Capítulo Dezessete

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Foi no que Norah acreditou durante toda a semana em seu estúdio ou nas refeições conjuntas feitas com os filhos, quando olhava Cássio com atenção e dizia a si mesma que nunca iria magoá-lo. Nas noites que rolou na cama até que dormisse de exaustão, muito além das 3h15, disse a si mesma que o sentimento despertado por Caio acabaria um dia.

Repetiu o mesmo enquanto dirigia até o Catete, e ainda naquele instante ao olhar o prédio 54, recriminando-se pela fraqueza que a guiou até ali.

"Sim, sou uma fraca!", pensou ao pegar seu violão e deixar o carro.

Tinha plena consciência de que, ao cruzar a porta do apartamento ao final do corredor, a última coisa que usaria seria seu velho violão, mas precisava de uma desculpa para estar ali.

Com as pernas bambas, o coração acelerado e as palmas a suarem, Norah tocou a campainha.

Estava maluca! Gritou a própria voz na sua cabeça. Foi quando ouviu acordes duplos antes que a porta fosse aberta por um Caio ansioso. Seus olhares se cruzaram significativamente por um instante antes que ele a deixasse entrar.

Não se cumprimentaram. Caio sorriu entre satisfeito e descrente, enquanto Norah olhava incrédula para seus colegas de curso que retribuíam o olhar especulativo.

Os anjos existiam afinal!

– Essa é a aluna nova que eu comentei – Caio disse a guisa de apresentação. – Norah.

– Hum... Então você é a famosa "Norah"! – disse o moreno, sorrindo discretamente para o outro, muito branco, evidentemente mais velho.

– Caio não parou de reclamar por você estar faltando às aulas – disse este.

Ambos aparentavam ter entre 30 e 40 anos. Norah não poderia ter certeza, mas os considerou delicados demais nos gestos e na forma arrastada de falar.

– Fiquem quietos, vocês dois. – Caio ralhou, não de verdade, antes de apoiar a mão nas costas de Norah e guiá-la até o sofá, indicando o moreno e o branquinho.

– Este é o Ariel e aquele o Serafim. Dois abelhudos. Você já reparou, não é?

– A gente só diz a verdade. – Ariel olhou diretamente para Norah. – Imagine um professor mal-humorado. Imaginou? Este da sua cabeça ainda perde. Caio tem sido um carrasco. O que você fez com ele?

– Nada. – Norah encolheu os ombros, evitando olhar para o rapaz.

Não esperava encontrar mais pessoas no apartamento, nem imaginou que seria sabatinada. As duas coisas minavam sua coragem.

– Ah, não! Você tem de ter feito alguma coisa. – comentou Serafim, cruzando os braços sobre o violão. – Antes de você, Caio era um docinho com a gente.

– Certo, suas matracas! – Caio bateu palmas para chamar a atenção. – Parem de fofocar e voltem a treinar a música que escolheram, senão vou mostrar quem é carrasco.

– Ai, ai... Adoro! – suspirou Serafim, revirando os olhos, enquanto Ariel se abanava teatralmente.

Norah foi obrigada a sorrir.

Não tinha se enganado afinal; os dois eram homossexuais. Talvez para outra pessoa causasse estranheza, não para ela. Ao contrário, na presença dos dois, seu desconforto milagrosamente se dissipou.

O casal – Norah não sabia por que, mas sentia que estavam juntos – podia brincar o quanto quisessem, pois estava claro que jamais seria preconceituoso.

Sensíveis que eram, eles já tinham entendido que havia algo no ar entre o instrutor e a nova aluna. Se restasse alguma dúvida, Ariel se levantou, sendo imitado por Serafim.

Proibido pra Mim [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora