A primeira vez que Megumi realmente notou a presença da mulher, a criança tinha por volta dos quatro anos. Keiko era diferente das mulheres que Toji, seu pai, trazia para casa: forte, alta, uma enorme cicatriz enfeitando o lado direito de sua face, truculenta. Possuía voz firme e reconfortante, do tipo que fazia o menino se esgueirar para escutar. Ambos não conversavam frequentemente, mantendo apenas o bom convívio e as típicas perguntas usadas quando se vê alguém. "E ai, garoto" e "hm..." eram usuais entre os dois.
Os dias se tornaram semanas e a presença de Keiko se fez ainda mais presente. Megumi acordava já na esperança de encontrar a mulher na beira do fogão, na frigideira ovos queimados e na mão esquerda uma bituca de cigarro. Eram raros as manhãs em que a loira acordava tarde e, mesmo que não fosse uma cozinheira de mão cheia, sempre inventava de deixar o café da manhã do menino pronto. Segundo ela, não fazia sentido dormir com o pai e não cuidar do filho.
A criança não entendia as piadas de duplo sentido que saiam despercebidas pela boca marcada de batom vermelho da mais velha, que sempre soltava uma risadinha e desconversava. Na verdade, na maior parte das frases trocadas, Megumi não entendia o que Keiko dizia, e ela não tinha tempo suficiente para explicá-las. A rotina era a mesma: Megumi acordava, Keiko o alimentava e depois saia pela mesma porta que Toji partira pela manhã.
Em seu aniversário de seis anos, Megumi cometeu o erro de chamar Keiko de 'mãe'. Ele ainda lembra vividamente da memória que sempre rondava sua mente nas noites escuras: Keiko o olhara chocada, enquanto Toji possuía uma expressão sombria marcada na face. Os adultos se entreolharam, o cigarro já esquecido entre os dedos esguios da mulher. Toji agarrou a outra e a levou para o quarto, onde os dois discutiram durante boa parte da noite. Megumi passou seu aniversário sem bolo e sem comemoração.
Depois daquele incidente, Keiko sumiu durante três meses. Não era como se Megumi esperasse menos do que isso, já que Toji deixara claro que a mulher e criança não poderiam se apegar nunca. Agora, ao invés de encontrar a loira fumando pela cozinha enquanto deixava os ovos queimarem, o menino via diferentes moças, muito mais novas que ela, entrando e saindo do quarto de seu pai. Megumi o odiou todos os dias que se seguiram.
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(EM BREVE) BLOODY HOUSE ! TOJI FUSHIGURO
Fanfiction𝗕𝗛. / Havia um grande abismo entre Keiko e a vinda de Megumi ao mundo. Entretanto, tal fato não anulava as horas em que a mulher cuidara da criança enquanto Toji não passava de um traste em busca da sobrevivência ao rejeitar o nome Zenin e o perig...