— Oi, Daiana — disse com a mesma voz da qual se lembrava. Ao menos isso não havia mudado como sua aparência. Olhou-o boquiaberta de cima a baixo, não conseguindo esconder seu espanto e o ouviu dar uma fraca risada nasalada e compreensiva. — Eu sei... eu sei — disse carinhoso num tom leve e confortável. — Agora você pode me chamar de vovô a vontade — brincou.

Subiu os olhos para aqueles azuis novamente, cambaleando um pequeno passo para trás.

— Steve? — O nome saiu como um sopro por entre seus lábios, quase inaudível.

Faziam algumas semanas que não se viam desde que Thanos foi derrotado, mas a sensação que teve era de que o vira jovem ontem, e hoje ele literalmente aparentava ter a idade que realmente tinha. Era assustador e confuso... Mas ainda que ninguém pudesse imaginar passar por algo do tipo, ela, principalmente, imediatamente o reconheceu mesmo que em uma aparência tão drasticamente diferente.

— Para — pediu rindo fraco outra vez. — Não estou tão ruim, só mudei um pouquinho — olhou para si mesmo, como se fazendo uma autoanalise.

— É... — piscou algumas vezes, recuperando-se um pouco da surpresa. — Foi de modelo da Vogue para um amontoado de pelancas em um dia.

Riu, ainda um pouco desconcertada, ao vê-lo revirar os olhos que aparentavam ser a única coisa que não envelhecia em uma pessoa. Então ela se recuperou um pouco mais e lhe deu espaço para que adentrasse sua casa, e com um curto assentir, ele passou por ela.

— Então... — esfregou as mãos uma na outra, estranhamente nervosa, olhando para qualquer lugar que não fosse ele e isso não passou despercebido pelo homem.

— Dai — a chamou, capturando imediatamente sua atenção. — Ainda sou eu — ele não parava de sorrir.

Steve Rogers era uma das pessoas que Dai conhecia, que mais tinham motivos para se revoltar com o mundo, ser uma pessoa estressada ou depressiva, mas ele não era assim. Não era de seu espirito. Ele não apenas ficava reclamando das dificuldades, mas se adaptava a elas antes mesmo que pudesse fazer isso. Entre tantos motivos para ser alguém amargurado, Steve Rogers sempre escolheu sorrir e estender a mão até mesmo para salvar um inimigo.

— É... — com a língua umedeceu os lábios secos, pois de seus olhos uma lágrima escapou. — Ainda é você — sussurrou.


Atualmente,

Residência dos Walker


Steve Rogers era...

Não...

Steve Rogers é alguém muito importante para mim, Daiana pensava consigo mesma, há longas horas olhando para a fotografia que tinha em mãos. Ela acreditava fortemente que quando as pessoas morrem, não se vão realmente. Seus corpos físicos podem se decompor em terra, mas suas almas permanecem vivas dentro de cada um daqueles para quem foram importantes. E Steve definitivamente foi importante para milhares de pessoas, senão mais.

Daiana era uma dessas milhares de pessoas. Sentada na cadeira da cozinha, afundada em um breu inquietante, barulhento apesar de silencioso, deslizou o dedo sobre o rosto sorridente de Steve na pequena fotografia em suas mãos, iluminada pela fraca luz da lua que entrava pela janela atrás dela. Aquele homem ainda vivia de alguma forma. E vivia também em objetos, como o escudo.

Escudo este agora carregado pelo seu marido.

Céus...

Não sabia como realmente deveria enxergar aquilo, mas definitivamente estava confusa. Não estava nem feliz, nem realmente frustrada, apenas confusa.

𝐃𝐞𝐬𝐞𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐬 | 𝙱𝚞𝚌𝚔𝚢 𝙱𝚊𝚛𝚗𝚎𝚜Where stories live. Discover now