4.ROTA DE COLISÃO

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O frio que castigava a pele de Cleo nem se comparava ao que gelava seu estômago. Adorava a sensação de estar prestes a fazer algo tão grandioso, mas tinha que admitir que, desta vez, tinha medo de perder o controle e colocar tudo a perder.

Se fosse apenas sua vida em jogo, já estaria apavorada, mas colocara Larissa em sua enrascada, por isso, não poderia cometer nenhum erro.

Elas já vestiam os uniformes falsos. Depois de três horas de viagem de carro — um favor que um antigo contato lhe devia —, as duas repassaram os últimos ajustes do plano. Com a ajuda de um segurança infiltrado, entrariam na residência como empregadas da equipe responsável pela organização do baile do dia seguinte.

O sol já se punha há bastante tempo e tudo que restara no céu era a névoa densa, costumeira daquela época do ano. Não era possível ver a lua ou qualquer estrela e a única iluminação vinha dos postes espalhados pela rua exclusiva que levava à residência presidencial.

Dali, Cleo observava a imponente mansão sobre a colina. De toda a cidade era possível ver essa obra de arte da arquitetura. Contruída há pouco mais de cinquenta anos pelo avô do atual presidente, habitava a terceira geração de tiranos que se achavam donos do país.

O veículo da empresa de decoração já deveria ter passado. Conferiu o relógio de pulso só para contabilizar o atraso. Já passava de três minutos.

— Relaxa, Cleo. Você está me deixando nervosa — Larissa pediu.

Estava pronta para responder, quando o som do motor chamou sua atenção. O furgão estava a caminho e ela quase se permitiu relaxar um pouquinho. Quando parou ao seu lado, a porta lateral de correr se abriu e as duas pularam para dentro, com toda convicção de quem realmente estava ali a trabalho.

Havia mais pessoas ali dentro, usando uniformes iguais aos delas. Todos sentados em seus lugares, em silêncio. Os únicos assentos vagos ficavam distantes um do outro. Larissa ficou na primeira fila e Cleo precisou se contentar com o último banco.

O caminho até a residência não distava mais do que quinhentos metros, mas, para ela, parecia longo demais. Cleo tinha receio de que todos notassem seu nervosismo demasiado para uma funcionária que, tecnicamente, só estava cumprindo seu dever.

O carro parou em um pátio amplo, coberto por ladrilhos coloridos que formavam um padrão excêntrico, mas muito bonito. Dali, sem ter tempo de reparar em muito mais, foram todos guiados para dentro, por dois funcionários usando ternos bonitos. Um deles era o informante de Cleo e ela suspirou, uma pontinha de alívio apaziguando o medo gelado que já fizera morada em seu corpo.

Todos seguiram os homens, fazendo uma fila desordenada. Entraram por uma área secundária, passando pela cozinha, alguns cômodos sofisticados, mas sem utilidade, até chegarem a um imenso salão de festas. A decoração já havia começado anteriormente. Havia tecidos leves e esvoaçantes revestindo paredes, mesas cobertas com toalhas brancas e douradas, enfeites espalhados de forma desarmônica pelo chão ainda empoeirado do ambiente.

A mais velha não fazia a menor ideia do que fazer. Pelo canto do olho, reparou que a irmã também estava perdida, por isso, adiantou-se em buscar algumas caixas, no depósito, quando alguém solicitou. Larissa veio junto com ela.

Assim que saíram do salão de festas, as duas deixaram os demais colegas tomarem a frente e desaceleraram o passo.

— Tudo dentro dos conformes até agora. — Larissa ajeitou o avental e sorriu, quando um grupo de três pessoas usando uniformes brancos passou por elas. — Como seu informante deixou a gente entrar, depois de tudo que aconteceu?

— Ele pensa que essa é uma missão do partido — Cleo confessou em um sussurro. — Uma secreta.

A mais nova parou no meio do corredor, estarrecida demais para continuar andando.

Assimetria Perfeita (Degustação)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora