𝟎𝟕 | 𝐀𝐇𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐎𝐘 𝐏𝐀𝐏𝐈

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Verifico as horas no celular e percebo que já passou das nove, se esse menino estuda hoje eu não sei, mas que eu não fiz questão de acordá-lo, eu não fiz mesmo. Criança dormindo é um paraíso que não pode, em hipótese alguma, ser desfeito. É falta de respeito.

E Tom dormiu do meu lado na cama, porque fiquei com medo dele acordar durante a noite precisando de alguma coisa. 'Cê acha que eu iria conseguir olhar pra esse menino lindo dormindo e acordá-lo? Nunca. É por isso que não tenho filhos. Não nasci pra ser pai.

Eu só acordei normalmente e vim direto pra sala, fazendo questão de deixar o menino muito bem acomodado no meu quarto, dormindo seu soninho sem ninguém para perturbá-lo e muito menos preocupado com a escola.

Hoje é quinta-feira, qual a chance das aulas serem canceladas?

— Fome? — pergunto de volta, só pra ter certeza. Ele balança bem a cabeça em concordância. Pulo pra fora do sofá, pego em sua mão e o levo junto comigo até a cozinha. — Qué comes por la mañana?

— Tudo, tio. Pão, bolacha, ovo, sucrilhos.

Tu madre te deja comer tanta porcaria?

Isabella é toda cheia de restrição com a comida, segue uma dieta balanceada que eu não duvido nada que aplique para o próprio filho. Coitado do menino, deve ser triste viver de salada e verduras o tempo todo.

— Não — ele encolhe os ombros, meio preocupado de acabar sendo infeliz com a comida na minha casa também. — Mas meu pai deixa. Quando eu 'tô na casa dele, ele sempre deixa eu tomar danone de manhã. Minha mãe fala que só posso tomar iogurte natural. Por quê? Danone é muito mais gostoso.

— Ainda bem que no estas em casa, né?

Chegamos na cozinha e eu pego o menino no colo para colocá-lo no banco alto onde ele rapidamente acomoda os bracinhos no balcão, esperando ansiosamente sua refeição.

Tengo copos de maís no armario, quieres?

¿Qué tienes? — Tom me pergunta de volta, usufruindo de seu espanhol para conseguir se comunicar comigo.

— Copo de... — Ah, espera, não é assim que se chama no Brasil. Esqueci. Por isso o pego no armário e coloco o pacote em cima do balcão junto de uma vasilha de vidro e uma colher. — Isto.

— Ah, sim. Sucrilhos — o garoto me corrige, enchendo a vasilha até o topo.

Uma criança feliz com o café da manhã. Comecei bem.

Vas a tener que guardarte este segredo, falou? — Tom me olha com curiosidade e concorda assim que eu pego o danone de dentro da geladeira e o deixo ainda mais animado. — Tu mama no puede saber ou vai matar a los dos.

— Bico fechado — o garoto passa o zíper na boca e falta pular quando pega o danone e enche a vasilha. Danone de morango com sucrilhos, combinação dos céus. Tom vai comendo que nem percebe, e eu fico ali, observando o menino se alimentar e me sentindo realizado em fazer algo que preste. Mas o silêncio não é prolongado e o menino volta a falar (agora com a boca cheia): — Onde está minha mãe?

No sei, também.

— Mas você está com o carro dela, né?

— Si.

— Então como ela foi embora da festa? Pegou um uber? Ou ela ficou com a tia Clarisse? São melhores amigas, minha mãe costuma dormir lá.

— Costuma? — Fico mais aliviado em ouvir isso.

INTERE$$EIRA ━ palmeirasWhere stories live. Discover now