14. Qual o seu tipo de psicose?

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— Tem algo muito sombrio acontecendo, Allyson, é mais do que eu pude prever – Ela encosta o quadril em uma mesa – A barreira foi quebrada, tem um prêmio pela sua cabeça, a escuridão está invadindo Ellicot à sua procura, e tem alguém por trás disso tudo. Eu sinto que é ele, sinto que é o Peter tentando te levar pro lado dele.

— Você não pode saber — Dou de ombros e dou um pulo para subir em uma bancada — Aquele cara é o meu pai, o mesmo pai que me entregou para o Martin porque temia pela minha segurança, por que agora ele iria querer me fazer mal?

— Então devemos confiar na sua intuição? — Jordan diz em tom debochado, mas me mantenho firme.

Ela é um amor na maioria das vezes, mas exagerava quando o assunto era investigar algo por mim, algo que eu poderia muito bem fazer sozinha.

— Sim, confie na minha intuição — Dei batidinhas em seu ombro e saí em direção a sala de matemática.

Eu gostava de levar Jordan à loucura, gostava de vê-la saindo do sério, então fazia isso com um sorriso no rosto. Entregamos a justificativa de atraso para o professor e entramos na sala.

— Você não tem ideia, não é? — Jordan se senta na minha frente e se vira completamente para falar comigo — Eu morreria se te perdesse de novo, não aguento mais isso. Por isso fiz o acordo, tem que ser a última vez.

— Vai ficar tudo bem, eu juro.

— Não tem como saber.

— Eu tenho um plano — Segurei sua mão, tentando confortá-la. O modo como Jordan temia pela minha vida me deixava abalada, mas levemente tranquila.

Até que lembro que ele se preocupa com a alma dentro de mim, não comigo, Allyson. O que não é necessariamente ruim, porque não preciso mesmo de um romance agora. Ainda mais com uma garota. Lembro também que tenho que manter as aparências, e quando atraio alguns olhares curiosos, a solto.

— Você sempre parece ter um plano.

— Bom, vocês têm asas, eu só tenho minha cabeça — Sorrio, mas ela permanece com a expressão preocupada — Vai ficar tudo bem.

— Simon, tira esse dedo aí, pelo amor de Deus! — Senhor Mathew diz.

— Você não é meu pai!

— Eu sou pai de todo mundo aqui por quarenta minutos, três vezes por semana, então me obedeça.

— Odeio matemática, é inútil — Jordan diz de mau humor se virando pra frente – Na verdade, a escola é meio que inútil pra mim.

Suspiro alto e me afundo na cadeira, sem saco para aula, sem saco para qualquer coisa normal ultimamente. Preciso fazer alguma coisa a respeito da Jessica, e rápido.

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O barulho das teclas do computador batendo em um ritmo constante me deixava louca, principalmente porque eu só escutava isso. O cheiro do corredor da diretoria e afins não era tão agradável como o vestiário. Lá eu me sentia bem, aqui eu me sentia presa. O chão cheirava a desinfetante barato e água sanitária, e até o barulho dos saltos da secretária batendo no chão eram como tiros no meu ouvido.

— Belas botas — Ouço alguém dizer ao meu lado e me viro. David Barney está sentado de pernas abertas a duas cadeiras de distância da minha, ele tinha seu jeito presunçoso, mas parecia diferente agora. Mais... determinado?

— Obrigada.

— Então, qual o seu tipo de psicose?

— O quê?

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now