Capítulo II - Lizbeth

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"Veja perante a ti a calmaria e a tempestade. O sorriso se transforma em lágrimas diante de teus olhos, ora cedo ou tarde."

À medida que a minha silhueta brilhante começou a tomar forma, eu senti uma estranha sensação de familiaridade. Os fios vermelhos, como as chamas de fogo que antes me consumiam, agora revelavam ser meus próprios cabelos. A compreensão atingiu-me como um raio, e lembranças de outra vida inundaram minha mente.
Nesta outra vida, eu era conhecida como Lizbeth, uma jovem inglesa que vivia na Inglaterra do século XVIII. Eu me lembrei dos dias de minha juventude, frequentando a escola e vivenciando as emoções tumultuadas das paixões adolescentes. Houve um garoto em particular que conquistou meu coração, mas, infelizmente, ele já estava comprometido.
A minha dor de cabeça só foi intensificada pela presença de uma garota chamada Amelia, que parecia ter prazer em me atormentar. Sem o meu conhecimento, Amelia também estava apaixonada pelo mesmo garoto. Nós nos tornamos rivais, travando uma batalha silenciosa pelo afeto dele.
Dia após dia, eu suportei insultos e intimidações de Amelia. A dor do amor não correspondido e os ataques constantes afetaram meu espírito. Eu ansiava por me retirar para a segurança de minha casa, para escapar do mundo cruel da escola. Mas meus pais, rígidos em suas crenças sobre educação, insistiram que eu continuasse os estudos.
Num dia fatídico, a verdade sobre a infidelidade do menino caiu sobre mim. Eu descobri meu engano, seu coração dividido entre os dois relacionamentos. A revelação me devastou, destruindo a frágil esperança à qual eu me apegava. Foi uma traição que me atingiu profundamente, deixando-me ferida e quebrada.
Como se sentisse a minha vulnerabilidade, Amelia aproveitou a oportunidade para intensificar seus ataques. Os golpes antes sutis se transformaram em ataques violentos, tanto físicos quanto emocionais. Eu me senti como um pássaro ferido, preso numa gaiola sem meios de escapar. O tormento parecia interminável e então comecei a me perder na escuridão que me cercava.
Mas em meio à dor e ao desespero, encontrei consolo na escrita. Tornou-se meu refúgio, um santuário onde eu poderia abrir meu coração e alma. Através da palavra escrita, eu descobri uma força que nunca soube que possuía. Minhas palavras se tornaram um escudo, protegendo-me do mundo cruel lá fora.

À medida que continuava a lembrar de minha vida passada, os fios de minha existência lentamente se entrelaçaram, formando uma imagem mais clara. Eu quase podia sentir o peso das emoções de Lizbeth, o peso do seu coração. E embora já tivesse sido consumida pela escuridão, eu agora via um brilho de luz, uma centelha de esperança. Como se Lizbeth fosse a redenção que eu buscava para Jesebel.
Eu sabia que minha jornada estava longe de terminar. Eu teria que enfrentar os demônios do meu passado, desvendar os mistérios que me prendiam ao limbo. Com cada memória que ressurgia, ficava mais perto de compreender meu propósito. E ao embarcar nessa busca pela redenção, eu prometi encontrar uma maneira de curar as feridas do meu passado e finalmente encontrar a paz.

Os dias na pequena cidade de Hampshire pareciam se arrastar para mim, uma jovem inglesa, de estatura baixa e formas roliças.
Em uma tarde ensolarada, eu decidi me encontrar com William em um jardim secreto nos arredores da escola. Eu sabia que aquele encontro era perigoso, mas a paixão que ardia em meu peito não podia ser contida. Vesti-me com meu melhor vestido, um simples traje azul marinho que realçava meus olhos claros cor de mel, e segui para o local combinado.
Ao chegar ao jardim, encontrei William encostado em uma árvore, com um livro nas mãos. Meu coração disparou ao vê-lo ali, tão próximo. Ele sorriu ao avistar-me e, em um gesto cavalheiresco, ofereceu-me a mão para ajudar a me sentar em um banco próximo.
Durante horas, eu e William conversamos sobre nossos sonhos, nossas esperanças e nossos medos. O rapaz revelou que também nutria sentimentos por mim, mas que a presença constante de Amelia o impedia de se aproximar. Senti-me aliviada ao descobrir que não estava sozinha em meus sentimentos, mas também temia as consequências desse amor proibido.
Os encontros meus com William tornaram-se cada vez mais frequentes e intensos. Nós nos encontrávamos em locais escondidos, longe dos olhares curiosos de Amelia e das outras meninas da escola. A paixão entre nós crescia a cada encontro, mas também se tornava mais perigosa.
Amelia, por sua vez, começou a desconfiar das minhas escapadas e decidiu investigar. Ela me seguiu em uma tarde e, para minha surpresa e desespero, encontrou-me nos braços de William. O ódio tomou conta de Amelia, e ela jurou que me faria pagar por ter roubado seu amado.
A partir daquele momento, as agressões se tornaram cada vez mais severas por parte de Amelia. Eu era alvo de insultos cruéis e ataques físicos, que deixavam marcas em meu corpo e em minha alma. Mas, mesmo diante de tanta dor, não conseguia abrir mão do amor que sentia por William.
Enquanto enfrentava os tormentos de Amelia, eu questionava minha própria moralidade. Seria justo continuar um romance com o rapaz que tanto amava, mesmo que isso significasse causar dor a outra pessoa? A tentação de estar ao lado de William era forte demais para ser ignorada, mas eu sabia que teria que enfrentar as consequências de minhas escolhas.
Enquanto o amor e a moralidade se confrontavam em meu coração, eu me via presa em uma teia de paixão e sofrimento.
Uma carta chegou em minhas mãos como um sopro de esperança. O envelope branco, com uma caligrafia delicada e familiar, tinha meu nome escrito nele: Lizbeth. Meu coração disparou ao reconhecer a letra de Willian, o homem que eu amava em segredo. Ele era meu refúgio, minha única alegria naquela escola sombria.
As palavras escritas na carta eram doces e carinhosas. Willian me convidava para um encontro secreto no lago da escola, um lugar onde poderíamos nos encontrar sem sermos vistos. Meus olhos brilharam com a promessa de momentos roubados juntos. Eu mal podia esperar para encontrá-lo lá.
O sol já estava se pondo quando cheguei ao lago. O ar estava carregado de expectativa e minha mente estava repleta de pensamentos sobre o que poderíamos compartilhar naquela noite. O amor florescia em meu peito, fazendo-me sentir invencível.
Enquanto caminhava em direção ao lago, vi uma figura familiar na penumbra, era Amelia. Seus cabelos loiros brilhavam à luz do luar, e seu sorriso malicioso me deixou intrigada. Por que ela estaria ali?
Amelia se aproximou lentamente, seus olhos cheios de inveja e ódio. "Lizbeth, você é uma tola", ela disse, sua voz carregada de desprezo. "Você realmente achou que Willian estaria interessado em alguém como você?" Suas palavras cortaram como facas, dilacerando meu coração.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Por que Amelia estava fazendo isso? Será que ela sabia do meu relacionamento com Willian? Minhas pernas começaram a tremer, e uma sensação de pânico tomou conta de mim.
Antes que eu tivesse a chance de reagir, Amelia me empurrou com força. Meu corpo voou pelo ar, e o som do impacto com a água ecoou em meus ouvidos. A água gelada engoliu-me, me envolvendo em seu abraço mortal.
Eu tentei desesperadamente me debater, mas meus membros pareciam pesados demais. Bolhas de ar escapavam de meus lábios enquanto eu lutava para respirar. Minha visão ficou turva, e a escuridão começou a se fechar ao meu redor.
Amelia assistia a tudo, seu rosto impassível refletindo seu triunfo. Ela não tinha ideia de que eu não sabia nadar, que a água era um elemento desconhecido para mim. Ela pensou que estava apenas me humilhando, mas acabou me assassinando.
Enquanto minha consciência se desvanecia, uma última pergunta ecoou em minha mente: por que Amelia tinha tanto ódio por mim? O que eu tinha feito para merecer um destino tão cruel?
E assim, minha vida chegou ao fim naquele lago sombrio. Minhas esperanças e sonhos se dissolveram nas águas escuras, levando consigo a alegria que eu havia encontrado em Willian. Minha morte foi um lembrete amargo de que a inveja e a crueldade podem levar a consequências irreversíveis.
Enquanto meu corpo afundava cada vez mais, minha alma se libertava. Eu me tornei um espectro, um eco triste e solitário do que eu costumava ser.

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⏰ Last updated: Aug 30, 2023 ⏰

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