A caixa não foi confortável. Você lamenta por Nezuko, a menina sofreu, foi trágico e muito nauseante. Antes de se vê aqui, nessa situação, você achou engraçado aqueles memes de como seria Nezuko dentro da caixa, enquanto Tanjiro corre e dá cambalhotas. Agora, você apenas lamenta pela ideia estúpida, isso podia ser pior que Douma, o merdinha pegajoso e sinistro.
Mais um solavanco o faz bater a cabeça contra a madeira, você evita praguejar muito alto, para não acordar a chibi Nezuko que se agarra você - e não foi surpreendente, o quão rápido a menina se apegou e deixou ir os receios em relação a você, bastou alguns mimos bem bolados, como uma sessão de cafuné e um monte de doces para Tanjiro se farta, não que o menino tenha aceitado, ainda um pouco desconfiado. Tempo ao tempo, seu charme irá conquistá-lo, não há outra opção ali, para sua sobrevivência continuada o prota tem que estar do seu lado, talvez essa viagem seja um bom salto de confiança.
O que o leva de volta ao presente, essa situação degradante em que você se enfiou, literalmente nisso. Você pensou que a primeira vez que usasse os truques de metamorfose fosse para se tornar um mulherão da porra, não um chibizinho ranhento. Contudo, Douma se recusou a lhe larga, foi um entretenimento no início, mas depois da primeira hora, você apenas entendeu o apelo de Akaza em lhe socar. O merdinha era gostoso, mas era bastante irritante também, obsessivo demais pra levar em grandes doses, você precisava de ar, além disso, o constante olhar que o oni enviava a Tanjiro não estava ajudando, o menino não era um petisco, caramba!
- Tudo bem aí?- A voz de Tanjiro é abafada, mas com seus sentidos, é clara.
Você está pronto pra responder um retumbante não, se houvesse algo no estômago agora, seria um pesadelo tenebroso, pela primeira vez a fome foi uma graça.
- Sim. Falta muito ainda?- Você parece uma criança, já era a terceira vez que você fazia aquela pergunta.
- Quase lá.
Tanjiro foi retratado como um péssimo mentiroso, mas agora você tem lá suas dúvidas, aquela era a terceira vez que ele respondia o mesmo!
Com um gemido lamentável, você fechou os olhos, tentando ficar mais confortável. Na primeira oportunidade, você estará furtando aquela caixa dos infernos, Nezuko-chan merecia algo melhor, ninguém poderia ser tão injustamente fofa assim, os céus já era dela... Eh, pensando melhor, não seria mais simples apenas lhe entregar o dom do sol? De qualquer forma, a competição de chibis fofos já tava ganha, era justo dá aquele primeiro lugar a menina.
(Você ainda estará aguardando ansiosamente por aquele dia memorável, sempre havia a portabilidade de um segundo lugar. A visão que aqueles kisukis todo poderosos em versão chibi faria, era um apelo ao qual você não podia deixar ir, é realmente uma pena que os hashiras não pudessem fazer o mesmo... Ah não ser... Sabe, essa era uma ideia a se contemplar, se por acaso todos se tornassem onis, não haveria uma organização com o qual se preocupar. Há também a possibilidade daquele plano sair pela culatra, você já leu bastante fanfic, imagina só, dá poder ao seus inimigos para eles lhe trucidar. Foi estúpido, até você tinha seus limites.)
Voltando a focar, decisão tomada, você pensa como deveria fazer isso, Nezuko será a contemplada. Você tem uma ideia, como o Muzan original, sua unha cresce, antes de furar levemente a mão gorinha que o segura, Nezuko resmunga da picada, mas não acorda, é perfeito. Usando seus muitos cérebros, você se concentra num objetivo - passar sua capacitada de estar ao sol - antes de deixar uma pequena dose de seu sangue fluir.
Quando a menina grita, você não pode evitar soltar uma maldição bem alta agora. Você esqueceu daquele bendito detalhe, o sangue do progenitor dava poder, mas também era uma cadela rancorosa, fazendo todos se contorcerem como se estivessem recebendo ácido.
- O que está acontecendo? - Tanjiro fala sob os gritos, seu próprio tom exaltado.
Os solavancos se multiplicam, se não fosse um ser perfeito, você estaria todo dolorido depois. Com uma reviravolta final, a caixa é jogada e a porta aberta com pressa, vocês estão sob o teto de um templo, isso é tudo que pode deduzir, pois no segundo seguinte, Tanjiro puxa sua irmã do seu aperto, seus olhos lhe queimam, acusadores, é tão incomum do Tanjiro que você viu em tela que isso lhe desconcertar, o fazendo incapaz de reagir quando o menino ataca.
Oh, porra! Você vai morrer. A lâmina é tão rápida, quente, vindo para cortar seu pescoço. Por reflexo você fecha os olhos, soltando um grito nada digno, até sentir o impacto. Então os segundos se arrastam e todo que há é uma fisgada. Você não perdeu a cabeça, não literalmente. Abrindo um olho, você observa a lâmina que sem dúvida pressiona seu pescoço, mas é incapaz de cortá-lo... Ah, você é estúpido afinal, esse Tanjiro é da primeira temporada, ele mal cortou o pescoço do Rui, não existia nenhuma possibilidade dele conseguir cortar o do boss.
Por via das dúvidas, entretanto, você se apressa em se afastar, acelerando seu crescimento, para parecer um adulto novamente.
- Eu não deveria ter confiado em você. O que você fez com ela?- Tanjiro exige, seus olhos desviando da irmã tremula para você.
Muito mal. Você pensou ter conseguido algum progresso, e ali estava, de volta a estaca zero.
- Não fiz nada macabro, apenas esqueci que meu sangue pode ser demais, ela ficará bem! Mais que bem! Dei a ela a capacidade de andar ao sol.- Você se apressa em dizer, num fôlego, para aplacar a desconfiança do menino.
Tanjiro o fita sério, incerteza evidente no sei jeito. Deve ser um dilema cruel confiar no cara que parece aquele que matou sua família, assim, pela primeira vez, você resolve ser sensato, para não assustar seu terapeuta em construção.
- Olha, eu vou ficar paradinho aqui, você vai vê, ela ficará bem. Não farei nenhum mal a vocês, juro.
Se forçando a manter a boca fechada, você faz como dito, dando ao menino um tempo para se recompor. Ah, você nunca foi bom nisso, sutileza é uma merda, confortar outro era pior, sempre desajeitado, certo de que estava fazendo tudo errado. Quem dera se tornar o boss tivesse upado um skill de confiança, você está carecendo disso, que depre.
Exatos vinte minutos e dois segundos depois - sim, você estava contado, uma contagem deixa tudo mais dramático -, Nezuko pisca para a vida. Você solta o suspiro que estava segurando, aliviando, afinal você não a matou, bem, nunca havia como ter certeza, foi bom vê que seu corpo perfeito, continua perfeito.
- Nezuko! Você está bem?- Tanjiro pergunta, a abraçando.
A menina apenas faz uma série de sons abafados, pobre coisinha, você deveria furtar aquele pedaço de bambu também, se fosse para ser um meliante, que não fosse um trabalho feito pela metade.
Antes que você possa se intrometer no momento dos irmãos, um arrepio na espinha lhe faz dar um pulo, porra, você havia esquecido. Da escuridão do templo, um demônio lhe agarra, o toque frio lhe puxando para trás, as portas do templo lhe engolindo como as bocas do abismo.
Para que você fosse encontrado assim, em pleno o meio dia, só poderia ter sido uma, Nakime, foi ela, você estará revendo aquela promoção, desde quando um funcionário dedurava seu chefe assim? Isso foi traição, simples e pura!
Sua fuga falhou, espetacularmente.
