu corro o risco de um raio cair em cima de mim. Quem sabe esse não é a chave de ouro do meu dia?

Escuto alguns passos atrás de mim, mas resolvo não tirar minha cabeça do meio das pernas. Sem celular, sem dinheiro, sem guarda-chuva. Só falta mesmo eu ser assaltada e me tirarem o pouco que me resta – minha dignidade.

- Isso é um assalto, passa tudo! – Uma voz grossa grita ao meu lado e eu tomo um grande susto. Minha visão embaçada pela chuva em nada atrapalha para eu reconhecer o rosto brincalhão do Brian. Eu só não o reconheceria se eu fosse completamente cega, e mesmo assim eu ainda saberia quando ele estivesse ao meu lado.

Como se faz parar o coração parar de bater de forma tão acelerada?

- Brian, sai daqui. Hoje não é um dia bom. –Digo por fim, voltando a colocar minha cabeça entre as pernas. Sinto sua mão pousar em meu joelho e um calafrio percorre meu corpo me fazendo tremer. Sorte que está chovendo e eu estou quase morrendo de frio.

Just a Year - (COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora