79- Laços Paternos

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Gregory dispensou o meu comentário com um menear de mãos, mas depois pareceu refletir _bem, o meu garoto certamente não teve bons genes para herdar, tomara que tenha ficado bem, mas agora irei poder treiná-lo.

Gregory era um excelente guerreiro, o seu filho teria muito a aprender com ele, e eu com certeza me divertiria em ver meu amigo tentando fazer o papel de pai com um menino cabeça quente, pois desde que o garoto era bem pequeno ouço meu companheiro comentar sobre como o temperamento do mais novo é uma cópia fiel da azeda Cecília Metz.

Quando chegamos na cidade dos Guardiões nos deparamos com as ruas da cidade bem vazias, e ao longe, na direção da praça de julgamentos conseguiríamos ver com clareza luzes e ouvir o toque de uma música vibrante. _Qual será o motivo para essa festa? _falei genuinamente curioso.

Gregory deu de ombros _não sei, certamente ainda não está na época da colheita nas vilas mortais, o inverno mal acabou por aqui.

Continuamos nossa caminhada em direção à praça de julgamentos, intrigados com a agitação que se desenrolava à nossa frente. Enquanto nos aproximávamos, ainda a alguma distância da festa, nossos olhares se voltaram para dois adolescentes sentados em um banco isolado. Ali, eles compartilhavam um momento íntimo, em meio a um beijo apaixonado, típico da juventude repleta de hormônios e inquietação, explorando as complexidades dos sentimentos, algo que sempre fez parte da experiência humana.

_Ei _falou Gregory de repente _aquele é o Tyler! _ A voz embargada do orgulho que os pais costumam ter ao ver que seus filhos homens estão crescendo e conhecendo os prazeres do mundo.

Eu teria sugerido que Gregory esperasse para conversar com seu filho, permitindo que ele aproveitasse seu momento apaixonado com a garota ao seu lado. No entanto, Gregory estava tão ansioso para ver o filho que, desconsiderando o bom senso, ele se encaminhou em direção aos jovens que estavam se beijando. Eu o segui, achando a situação bastante divertida.

À medida que nos aproximávamos a alguns metros do casal, uma confusão se apoderou de mim. Seria possível que eu estivesse vendo coisas? O garoto, filho de Gregory, estava beijando uma garota com a mesma silhueta esguia que eu lembrava e com os mesmos cabelos prateados da pessoa por quem me apaixonei. Gregory também não deixou de notar a estranheza da situação. Sua voz, trêmula de surpresa, pronunciou o nome que sempre assombraria meus sonhos, tanto os bons quanto os pesadelos.

_Ágata? ­­­_ disse o homem, com a voz meio embargada.

Ao ouvirem uma voz que os interrompeu, o casal separou-se, interrompendo o beijo, e nos olhou com olhos brilhantes e assustados. Quando observei as feições da garota, por um breve momento, meu senso de realidade pareceu vacilar. Seu rosto, a expressão delineada em suas sobrancelhas, os lábios carnudos e o queixo delicado eram todos idênticos aos de Ágata. Antes que eu perdesse o tênue fio de sanidade que me mantinha de pé, fixei meu olhar em seus olhos. Ágata sempre teve olhos de tempestade, um azul acinzentado que, aos meus olhos, sempre revelou um pouco do espírito rebelde da mulher que eu amava. Porém, a garota diante de mim tinha olhos azuis-marinhos plácidos, serenos e límpidos, os mesmos olhos que eu via refletidos no espelho. As linhas delicadas de seu nariz também se assemelhavam muito às da minha irmã, demonstrando que a menina também herdara traços da tia.

Gregory não pareceu enxergar com a mesma clareza essas visíveis diferenças, o homem continuava olhando a garota como a um fantasma. O filho de Gregory o olhava de olhos estreitados, depois de alguns segundos o reconheceu.

_Pai?_ falou o garoto suavemente, sua voz denunciando uma certa emoção. Gregory abriu os braços para o filho, que se levantou e foi ao encontro do abraço do pai. A menina permaneceu sentada no banco, mas agora percebeu minha presença. Assim que me viu, fixou seus olhos em mim, avaliando e curiosos. Após alguns segundos, uma compreensão a atingiu, e ela passou a me olhar com olhos nada receptivos, carregados de uma raiva mal contida... não, não pode ser! Era o mantra que repeti em minha cabeça.

A Ordem Da LuaWhere stories live. Discover now