Rastro do Passado

Prólogo

A chuva caía fina e em grande quantidade, deixando as ruas mais vazias do que o habitual para aquele horário da noite. Os relâmpagos e trovões se destacavam no som calmo e constante das gotas caindo e se chocando contra as superfícies.

Uma figura alta e robusta, coberto com vestes negras, se misturava com as sombras dos edifícios, andando cautelosamente para que seus passos fizessem pouco barulho enquanto seguia uma jovem. Os cabelos longos e castanhos balançavam suavemente, assim como seus quadris, conforme ela andava segurando firmemente o guarda-chuva, completamente alheia ao fato de que estava sendo seguida. Sua atenção estava voltada a seu aparelho celular, provavelmente olhando suas redes sociais, atravessando as ruas sem qualquer preocupação com veículos.

O homem que a seguia havia estudado toda a rotina da garota, não era a primeira vez que a seguia saindo de madrugada saindo da casa da melhor amiga, completamente distraída. Ela seguiu para uma rua com pouca iluminação, guardando o celular no bolso externo de sua bolsa de ombro. Suas mãos delicadas arrumaram a touca de lã em sua cabeça e seus ombros tensionaram, diminuindo a velocidade de seus passos, subitamente parecendo atenta. Olhou para trás, segurando com firmeza na alça da bolsa, procurando por algo.

Ele sorriu de canto por trás de sua máscara, parando de andar quando ela havia parado, sendo escondido pela escuridão da lateral de um prédio. Observou a garota retornar a andar, dessa vez mais rápido e acompanhou seu ritmo, mantendo uma certa distância até estarem na entrada de um parque.

Ele sabia que ela seguiria por ali, pulando o portão do local enquanto torcia para que o tecido de sua meia calça não ficasse enroscado na grade, para poder seguir a trilha até o outro lado e repetir o processo para sair, provavelmente aliviada por estar apenas há duas quadras de sua casa.

Mas as luzes do parque estavam, em sua maioria, queimadas, deixando o ambiente estratégico para o que pretendia fazer com a garota.

A mulher se sentia preocupada, podia ouvir passos atrás de si, por conta da água acumulada no concreto da trilha. Vez ou outra ela se virava, procurando por quem estava a seguindo e ficando mais nervosa ao não encontrar nada que não devesse estar ali, voltando a andar rapidamente, querendo desesperadamente o calor e o conforto de seus cobertores em sua cama.

O barulho apressado do salto da bota ecoava nos ouvidos do homem, que agora encurtava a distância entre eles. Estavam na parte mais escura da trilha, o vento uivava por entre as folhas das grandes árvores, aproveitando do momento em que um raio caiu no horizonte, iluminando o local e usou o som de seu trovão para cessar a distância entre eles e colocar a lâmina de seu canivete contra o pescoço dela, pressionando a jugular enquanto sua mão livre, recoberta por uma luva negra, cobria sua boca de forma que a impedisse de gritar.

Ele sorriu vitorioso ao empurrá-la contra o tronco de uma das árvores, guardando o canivete no processo e levando sua mão para o pescoço alvo da garota. Não se importava com a chuva os molhando, estava se divertindo com o olhar de pavor da garota e com suas inúteis tentativas de fazê-lo a soltar, com ponta pés e tapas.

— Shh! Não precisa disso, querida. — Assegurou de forma calma e suave, sua voz profunda causando arrepios na garota. — Não vou te machucar.

Ela sabia que era mentira, sabia que não era a primeira vítima, mas o aperto em sua garganta, somado ao choque de ter sido ameaçada e ainda estar com seu nariz e boca tampados, dificultava suas ações. Sentia sua visão embaçando, seu peito sua e descia rápida e fortemente, tentando buscar pelo ar. Isso o divertia, ela podia notar o canto dos olhos do homem enrugados por um sorriso.

Um novo raio iluminou o ambiente, fazendo o brilho ser refletido no pescoço do homem, em uma fina corrente de prata com uma pedra negra ao centro. Essa foi a última coisa que a garota foi capaz de ver antes que a escuridão tomasse conta de si devido a falta de oxigênio e seu corpo amolece, parando de lutar contra seu agressor, que agora pegava a garota em seus braços e voltava a andar, seguindo por dentre as árvores.