— C-claro… — Ela gagueja um pouco, mas logo pega uma caneta rosa em seu estojo todo colorido de unicórnio e me entrega. — Pode ficar para você... Se quiser..

— Valeu, gatinha. — Agradeço com um sorriso malicioso, piscando para ela de forma provocativa. A reação dela é impagável, quase fazendo com que a garota caia da cadeira de surpresa.

Ela se vira para frente, visivelmente nervosa, tremendo como um pintinho com frio. Quase me importei com seu estado, mas logo me concentrei em minha própria tarefa.

Arranco uma folha em branco do meu caderno e começo a rabiscar algumas coisas. Decido desenhar ela, minha musa inspiradora.

Começo com alguns rascunhos simples, delineando os contornos do seu rosto perfeito. Cada traço cuidadosamente desenhado, capturando sua beleza única.

Enquanto me perco em seus traços desenhados, percebo que ela é tão linda que chego a ficar sem ar. Cada detalhe, desde seus olhos expressivos até seus lábios delicados, é uma obra de arte em si mesma.

Os minutos passam voando enquanto me entrego completamente à criação do retrato. O mundo ao meu redor desaparece, e só existe ela e o papel diante de mim. É como se o tempo parasse enquanto me perco na magia do desenho.

De repente, um barulho estrondoso de uma porta sendo aberta bruscamente tira minha atenção do desenho. Que merda está acontecendo agora?

Para minha surpresa, era a diretora Elizete entrando na sala de aula com uma expressão nada amigável estampada em seu rosto. O clima na sala ficou tenso instantaneamente, e todos os alunos se calaram, curiosos para saber o motivo de sua visita.

A diretora caminhou com passos firmes até a frente da sala, lançando um olhar severo para todos nós. Sua presença imponente e autoritária deixou claro que algo sério estava prestes a acontecer. O silêncio era ensurdecedor enquanto esperávamos por suas palavras, temendo o pior.

— Desculpe por interromper sua aula. — A diretora Elizete disse, enquanto batucava impacientemente os pés no piso de madeira.

— Tudo bem, diretora. — Respondeu a professora, visivelmente desconcertada com a presença repentina da diretora.

— Eu preciso falar com um aluno em específico. — Ela encarou todos na sala, até que seu olhar parou em mim. Merda. — Aaron Miller, minha sala agora! — Ordenou, saindo da sala com uma expressão de desdém.

Não tenho paz nunca, pensei com frustração.

Rapidamente, levantei-me da cadeira, guardando o desenho cuidadosamente dentro do caderno. Sem pedir licença, saí da sala, batendo a porta com força, deixando claro minha insatisfação com a situação.

Caminhei pelos corredores da escola em direção ao escritório da diretora, sentindo uma mistura de ansiedade e raiva. O que será que ela queria comigo? As perguntas ecoavam em minha mente enquanto eu me preparava para enfrentar o que quer que fosse que me aguardava na sala da diretora Elizete.

Chegando na sala dela, ela fala alguma coisa com a secretária enquanto balançava essas chaves barulhentas em sua mão, com suas unhas pintadas de um vibrante rosa neon.

Pouco discreto, não é? Mesmo se apagassem as luzes da escola, ainda seria possível enxergar essas unhas.

Ela se senta na cadeira e me encara com uma expressão que quase me assusta.

Cara feia pra mim é sinal de fome.

— Sente-se, Miller. Eu quero ter uma conversa séria com você. — Não parece ser algo bom.

Me acomodo na cadeira de forma descontraída. Acho que deveria ter uma cadeira só para mim aqui, considerando a quantidade de vezes que venho parar neste lugar. Já está quase se tornando minha segunda casa.

— Estou ouvindo. — Na verdade, não estou realmente prestando atenção, mas vou fingir que sim.

— É sobre suas notas. — Ela cruza as mãos sobre a mesa. — Estou preocupada, Aaron. Você sempre foi um aluno tão bom, sempre com notas excelentes. Mas infelizmente, este ano suas notas caíram consideravelmente. — Claro que caíram, tiraram a Annelise da sala, de quem eu vou colar agora? — Se você não melhorar suas notas, infelizmente teremos que te tirar do time.

O quê?! Como assim?

Meus olhos se arregalam e eu passo a mão pelo cabelo.

— Como? Eu ouvi direito? — Não pode ser verdade, estou tão irritado.

Estou de recuperação em quase todas as matérias, é impossível eu conseguir tirar notas tão altas assim.

Impossível.

— Você ouviu, Miller. Eu sei o quanto o time é importante para você, e também sei o quanto você é importante para o time. — Ela dá um gole em sua xícara de chá, ou café, sei lá. Mas espero que ela se engasgue.

— Merda. — Passo a mão pelo cabelo de forma descontrolada. — Não há outra opção? — Exclamo desesperado, quase implorando.

Diga que sim, eu farei qualquer coisa!

— Na verdade... — Ela sorri de uma maneira que me dá arrepios na espinha. — Há sim.

Respiro aliviado. Ou quase.

— Qual? Seja lá o que for, eu aceito.

A bruxa velha sorri ainda mais, revelando sua dentadura amarelada.

— Bem, como imagino que você saiba, o baile de inverno está se aproximando. — Eu a interrompi.

Já estou vendo onde ela quer chegar, não há chance de eu organizar um baile. Não sei fazer essas coisas, não é comigo.

— Esqueça, não vou organizar um baile. — Ela me lança um olhar mortal e coça a garganta, prosseguindo com sua explicação.

— Então, como eu estava dizendo. O baile de inverno está se aproximando, e eu tive apenas uma aluna interessada em organizar tudo para o evento. Ela veio me pedir um ajudante, e eu não consegui pensar em ninguém melhor do que você. — Maldita, ela não deve transar e está querendo fuder com a minha vida.

Que essa aluna vá para o inferno!

— Eu não vou fazer isso.

A diretora ajeita os óculos em seu rosto enrugado.

— Veja bem, Aaron, se o baile for um sucesso, você ganhará notas nas matérias em que está precisando. — Ou seja, todas. — A aluna terá o baile que tanto deseja, e você terá melhores notas. Todos sairão ganhando.

Não vou fazer absolutamente nada.

De repente, a porta é aberta bruscamente e Annelise invade a sala, seus cabelos ruivos voando ao vento. Seus olhos encontram os meus por alguns segundos, e um sorriso travesso se forma em seus lábios antes de ela voltar sua atenção para Elizete, a diretora.

An?

— Desculpe pela demora, diretora. Estava terminando os convites do baile.

Automaticamente, um sorriso surge em meu rosto. Annelise é quem vai organizar esse baile? Hmmm... de repente, a ideia de preparar um baile me parece ótima.

— Tudo bem, querida. — A diretora volta a me olhar. — Aceita ou não, Aaron?

Porra, que pergunta.

— Aceito.

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