Eu sentia um ódio que nunca havia sentido antes vendo aquela mulher desprezível chocando a cabeça da Crystal, na barreira quase invisível que nos separava delas, porém o que mais me matava era a impotência, eu sabia que poderia socar aquela barreira até que não me restasse mais forças, e mesmo assim aquela força mágica permaneceria ali intacta, a única forma de romper aquela barreira seria oferecendo fogo contra fogo, magia contra magia, da mesma forma que Crystal tinha feito usando a energia daquela pedra, que apesar de eu ser um guerreiro, sabia que, se tratava de uma pedra do som.

Da mesma forma que, os acontecimentos antes pareciam atropelar o tempo ocorrendo um atrás do outro sem tempo para reflexões, agora as coisas ocorriam como em câmera lenta. Senti alívio quando, depois de aparentar ter ficado por alguns instantes presa em um delírio febril, Crystal rendeu Magda aparentemente sugando parte da energia mística da mulher, mas ao ouvir as palavras de Magda, meu sangue congelou em minhas veias. Eu sabia que, Magda alertava Crystal dos riscos dela tentar parar o ritual estando tão fraca, apenas por despeito, ela tentava parar Crystal, queria que nossa amiga temesse pela própria vida e não se aventurasse em sua tarefa de interromper aquele crime contra a ordem natural da vida dos mundos, mas apesar da mulher apenas querer que, nossa amiga não impedisse a soltura de Murdoch, Peter havia confirmado que as palavras da mulher não eram de um todo mentira. Crystal corria sérios riscos, e eu não estava disposto a deixa-la fazê-lo. Mas como eu poderia impedi-la?

Quando Crystal se ajoelhou diante de Angus, traçando vagarosamente uma runa de sangue e destruindo o ritual cuidadosamente feito por Magda, a única coisa que eu queria era voltar no tempo, e socar a cara de cada mestre da Ordem que nos colocou nessa situação complicada ao desacreditar da nossa inocência, pondo a tarefa de derrotar Theodor e Magda apenas em nossas costas diante da descrença dos poderosos membros da Ordem, mas nada me preparou para sentir novamente o sentimento de total impotência quando Crystal caiu quase inconsciente no chão, e um ser, que pela postura dificilmente seria Angus começou a conversar com ela como se estivessem em meio a um piquenique ao ar livre na campina. Diante da postura daquele homem pude concluir que devia se tratar do próprio Murdoch, ter aquele ser amaldiçoado ao lado da Crystal me fazia ter vontade de destruir meio mundo, em certo ponto nosso grupo desistiu de chamar pela garota, era inútil, só nos restava assistir e torcer para a Ordem vir logo em nosso auxílio. Magda acordou de seu estado de inconsciência, a mulher em seguida bateu os olhos em Angus, imediatamente pareceu compreender que quem possuía aquele corpo não era o garoto. A mística partiu em disparada em direção a Murdoch, se humilhou, se prostrando aos pés da criatura e beijando seus pés, eu não conseguia ouvir sobre o que conversavam, a barreira impedia parte do som a chegar até nós, e eles conversavam em um tom baixo, a cada palavra do seu mestre a cara de Magda parecia ficar mais lívida, a mística não parecia estar sendo recebida como uma filha pródiga, isso me fez quase sorrir. Eu achava quase cômico a forma como loucos fanáticos idealizavam a figura de um mestre ao ponto de ficarem cegos diante de tal figura, Murdoch não parecia estar tendo a gratidão por Magda que ela esperava, nem mesmo parecia ter simpatia genuína por sua filha, pois os olhos de Murdoch ao tocarem a figura caída da mística no meio da campina demonstraram qualquer coisa, menos afeto. Eu poderia observar por horas Magda, Theodor, Cassandra ou qualquer outro traidor se dando mal, mas meu tenro contentamento foi substituído quando Magda, revestida de ódio e despeito, se lançou sobre Crystal manipulando alguma espécie de energia em sua mão esquerda. Eu me lancei sobre a parede a minha frente, mas, mais uma vez me deparei com a minha própria impotência. Pensei que toda a nossa história iria acabar ali, pensei que a Crystal, a pessoa que menos merecia estar envolta no meio de toda aquela confusão teria a vida tragada por Magda, uma onda de desespero me invadiu. Peter e Natasha compartilhavam o mesmo sentimento que eu, mas ao meu exemplo, estavam de mãos atadas. Magda nunca chegou a tocar na nossa amiga.

A Ordem Da LuaWhere stories live. Discover now