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2 dias depois

Acordei ou pelo menos eu acho, porque tudo a minha volta estava completamente escuro. Ou eu tinha ficado cega ou morri e fiquei perdida na escuridão.

-Yago?

-Eu.

-Aonde estamos? Porque está tudo escuro?

-Esse é o nosso castigo. Já passei por isso umas duas vezes. É pra cá que eles trazem os desajustados. Os deixam aqui preso por uns dias ou uma semana, sem ver a luz do dia, sem comida ou água, sem banheiro.

Meu corpo inteira doía, nem me atrevi a mexe_lo. Fiquei ali deitada no meio do escuro, esperando a morte chegar.

5 dias depois

De repente vi uma luz. Seria a luz no fim do túnel? E então fui puxada para dentro dessa luz. Fiquei imóvel, sem entender o que estava acontecendo. Talvez tenha ficado assim por horas, não sei. Será que morri? Mas então minha visão foi voltando ao normal. Eu estava no pátio, era somente a luz do dia, finalmente o castigo acabou. Eu praticamente não sentia meu corpo. Consegui virar meu pescoço e vi o Yago deitado do meu lado.

Mais um tempo se passou, Yago se recuperou primeiro que eu logo já estava sentado. Me esforcei pra sentar também. Minha roupa toda cheirava a urina, eu precisava urgentemente de um banho. Mas o que eu queria mesmo era um copo de água. Percebi que todos estavam no pátio nos olhando de longe. Com dificuldade nos levantamos, ninguém veio falar com a gente. Fomos direto para o nosso quarto, em silêncio.

Já de banho tomado sento na minha cama tentando processar tudo que tinha acontecido.

-Toma.- Yago entra no quarto e me entrega uma garrafinha de água e uma bandeja de salada.-Se hidrate e se alimente.

Tomei a água e comecei a beliscar a salada.

-Eu estou com um puta ódio. Como puderem fazer isso com a gente?

-Relaxa. A gente está vivo.

-Preferia estar morta.

Ele ri se emoção.

-É, eu também.

No outro dia
Acordei e me levantei com um pulo da cama me sentindo feliz, sei lá porque.

-Acordou animada, é?-Yago estava deitado em sua cama brincando com seu canivete.

-Na verdade me sinto espetacular essa manhã. Não está um lindo dia?

-Isso sim é preocupante.- ele se senta.

De repente, por impulso, pulo em seu colo o abraçando. Então olho para ele e tudo fica em silêncio. Meu sorriso desaparece quando percebo o que eu fiz. Me levanto depressa.

-Vamos tomar café?- tento disfarçar. Mas sinto algo diferente e isso me deixa inquieta.

Mesmo dia, à tarde
Estava sentada no pátio, perto de um campo onde os internos costuma jogar bola. Vi o Yago vindo correndo do outro lado. Depois do café da manhã ele simplesmente havia sumido.

-Estava te procurando.-ele disse, ofegante.

-O que está rolando? Porque está por aí correndo feito um louco?- perguntei irônica.

-Amy e suas ironias.- ele disse sorrindo- Vem comigo.

-Pra quê?

-Vem, quero te mostrar uma coisa.

Me levantei e ele me puxou. Fomos correndo até o corredor da ala psiquiátrica ele virou em um corredor mais estreito que tinha uma escada.

Subimos depressa, a escada era ainda mais estreita que o corredor e cheirava a mofo. Não tinha muitos degraus, ela levava até uma porta antiga e grande de madeira verde com algumas pequenas estátuas do que me parecia elfos em diferentes posições, eles pisavam sobre uma ponte de humanos seminus ajoelhados. Yago puxou um cordão do pescoço que estava escondido embaixo de sua blusa, tinha uma chave presa a ele.

-Como foi que você achou isso?-perguntei examinando a chave antiga e totalmente detalhada.

-Senhorita, bem_vinda ao nosso esconderijo secreto.- disse ele abrindo a porta que rangeu um pouco.

-Não seja idiota. Se é esconderijo é claro que é secreto.- disse entrando.

-Muito bom ver sua empolgação.- dessa vez ele diz irônico e fecha a porta atrás de nós.

Era um cômodo largo e o cheiro de mofo estava mais leve aqui dentro. Havia varias prateleiras de livros, um sofá velho e várias caixas empilhadas num canto. Em uma parede tinha vários retratos antigos de pessoas que eu não fazia ideia de quem era.

-Isso é incrível. Quer dizer, olha quantos livros.- disse encantada. Tudo estava muito empoeirado.- Quando foi a última vez que vieram aqui?

-Acho que há muito tempo. Olha só isso.- o sofá estava cheio de teia de aranha assim como quase todo o resto.- Achei essa chave no bolso de uma das enfermeiras. Eu sei que foi totalmente contra as regras fuçar nos bolsos dos mortos mas foi isso que eu fiz.

-Tá legal, você tá ficando bom com as ironias.

-Tenho uma professora.- ele pisca para mim.- Então, dai eu achei essa chave. Pensei, tipo, "nossa que chave maneira" e peguei. Mas ai fiquei pensando o que ela abria, qual era o segredo dessa chave. Seria um cofre ou algo mais sinistro? Então estava andando pelo corredor e algo me puxou até aqui.

-Seria uma entidade?- falei entrando na brincadeira dele.

-Talvez. Só sei que quando percebi estava parado em frente a essa porta. Então me lembrei da chave e BUM, era exatamente essa chave. Incrível, não?

-É, a parte do BUM foi mesmo.

-Ah, qual é? Vai dizer que não achou isso aqui incrível?

-É, realmente.

-E foi muita coincidência. Como se tivesse sido feito para nós esse lugar.

-Aposto que foi.

-Eu vou ignorar suas ironias, senhorita Amy. E tem mais. Vem aqui.- atrás de algumas caixas havia uma pequena porta, ele abriu e se enfiou lá dentro. O segui e, ao passarmos por um uma passagem meio apertada, saímos em uma varanda. E a vista lá de cima era simplesmente espetacular. Dava pra ver a floresta de árvores até ao longe. Uma vista realmente encantadora e tranquilizadora.

-Eu estou realmente surpreendida agora, senhor Yago.

-Que bom que a surpreendi pelo menos uma vez.- ele ri.

Já é a noite. Estamos fumando um cigarro deitados cada um na sua cama.

-A gente podia dormir lá.- sugeri.

-Você quer?

-Quero.

-Então o que estamos esperando?

Me levantei sorrindo. Pegamos algumas cobertas e, depois de verificar se não tinha ninguém no corredor, fomos para nosso esconderijo em silêncio.

-Que tal se dormimos na varanda. Aqui está muito empoeirado.

-Ou você está com medo e não quer admitir?- ele brinca.

Na verdade o quarto estava bem assustador mesmo, a lâmpada laranja não ajudava muito.

-Não tem graça.

-Está bem, vamos dormir na varanda.

Arrumamos alguns cobertores para ficar macio e deitamos por cima. Não estava frio, ao contrário, a noite estava perfeita hoje. A lua estava cheia e as estrelas enfeitava mais o céu.

Depois de um tempo em silêncio olhei para o Yago. Comecei a pensar em tudo que ele já havia passado, tentando imaginar como devia ter sido tudo tão difícil para ele, as pessoas o julgando e ficando contra ele. Deve ter sido horrível.

-Eu sinto muito, Yago. Por tudo. Tudo que você já passou.

-Também sinto por você, Amy. O que importa é que temos um ao outro agora.

Todo aquele nosso escudo para nos proteger do mundo sumiu por um momento. Nos olhamos de outra maneira. Era como se nossos corpos tivessem conversando em silêncio. Então cedemos e nos beijamos. Deixamos tudo de lado, todos problemas, o mundo todo para viver aquele nosso momento, enquanto nossos corpos consolavam um ao outro.

Amy-O Mundo Não é Seguro (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now