Passado e Feitiçaria

CAPÍTULO VINTE

A animação desapareceu do rosto de Márvi tão rápido quanto a evaporação da água no deserto.

— Eu sei. Expliquei a ele que não sentia o mesmo, quando ele veio se declarar.

Endro admirou o arqueiro pela coragem de revelar seus sentimentos, pois jamais faria isso.

— Tuli foi na minha casa tirar satisfação por ter supostamente sumido o dia todo com você.

Márvi uniu o cenho, incrédulo e enraivecido. Endro mudou de assunto.

— O que vamos fazer agora que ele sabe sobre o livro?

— Não se... Bom, tem o feitiço do esquecimento.

Endro se animou. A feição de Márvi suavizou.

— Mas, se não souber como lançar, ele apaga todas as memórias do ser.

— E você não vai arriscar algo tão perigoso! — afirmou Endro.

— Não, não vou. E também não tenho magia para isso. — Se jogou na cama soltando um suspiro auditivo. — Quando pensar em algo, te falo.

Endro se ajeitou no puff buscando uma posição mais confortável. Achou e relaxou. O olhar percorreu um Márvi totalmente à vontade. Ele era bonito mesmo com roupas folgadas em um domingo à tarde. Endro desviou as vistas assim que Márvi virou a cabeça para encará-lo.

— A propósito, queria te perguntar uma coisa que eu já te perguntei antes. — Abriu um sorriso envergonhado.

— Diz. — Voltou a olhá-lo.

— Por que você não respondeu ao meu aceno?

— Não foi proposital. Eu só estava assustado. Era a primeira vez que aquilo acontecia daquele jeito. — Foi totalmente verdadeiro.

Quando se encontra um dos quatro escolhidos pela Marca como par romântico, a sensação é totalmente diferente da de quando se encontra um amigo. O coração acelera, a adrenalina sobe e a respiração desregula. Acreditava que Triza, fora a primeira revelada, porém tinha sido Márvi. Havia visto-o dias antes da irmã aparecer. Se deu conta disso há alguns dias quando pensava a respeito.

— Eu gostei de saber que você podia vir a fazer parte da minha vida.

Endro o fitou. Estava surpreso e com um medo forte. Márvi não escondia seus sentimentos e vontades.

— E por que não me procurou? — as palavras saíram se dar conta.

Arrependido, Endro fitou a própria barriga.

— Você não respondeu ao meu aceno. Eu pensei que não havia gostado muito de mim e optei por não tentar uma aproximação.

Naquele mesmo dia em que viu Márvi, Endro foi perguntar a Ralis, com o coração batendo a toda força, porque estava com a Marca quentinha. Sua mãe explicou que ele tinha encontrado alguém importante, que foi escolhido para fazer parte da sua vida, caso ambos se dessem bem. Desde então, nunca mais tinha visto Márvi. Por um tempo, tinha se esquecido dele. Tanto que quando o viu, não o reconheceu de imediato.

— Eu havia ficado totalmente apavorado — e novamente omitiu boa parte da verdade. Voltou a olhá-lo e mudou de assunto. — Minha vez de perguntar. Por que consigo sentir seu cheiro, mas dificilmente sinto sua aura?

Márvi endireitou o pescoço e fitou o teto com os dedos cruzados atrás da cabeça. Parecia pensar.

— Gostaria de sentir a minha aura? — Tombou a cabeça para o lado novamente e olhou para Endro com um largo sorriso.