Capítulo 1

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     Algo fazia cócegas em meu rosto e eu sentia respirações quentes ao meu redor. Imaginei que fossem meus cachorros. Meus olhos estavam fechados e o sono deixava meu corpo pesado, uma brisa gelada passou pelo meu cabelo me fazendo tremer e uma língua molhada e áspera se esfregou no meu rosto.

     Então eu abri os olhos. Meu quarto tinha um pôster da banda U2 no teto e alguns pontos mofados na pintura. Eu esperava ver isso quando abrisse os olhos, como sempre vi todos os dias. Mas ao invés de pôster de banda e mofo, eu vi um céu claro e  quase todo coberto pelas árvores... Espera... Árvores?!

     Eu me levantei em uma fração de segundos, minha cabeça ainda estava tonta pelo sono e minha visão ainda continuava meio turva, mas quando senti minhas mãos se enterrarem em algo molhado, olhei para baixo e vi grama, verde e molhada. Limpei minhas mãos sujas de terra na roupa e olhei ao meu redor. Minha visão foi se ajustando aos poucos, e os borrões marrons e verdes foram se tornando árvores de pinho grandes e altas.

     Eu estava em uma floresta, uma floresta grande e desconhecida. Mas como isso seria possível? Tenho total certeza de que dormi no meu quarto e na minha cama, ontem a noite, como de repente posso ter parado aqui? O ar estava fresco e os pássaros cantavam e, pelos pequenos filetes de luz por entre os galhos das árvores, o dia era ensolarado.

     A grama estava verde e saudável, sem placas advertindo para não pisar. A floresta era tão silenciosa que podia ouvir o som de uma nascente ao longe. Então eu senti novamente uma língua molhada e áspera esfregar em mim, mas desta vez não no meu rosto, e sim na minha mão. Eu tive um susto interno quando percebi que tinham animais ao meu redor, coelhos, pássaros, veados filhotes...

     Mas também tinha uma espécie de guepardo azul com listras amarelas, olhos verdes, orelhas pontudas e também... Asas de morcego? Ao lado do guepardo azul, tinha um pássaro verde de penas longas e majestosas, tão pequeno que cabia na minha mão e ele também tinha três olhos. Além desses dois, em cima do meu ombro tinha um graveto vivo, com perninhas, mãos, olhos e boquinhas bem pequenas.

     O gaveto-vivo pendurou nos meus dedos quando eu estiquei a mão para fazer carinho nele. O bichinho caiu e se escondeu no meio da grama. Eu posso estar muito drogado ou só estar sonhando mesmo. Quando ouvi um galho se partir no meio das árvores, os animais olharam, o guepardo apurou as orelhas e ficou imóvel.

     Uma luz branca surgiu e uma mulher saiu flutuando do meio das árvores. Eu definitivamente estou sonhando. A mulher tinha cabelos ruivo escuro e cacheado, pesos com um laço azul. Ela usava um vestido branco, que parecia estar dentro d'água. Ela segurava uma... Varinha brilhante com uma estrela na ponta? E tinha.... Asas nas costas, que batiam lentamente enquanto ela flutuava até mim.

     Ela era muito linda, e por alguma razão eu não consegui parar de olha-la. Eu me levantei do chão e dei dois passos para trás. Os animais e criaturas que estavam ao meu redor, imediatamente foram para o lado da mulher-alada, que olhou para todos com carinho e sorriu. A mulher-alada agora me olhou, ainda sorrindo. Ela se aproximou ainda mais e eu dei mais dois passos para trás.

     A mulher-alada então, pousou no chão e a luz branca que emanava dela, se apagou, mas ainda sim era possível sentir essa luz em seus olhos.... Sua varinha, ainda brilhava sem parar. A mulher então se aproximou mais e por algum motivo eu não me afastei, engoli em seco e juntei ar para falar qualquer coisa de fosse.

     — Quem é você? Onde eu estou? — perguntei, gaguejando mais do que eu esperava, a mulher-alada deu um risadinha baixa e fina.

     — Tudo bem estar nervoso, eu também estaria se fosse você — ela respondeu — Quer caminhar comigo?

• Somewhere • A PROFECIA DE WESTON (Vol.1)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz