IV

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Escrever de forma linear é muito cansativo.

Eu acordo no começo da manhã, preparo o chá e assisto as notícias. Depois desligo a TV. Há dias que ele acorda bem, e há dias que ele acorda mal, as vezes chorando, as vezes indiferente, muitas vezes remoendo alguma coisa do passado. Ele ainda está dormindo, logo provavelmente vai acordar mal. Preciso estar pronto.

Depois de tomar uma xícara grande de chá com leite, eu entro no quarto. Seonghwa estava acordado, sentado na cama, com as costas encostadas no travesseiro. Os olhos estavam fechados. Ele parecia meditar. “Hwa” chamei “Seonghwa”. Ele abriu os olhos, como um par de asas melancólico, me encarou e sorriu. “Oi, dormi demais, né” ele esfregou os olhos e suspirou. “Estava meditando?” perguntei, “Sim, mas acho que dormi, não estava ajudando muito mesmo”, “você precisa deixar os pensamentos fluírem, é o que dizem”, “isso é o mais difícil”. Ele retirou a coberta e se levantou da cama, cruzou os braços e perguntou: “você fez chá?”

Depois de tomarmos chá, vamos cuidar do jardim. A rua é tranquila e pouco movimentada, me surpreende que as construtoras ou o governo ainda não descobriram esse pequeno santuário de charmosas casas geminadas. Na Cidade essa pequenina alameda logo seria transformada em condomínios ou em casas para jovens ricos. Seonghwa nunca me falou muito como ele veio parar aqui. Algo que aprendi convivendo com ele é que o melhor momento para conversar é quando ele está distraído fazendo alguma coisa, como quando ele está regando as flores ou varrendo as folhas, ou acariciando o gato que aparece ocasionalmente na porta de casa. Nessas situações é difícil imaginar que o Seonghwa é uma “pessoa triste”. Ele sorri, ri, conversa, mas antes de dormir é sempre diferente, ele se fecha nos próprios pensamentos, nas próprias dores. Nessas horas ele se desespera. É horrível.

Eu Poderia Viver na Esperança - SeongsangOnde as histórias ganham vida. Descobre agora