— Essa tontura aconteceu outras vezes?
Puxo a memória e lembro de dois episódios na vinícola durante a viagem que eu julguei ser pelo calor.
— Durante as minhas férias mas foi pelo calor.
— Ah sim, entendo.
A enfermeira entra no quarto.
— Doutora? Os pais da paciente estão aqui.
— Obrigada, já estou indo.
— Procura algo para comer, você não pode assumir o plantão assim.
Concordo e fico alguns segundos pensando em como contar tudo isso para Antônio. Volto para o quarto depois de alguns momentos e encontro dona Wilma no corredor falando ao telefone, espero ela desligar.
— Oi - ela sorri me olhando - tudo bem?! - ela questiona ao ver meu rosto.
— Na verdade não - ela leva uma mão ao peito - não é nada com o Antônio... a Michelle acabou de falecer.
A senhora leva a mão a boca em um choque momentâneo.
— Meu Deus, então a situação dela era grave mesmo.
— Era sim, dona Wilma.
— Deus me perdoe, eu desejei tanto que ela morresse de uma vez e agora estou aqui com meu filho nessa situação. - os olhos dela parecem assustados e ela começa a chorar.
Abraço ela de uma forma acalentadora e espero ela se acalmar para podermos entrar e dar a notícia ao Antônio.
Quando atravessamos a porta encontro Antônio de olhos fechados em um cochilo tranquilo, como se pudesse ler meus pensamentos ele acorda e olha diretamente pra mim.
— Oi - o sorriso fraco parece cansado.
— Oi... - sorrio de volta me aproximando dele - como você está se sentindo?
— Como se tivesse sido atropelado por um caminhão.
Dou uma risada baixinha e ele me encara.
— Aconteceu alguma coisa, sua cara não está boa.
— Aconteceu, mas não é nada com você.
Dona Wilma volta a chorar e vejo Antônio arrumar a postura.
— Michelle acabou de falecer, Antônio.
Vejo ele se chocar e levar a mão a boca, lágrimas se acumulam nos olhos dele e o puxo para um abraço.
— Meu Deus! - ele suspira - os pais dela?
— Alice está falando com eles.
— Avise eles que eu estou aqui, por favor?
— Claro, aviso sim.
— Obrigado.
Me despeço e procuro os pais dela, encontro Paulo agachado no corredor aos prantos e me aproximo com cuidado.
— Senhor Paulo?
Ele me olha confuso e vejo ele levar alguns segundos para me reconhecer.
— Amanda, né?
Concordo.
— Eu sinto muito pela sua perda.
Ele me encara e concorda.
— Obrigado.
— Senhor Paulo o Antônio está internado aqui, acabei de dar a notícia a ele. Ele gostaria de ver o senhor, se o senhor puder.
— Internado? O que houve?
— Ele passou mal na madrugada e tivemos que interna-lo. O senhor vai entender quando vê-lo.
O homem concorda e pede um segundo para avisar a esposa.
— Ela não quer ir, disse que precisa de um tempo com a Michelle.
Concordo em silêncio e levo o homem até o quarto.
— Antônio! - Paulo exclama ao ver Antônio na cama. - o que? Meu Deus.
— Paulo! - Antônio chama.
Saímos deixando eles dois a sós e vejo pela janela eles se abraçarem e chorarem.
— Você acha que Deus pode me punir levando meu filho porque eu pedi para ele levar a filha do Paulo? - dona Wilma pergunta apreensiva.
— Acho que Deus não trabalha com punições, dona Wilma. Cada pessoa recebe exatamente o fardo que merece.
Ela suspira frustrada e aperto a mão dela. Sinto a tontura me atingir novamente e em segundos perco a consciência.
____________________________________Vocês me pedem um monte de capítulos, pois então tome 😂🤍
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A Cura
FanfictionA cura é muito mais do que o objetivo, é se permitir viver a plenitude do processo. Quando Antônio descobre que está doente, ele perde todas as certezas da própria vida. Quando Amanda sofre uma grande desilusão, ela resolve ser livre. Um em busca de...
Capítulo XXIII
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