— Caramba, você está mesmo com raiva. — ergueu as sobrancelhas.

— Você nem imagina.

[•••]

Entrei na sala de Noah a passos largos e apressados. Ele falava ao telefone, algo aparentemente importante. Fez sinal para que eu esperasse, mas eu não segui sua instrução. Bati na mesa com força, deixando a minha carta de demissão em sua frente e depois cruzei os braços o encarando.

Noah leu brevemente as primeiras palavras da carta e fez uma cara de poucos amigos.

— Desculpe, doutor Parker, tenho que resolver um assunto importante agora, depois eu ligo para conversarmos sobre tudo isso com mais calma. Até breve. — colocou o telefone no gancho. — O que é isso?

— Ficou analfabeto do nada? — fui sarcástica.

Ele olhou para mim e depois desviou os olhos novamente, soltando um longo suspiro.

— Eu não mandei redigirem a sua demissão.

— Eu sei. Precisei pedir eu mesma.

— A Heyoon seguiu todos os protocolos? O dia mal começou, ela não te apresentaria todas as nossas contestações tão rápido.

— Pode apostar que eu tive muito tempo para não aceitar nenhuma das coisas que a sua empresa oferece. — sorri de maneira irônica. — Agora, por favor, doutor Urrea... — peguei uma de suas canetas e coloquei sobre a carta. — Seja legal e deixe sua assinatura aqui para que eu possa dar o fora da sua vida.

Ele soltou outro longo suspiro e eu perdi mais três por cento de paciência.

— Você está bem, Any? — encarou-me. — Não parece bem. — ficou de pé e veio até mim. — Está pálida. — segurou meu rosto entre suas mãos e começou a olhar atentamente em meus olhos, os analisando.

— Essa sou eu sem maquiagem.

— Já te vi muitas vezes sem maquiagem e sua pele não é assim. — agora ele estava preocupado. — O que houve? Me conte. — acariciou minhas bochechas com os polegares.

Eu estava quase cedendo, me deixando afogar por aqueles olhos claros e marcantes. Eu queria que eles não brilhassem tanto como brilhavam agora e se fossem um pouco menos bonitos isso me ajudaria a ser mais firme.

Noah estava com um vinco de preocupação entre suas sobrancelhas e eu sabia que ele se importava muito comigo, mas era covarde demais para se deixar levar por aquilo. Junto a esse pensamento, eu lembrei que estava brava com ele e que tomei a decisão de desistir de tudo.

— Por favor, assine a minha carta de demissão. — pedi novamente, afastando-me de suas mãos.

— Any, você precisa trabalhar, mesmo que seja aqui. Já viu como anda a taxa de desemprego no estado? Não vai ser fácil arranjar um emprego, muito menos um tão bom quanto esse. Deixe o orgulho de lado e pense racionalmente.

Eu estava sendo racional, Noah, mas você jamais entenderia. Eu sobreviveria perfeitamente bem estando desempregada por três semanas. Era isso que eu tinha, míseras três semanas. E não perderia nenhum segundo daquele prazo trabalhando em um lugar que já não me agradava mais.

— Eu estou decidida. — fui firme.

— Olhe, me desculpe, ok? Aliás, perdão. Acho que a palavra perdão é bem mais forte e é o que eu deveria dizer. Sei que você me vê como um merda agora e isso me dói, mas eu não quero que você se prejudique só porque quer ficar longe de mim. Não estarei no seu caminho e não tornarei as coisas difíceis pra você. Eu só quero ter certeza de que você vai estar bem.

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸDonde viven las historias. Descúbrelo ahora