c a p í t u l o ✿ 8 1

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O garoto permaneceu completamente imóvel, sem saber o que responder.

— Confesso para você que não tenho muito entendimento a respeito dessas coisas, mas um dos meus sócios, bem envolvido com a parte publicitária, contou que você está construindo bem a sua imagem e criando um bom relacionamento com marcas importantes no seu... meio. — Mario tinha um pouco de dificuldade em manter o contato visual com o filho, parando para fingir observar algo em seu vinho ou parando para ver as horas. — Eu ainda não concordo com a sua decisão de se dedicar a isso. Acho que é um desperdício de todas as oportunidades que você teve...

— Não se preocupe. — Daniel o interrompeu. — Eu sei que você não concorda e sei que não quer que eu continue em casa se eu fizer isso. O Bellini vai começar na empresa do pai dele ano que vem e a gente tá acertando de dividir apartamento. Ele disse que me cobre até eu conseguir me estabelecer, se precisar, mas eu já tiro um dinheiro legal com as lives. Se começar a fazer todos os dias, é o suficiente para me sustentar.

Daniel já tinha praticado todo aquele discurso na noite anterior, falando com alguém que lhe dava tanto medo quanto Mario Beaumont — seu André — e, pela primeira vez, estava surpreendentemente calmo ao pensar sobre o seu futuro. Depois dos conselhos de Ariele, Esther e Natalie, além do apoio de todos os seus amigos, mas principalmente de Zoe e Bianca, a hesitação começava a ser ofuscada por planos um pouco mais concretos. Além disso, as consultas com o psicólogo realmente estavam ajudando a lidar com a ansiedade, e começavam a conversar sobre a possibilidade de ver um psiquiatra para começar com antidepressivos.

— Olha, filho... era sobre isso que eu queria falar com você. — Daniel foi interrompido e também pego de surpresa pelo tom baixo do pai. Estava esperando um pouco mais de indignação pela ameaça de expulsá-lo de casa não ter dado certo. — Na minha tentativa de te orientar, acho que acabei só prejudicando a nossa relação. — Ele limpou a garganta, pensando em como continua: — A minha intenção não era que você se sentisse pressionado a sair de casa, só garantir que não tomasse uma decisão da qual iria se arrepender.

Daniel continuou fitando o pai. Se fosse sincero, sua vontade era de mandá-lo tomar no cu — as palavras podiam ser bonitas, mas não apagavam o que ele fez Daniel sentir durante todos aqueles anos.

— Na verdade, pai, eu acho que vai ser bom pra mim sair de casa. — Daniel se esforçou para manter a voz estável, fingindo estar ocupado cortando o filé no seu prato para não olhar Mario nos olhos. — As coisas também não estão muito fáceis com a mãe, e eu acho que a Emily iria querer vir junto comigo.

Mario limpou a garganta de novo e Daniel ergueu os olhos para encontrar os do pai. Sentia-se hiperconsciente de cada mínimo movimento que faziam, como se a qualquer segundo tudo pudesse desandar.

— Bom... — O homem começou, hesitante. — O que quero dizer é que... eu sei que a situação da nossa família não foi a melhor nos últimos anos. Eu e sua mãe... bom, o divórcio está me ajudando a ver algumas coisas. Hoje percebo que descontávamos muitas das nossas frustrações em vocês.

Quando terminou de falar, Daniel apenas concordou com um murmúrio, fingindo estar concentrado demais em sua comida. Seu coração batia com força enquanto ouvia aquilo, uma mistura conflitante de sentimentos embrulhando seu estômago.

— Eu... eu tenho outra família, Daniel. — O garoto arregalou os olhos e quase deixou os talheres caírem, não porque aquilo era uma surpresa (não era), mas porque nunca imaginou que ouviria seu pai admitindo. — Sua mãe sabia, e eu também sabia dos casos dela. Nosso casamento já estava acabado há muito tempo, mas um divórcio seria prejudicial para os dois na época. Eu estava negociando com investidores que faziam parte do nosso círculo social e queria evitar qualquer escândalo que pudesse convencê-los a desistir do negócio, assim como sua mãe não queria perder a vida que vivia nem a boa imagem que tínhamos... então, mantivemos essa relação como possível, mas sempre havia uma briga e o medo de que o outro não seria discreto o suficiente e começaria um escândalo.

CamelliaWhere stories live. Discover now