Ravi segue para a sua sala e eu guardo minhas coisas em minha mesa. Enquanto desligo o notebook, duas mulheres se aproximam, provavelmente duas secretárias.

— Olá, tudo bem? — A mulher de cabelos loiros bem presos em um coque inicia. — Sou a Rachel e essa é Cassandra — a morena de cabelos ondulados sorri brevemente.

— Olá, prazer, Sou Jasmine. — Tento ser simpática, mas sinto um ar estranho pairando sobre mim.

— Viemos te convidar para a nossa reunião na quinta, acontece no terraço. — Ela faz um sinal apontando para cima. — Ali falamos dos nossos chefes, das loucuras que inventam e também... — Seu olhar desce por todo meu corpo. — Sobre como uma secretária deve se portar e vestir, acho que pode ser bem interessante para você, visto que você está um pouco fora das normas. — Um sorrisinho surge de sua boca, mas me sinto humilhada e não quero participar disso — Apareça lá, é estritamente necessário para sobreviver aqui.

Elas se despedem e entram na cabine do elevador enquanto fico totalmente embasbacada com essa situação. É sério que elas falaram isso da minha roupa?

— Jasmine? — Ouço a voz do Ravi me puxar de volta para Terra.

— Oi? Vamos?

— Posso ser sincero? — Seu tom é calmo e baixo.

— Claro. — Sorrio mesmo sabendo que ele não vai ver.

— Não quero ser o chefe mandão, mas se puder, não vá nessa reunião, não a escute, não existe uma roupa certa, ou um penteado certo, não é uma exigência da empresa, essas mulheres podem ser bem malucas, querendo um padrão para que não se sintam inferiores. Vista-se como você quiser e só vá se você quiser. Elas inventam coisas como se fosse norma da empresa, mas não é. E outra, você não é secretária, você é assistente pessoal, não tem ligação com a empresa, entende?

— Sim, entendo. — Respiro aliviada ao pensar que não preciso ir nesse negócio bobo. — Você me tirou um peso dos ombros, já estava pensando o que tinha de errado com a minha roupa. — Resmungo enquanto chamo o elevador.

— Fique tranquila e use o que quiser, eu não posso ver, só sei que você está com… um blazer preto?

— Enxerga cores? — Pergunto enquanto entramos na cabine.

— Bem pouco, só cores fortes, mas logo não sei se vou conseguir ver, mesmo estabilizada, pode sempre diminuir.

— Entendo... — Suspiro um pouco triste pela situação dele.

— Esquece isso, vamos comer uma macarronada? Cheia de molho, como você disse. — Sorri me fazendo sorrir também.

— Vamos.

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Chloe (Mãe do Ravi)

— Bom dia, Anny! Cadê o desnaturado do meu filho? — Entro no hall, deixando minha bolsa no sofá.

— Dona Chloe! Voltou de viagem? — Anny me abraça. — Seu filho está no quarto, Jasmine está com ele.

— E como estão? Se dão bem? Me conte tudo! — Digo rindo.

— Olha, se dão muito bem, Kristine estava até comentando que pode ter uma paixonite aí, vivem grudados.

— Sério? Quero ver isso com meus próprios olhos! — Digo num ímpeto. — Ravi nunca se interessou por alguém.

— Suba e veja! — Anny instiga e eu sigo para o quarto de Ravi.

Entro com cuidado e me encolho, no vão da porta do closet e observo atenta. Ali está Jasmine com uma mala aberta e o tablet na mão. Ouço o barulho do chuveiro, me ajeito um pouco e consigo ver que a porta do banheiro está semi aberta. Estão nesse nível??

— Ravi, o que você acha de alugarmos uma van? O pessoal decidiu praticamente o mesmo horário de voo. — Ela pergunta enquanto digita algo no tablet.

— Pode ser, mas vamos alugar um carro para nós? — Ouço Ravi responder.

— Sim, você não gosta de se misturar. — Ouço sua risada e prendo o riso.

— Eu, né? É você que é antissocial. — Responde com a voz abafada pelo chuveiro.

— Hm… Outra coisa, você disse querer aumentar a nossa estadia.

— Sim, você conhece Nova York? — Meu filho pergunta.

— Nunca saí de Chicago. Quantos dias a mais?

— Três, voltamos na quinta, o que acha? — Ravi desliga o chuveiro.

— Por mim tudo bem, posso confirmar?

— Pode. — Ravi surge com uma toalha na cintura e me seguro para não brigar com ele. Como ele pôde fazer isso??!

— Prontinho, agora vamos arrumar sua mala. — Nossa, ela parece bem acostumada, já. — Argh! Seu cabelo tá pingando no quarto todo, Ravi!

Jasmine some e surge com uma toalha, se aproxima e começa a secar os cabelos dele. Eles estão bem íntimos mesmo.

— Seu cabelo está todo embaraçado, cadê seu pente?

— Não sei, é você que guarda. — Ele dá de ombros como um menino de dez anos e novamente seguro a risada.

— Você nunca sabe. — Ela reclama entrando no banheiro enquanto ele ri procura uma calça nas estantes. Separa um jeans e veste.

— Acho que você andou escondendo. — Jasmine volta e começa a pentear os cabelos dele.

Mas o que é isso? Ravi nunca agiu assim.

— Será? — Ele se vira enquanto ela ajeita os cabelos dele.

— Com certeza. — Jasmine fica pequena perto dele, e com muito esforço termina o serviço. — Pronto, agora termina de secar para não sair com roupas molhadas.

— Você é muito mandona. — Ravi reclama e ela ri.

— Obrigada, você também. — Devolve o tom.

— Mas o que... — Jasmine o interrompe.

— O que você quer levar na mala? — Ela ri da careta que ele faz.

— Hm… pelo menos dois conjuntos de ternos completos, dois pares de sapatos, duas calças jeans, duas de moletom, quatro camisetas e duas regatas. — Ravi pontua e acho engraçado como ela fica surpresa.

— Gostei de ver, uma quantidade bem adequada. Os homens normalmente levam o mínimo possível. — Jasmine ri. — Terno azul-escuro e preto?

— Prefiro evitar surpresas. E sim, azul e preto.

— Calça jeans de sarja escura e moletom cinza?

— Sim, senhorita.

— Ok.

A jovem começa a organizar a mala enquanto ficam se provocando e rindo. É tão novo perceber o meu Ravi assim, que meu coração se aperta ao pensar que ele estava entrando num poço de tristeza.

Me afasto da porta e saio do quarto, desço as escadas e sigo até a cozinha. Noto Anny e Kristinne.

— É o meu Ravi, cresceu e eles estão muito bem! — Sorrio tranquilamente  enquanto olho para elas.

— Jasmine é uma boa pessoa, faz muito bem a ele. — Anny diz.

— E ele a ela. — Kristine acrescenta.








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