38. A nova ordem da esperança

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Então estacionei na Colônia da Ballard.

Logo David apareceu na frente dos apartamentos e eu saí do carro, mas antes deixei a caixa em um compartimento escondido dentro do meu porta-luvas com uma instrução. Eu amava o fato de o meu mecânico ser muito bom com cofres.

— O que você veio fazer aqui? — Ele pergunta quando entro em seu conjunto.

— Como assim o que eu vim fazer aqui? Disse que precisava de ajuda com uma coisa, e também preciso mostrar outras — Sorri esfregando as mãos e olhando ao redor — Aqui ficou bem legal.

— É.

— Então, eu sei que andei te afastando, mas preciso que me diga...

— Ah, você jura? Primeiro você some para outro hemisfério do nada, sem me dizer quando voltaria, me deixou apenas uma carta porque era covarde demais para me dizer pessoalmente. Você nem teve a decência de me entregá-la em mãos.

— David, escuta, eu...

— Não, escuta você — Ele sorri e balança a cabeça — Eu passei um ano te esperando, um ano! E quando eu finalmente estava conseguindo recomeçar você surge do nada pra acabar com tudo o que eu estava construindo. Pensei mesmo em fingir indiferença, mas aí esqueci que você sabe que eu te amo. Fui a sua casa e lá estava a Jordan, como sempre, e então você me pede um tempo de novo, e volta a aparecer na minha porta. Como você quer que eu me sinta?

— Eu preciso de você, sabe disso — Respondo sussurrando de cabeça baixa, sabendo que ele estava certo.

— Descubra o que você quer, Ally, porque eu cansei de ser o seu estepe — David cruza os braços e franzo as sobrancelhas.

— Caso tenha esquecido, eu não pedi por isso! — Explodo jogando as mãos pra cima, me rendendo — Tudo o que eu fiz foi para te proteger, e se você não enxerga isso eu sinto muito. Mas muita coisa aconteceu, e em um segundo eu estava matando meus amigos. Eu fiz coisas terríveis, tive visões terríveis do meu futuro e todos os fardos foram direcionados para mim, eu não podia fugir mais de quem eu era.

— E aí fugiu de mim?

— Agora é a minha vez de falar — Coloco o dedo indicador em seu peito e sinto a fúria chegar — Eu quase matei o Adam em um piscar de olhos, e quando vi já estava em um avião. Como eu poderia trazer isso para você? Como eu poderia ficar com você se eu ainda não conseguia controlar isso? Se a pessoa que eu deveria amar tinha fugido de mim? Eu nunca me perdoaria se um dia te machucasse, David.

— Você machucou! Não tá vendo isso? Eu suportaria qualquer dor física para que você confiasse em mim, Ally!

— Me tornei uma arma — Cruzo os braços e respiro fundo — Estava confusa e me tornei perigosa. Todas as decisões que tomei no último ano foram pra te proteger da minha nova realidade, proteger todo mundo. Sei que para você eu estraguei tudo, e posso até ter estragado mesmo, mas eu fiz o melhor que pude. E só para reforçar, eu não pedi por nada disso. E já que está jogando as coisas na cara, mentiu para mim quando deveria contar que Jordan nunca tinha ido embora, porque sim, é claro que ela estava em primeiro lugar na minha vida. A outra Allyson se apaixonou por você, David, não eu!

— Sabe, eu só... — Ele balança a cabeça e se senta — Você me pediu um tempo, eu acho que eu dei, aí eu te pedi um espaço também, e você ainda tá aqui, entende? Cada vez que eu me viro, aí está você.

— Você nem ao menos quer ver o que eu trouxe? — Pergunto. David dá de ombros e faço que sim com a cabeça. Vou em direção à porta, mas paro na metade do caminho — Por que está fazendo isso?

— Fazendo o que?

— Me fazendo duvidar da única coisa na minha vida que eu tive certeza que foi real desde que voltei para meu corpo. Não me lembrava da minha cor favorita, mas me lembrava de você.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now