Por sorte, a mesa era grande o suficiente e as crianças, filhos da Mel, ficariam na casa da vizinha até que retornassem, pois a mulher imaginou que naquela noite seria melhor ter apenas a companhia dos adultos. Ouviram a porta ser destrancada e as risadas masculinas que vinham abafadas do corredor, juntaram-se as delas.

— Oi, meu amor — John aproximou-se da esposa e ela o recebeu com um beijo, cumprimentando também Lemar com um abraço assim que ele teve a mesma recepção de Melinda.

— O cheiro está delicioso — comentou o amigo, olhando diretamente para a cozinha.

— Arrisquei fazer uma lasanha hoje — Melinda abraçou-o, pousando o queixo no peito do marido.

Você arriscou? — Daiana ergueu uma sobrancelha com as mãos na cintura e as duas riram.

Os quatro sabiam muito bem que da última vez que Melinda se oferecera para fazer o jantar da noite dos amigos, precisaram pedir uma pizza porque o que foi preparado tornou-se um grande pedaço de carvão. Não que ela cozinhasse mal, muito pelo contrário, mas aconteceu de naquele dia estar distraída demais, queimou a comida e o trio nunca mais a deixou esquecer do evento.

— Eu vou só tomar um banho — o Walker apontou para o corredor, caminhando naquela direção — e já volto. — Deu dois tapinhas no ombro do amigo e disse: — Fica a vontade.

— Precisam de alguma coisa? — Lemar, sempre muito prestativo, se ofereceu para ajudar em qualquer tarefa que as duas precisassem, pois pareciam ter feito bastante antes de eles chegarem.

— Que você tome um banho — Melinda não resistiu em provocar, rindo alto com a indignação e vergonha estampados na cara do marido.

— Eu tomei banho hoje — respondeu deixando os ombros caírem, desanimado. — Duas vezes. Antes e depois do trabalho.

— Eu sei, meu amor — levemente arrependida, deu-lhe um beijo na bochecha antes de se afastar. — Pode terminar de arrumar a mesa? Daina ainda precisa se arrumar.

— Claro — caminhou bem disposto até a cozinha, deixando-as sozinhas.

— Eu não preciso e arrumar — rebateu de cenho franzido quando restavam apenas elas.

— Claro que precisa — retrucou.

— É a minha casa — apontou o óbvio. — Não faz sentido me arrumar para ficar na minha casa.

Melinda revirou os olhos para a sua fala.

— Os homens vão estar bem bonitos em camisa social e eu não vou ser a única de vestido e salto — agarrou-a pelos ombros e começou a empurra-la na direção do quarto que sabia ser o do casal. — E se reclamar mais, eu ainda te faço uma maquiagem.

....

Não foi uma tarefa fácil, mas Melinda estava radiante por conseguir ter feito com que Daiana vestisse o que ela queria, apesar de a maquiagem ter sido fortemente rejeitada, estava muito bonita. Era suficiente aos seus olhos, contanto que estivessem todos adequados para a ocasião. Ao seu ver, na dúvida do que vestir, vista-se bem. Sempre. É preferível receber olhares estranhos por estar bonita demais, que tortos por estar desleixada.

Era por volta das nove horas da noite quando o interfone tocou e quem atendeu foi John, que ansioso começava a achar que os outros dois convidados não viriam. A satisfação e expectativa em seu rosto causavam em Daiana um desconforto que a vinha incomodando, ainda que ela não soubesse identificar exatamente qual a razão. Afinal, por que ver seu marido contente e querendo aproximar-se de pessoas que já foram próximas dela era tão incômodo?

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱𝚞𝚌𝚔𝚢 𝙱𝚊𝚛𝚗𝚎𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora