CAPÍTULO TRINTA E SETE

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O Líder Marguel estava de rosto erguido, ainda ajoelhado no chão da pequena floresta. Parecia determinado.

— Niria está ocupada tendo trabalho demais para reabrir a fenda. Me diz qual o lugar da casa onde elas estão que as trago.

— Não precisa. Você tem que se curar logo, uma guerra se aproxima. Eu acompanho Endro — Riano se ofereceu.

Endro abriu o portal que vinha usando sempre. Quando os dois passaram, Zana lançou-se atrás. Ainda ouviu sua mãe e alguns outros chamar por ela. Os pés alcançaram o piso de madeira enquanto o dono olhava em volta brevemente entretido.

As coisas ainda estavam do mesmo jeito que havia deixado. Dirigiu-se às pressas para as escadas, pulando de dois em dois os degraus até estar no andar de cima. Vasculhou o cômodo todo a procura das páginas soltas não as achando.

— Estão aí? — Zana vigiava pela janela a movimentação lá fora.

— Nada ainda — respondeu de joelhos, o peito no chão e os olhos procurando abaixo das camas.

— Tenta se lembrar onde você colocou — sugeriu Riano sentando-se no colchão fofo de Alíri.

Endro se sentou no chão. Forçou a se lembrar. Memórias surgiram. Endro pôs-se de pé num pulo. Agachou ao lado da cabeceira da cama onde Riano estava e levantou o grosso colchão. Um frio tomou a sua barriga. Não estava lá. Tinha posto ali.

— Alguém pegou!

— Tem certeza?

Endro não precisou responder. Zana os chamou exasperada logo após um clarão vir debaixo. As luzes da casa foram acesas e soube que estavam em perigo. O fedor forte e pungente que costumava sentir impregnou o ar. O estranho é que não parecia vir dela. Correram para a beirada do cômodo se segurando no parapeito de madeira que indicava o fim do quarto.

Teve breves segundos de paralisia quando olhos roxos cintilantes brilharam ainda mais ao avistá-lo. Era Níria em carne e osso parada no meio do tapete da sala os encarando. Talvez um pouco diferente do que Endro esperava, afinal de contas ela tinha mais de 300 anos. Parecia que os seres não mudaram tanto como Endro imaginou.

O rosto fino de queixo pontudo, possuía alguns grandes espinhos, semelhantes aos de rosas, na altura das sobrancelhas e das bochechas. O que combinava estranhamente com os quatro chifres craqueados que cobria a sua cabeça e escondia parcialmente os cabelos preto escorridos.

— Procurando por isso, sobrinho? — Exibiu as folhas que indicavam a localização da Flor da Vida, presas a dedos finos com garras.

A saliva desceu pela garganta seca de Endro. Se recusava ser parente dela, mas alguma coisa dentro de si dava sinais de que ela não estava mentindo. Endro estremecia de medo. Lançou uma olhada rápida a Zana que segurava o chicote pronta para a defesa.

— Ah! Assim você me magoa. Ainda negando saber quem você é? — Os lábios se esticaram num sorriso sinistro revelando uma quantia assustadora de dentes pontudos.

— E quem eu seria?

As criaturas transformadas por ela estavam cercando a casa do lado de fora. Zana os avisou com um sinal discreto e começou a se movimentar cautelosa, grudada à parede.

— Um Herdeiro de Magia Sombria, assim como eu e o seu pai que, para o meu desprazer, fez questão de me avisar que está vivo. — Apontou para a Marca à mostra no meio dos seios em um profundo decote na blusa de mangas longas e frouxas. — A diferença é que nós não nascemos com ela e você sim.

O amigo e Zana não pareceram surpresos. O estômago se revirou desagradavelmente. Endro não queria ouvir isso, ao menos não da boca dela. Queria que sua mãe o contasse. Mas, precisava distrair Níria para que Zana pudesse chegar perto dela.

Passado e FeitiçariaWhere stories live. Discover now