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Levantei a barra das minhas calças quando me senti suar por baixo da roupa. Estava um sol de matar e parecia que o calor havia aumentado em poucas horas. Me perguntava porque eu havia decidido sair de calça. Minha mochila não estava pesada pelo menos, havia apenas meu saco de dormir, uma camiseta extra, bússola e outro par de meias (só por precaução). Levava também meu cantil com a corda atravessada por meus ombros.

Já era quase meio-dia quando fomos procurar o cadáver de Ray Brower.

- Aqui tá bom! - ergui a cabeça para aquela voz conhecida. Richarlison estava na parte de trás de uma caminhonete verde, e se preparava para saltar. Parei na calçada para esperá-lo.

- Ei, Richy - cumprimentei.

- Ei, Sonny - ele sorriu. Depois, se virando para o motorista, disse - Valeu, cara.

- Sem problemas - o senhor fez um positivo com a mão.

- Tudo bem? - quando começamos a andar, ele passou o braço ao redor dos meus ombros. Richy levava consigo apenas um rolo de saco de dormir, amarrado a uma corda que ele usava de alça.

- Uhum - assenti.

- Quer ver uma coisa? - ele sorriu travesso.

- Claro, o que?

- Vem - e então correu na minha frente, bastante animado.

- O que foi? - corri atrás, curioso - Qual é, cara, o que é?

- Aqui - parou quando chegamos nos fundos de um restaurante. Aquele sorriso travesso ainda estava nos seus lábios, e permaneceu, quando tirou algo do meio do seu saco de dormir - Quer ser um bandido mercenário, ou um caubói salvador? - indagou, com um revólver nas mãos.

- Meu Deus do céu! - exclamei maravilhado, tocando no objeto frio e prateado - Onde você arrumou isso?

- Peguei do meu pai - ele disse se gabando - É um calibre 45.

- Dá pra perceber - revirei os olhos, enquanto apontava para lugar algum com a arma de fogo. Ele estalou a língua, dando risada quando eu imitei um barulho de tiro - Tem balas?

- Sim. Peguei o que tinha na caixa. Meu pai vai achar que usou para atirar em latinhas quando tava bêbado.

- Tá carregada?

- Claro que não - bufou - O que acha que eu sou?

Sorri para ele, destravei a arma e puxei o gatilho, apontando para uma lata de lixo. Apenas queria fingir que atirava.

No entanto, quando puxei o gatilho, um barulho quase nos deixou surdos, empurrando minhas mãos para trás. A arma havia disparado e a bala furado a lata de lixo que tinha ali.

- Meu Deus! - gritamos desesperados de susto.

- Vamo embora, porra! - gritei, começando a correr.

Ouvi a risada de Richarlison atrás de mim enquanto ele também corria pelo beco. No processo até esbarrou em outra lata, rindo ainda mais.

- Foi ele, Son Heung-min! Son Heung-min está atirando em Tottenham! - meu amigo berrou, colocando os braços para cima, entre uma gargalhada e outra.

- Cala a boca! - retruquei ainda correndo.

- Ei, quem fez isso? Quem está atirando bombinhas aqui? - escutei a voz da velha senhora Clark, seguido de uma porta (provavelmente a dos fundos do restaurante) se abrindo.

- Cara, devia ter visto a sua cara - quando chegamos no centro da cidade, Richarlison ainda estava rindo - Foi muito legal!

- Você sabia que estava carregada, idiota - falei em tom sério, parando de correr - Vou me dar mal. A Clark me viu!

Stand By Me - A Tottenham StoryWhere stories live. Discover now