4. O que é ser um humano, afinal?

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– Eu já falei que respeito suas crenças, mãe, mas essa coisa de seita de vampiros e...

– Allyson – Meu pai repreende e eu me afundo no sofá de novo – Sua mãe já comentou de uma espécie de... humanos-anjos aqui em casa, Nephilins.

– Então é daí que eu conheço esse termo – Estalo os dedos, sorrindo, lembrando dos papos que mamãe já teve com a gente durante o jantar quando comentava sobre a tese do doutorado – É, eu sonhei com isso noite passada, eu acho, mas agora eu não me lembro direito — Coço a cabeça, as imagens pareciam estar se esvaindo da minha memória.

– Você sonhou com isso? E não nos contou?

– Não achei relevante, foi só um sonho. Uma vez já sonhei que fui perseguida por Hitler, e eu sou loura, não tem muito sentido.

– Mas é claro que é relevante! – Meu pai se levanta e eu me assusto com seu repentino ataque.

– Martin, ela não sabe, não tem como...

– Eu sei, eu sei, só não consigo lidar com isso, não sei como contar pra minha filha que ela não é humana!

– Ei, espera aí, o que deu em vocês? Eu posso até lidar com o fato de ser retardada, ou ter déficit de atenção ou sei lá o que que vocês estão querendo dizer sobre não ser normal, mas eu sou humana sim, eu odeio sangue e mesmo assim sangro, é vermelho – Me levanto também e meu celular vibra no meu bolso. A foto da Hazel aparece na tela e eu bufo – Oi, não posso falar agora, estou pensando em colocar os meus pais em um asilo.

– Liga sua televisão, agora! Coloca no noticiário.

– Tá, tô ligando – Pego o controle ainda com o celular na orelha e ligo a tv da sala, coloco no canal 10 e o âncora do jornal tem uma expressão preocupada.

– Allyson, estamos no meio de uma discussão.

– Espera um pouco, pai, só um minuto. Hazel, te ligo depois.

– Acaba de ser encontrada uma garota de dezessete anos às margens da enseada Beck. O relatório da polícia indica que ela teve a garganta cortada. Seu nome era Zoe Paxton, conhecida na escola pela participação no editorial do Lincoln High Jornal – Zoe? A mesma Zoe com quem eu falei hoje de manhã? A Zoe de cabelos cacheados que vivia com a caderneta na mão? Essa Zoe? Eu não podia acreditar – Estamos chocados com tamanha brutalidade e pedimos a população de Ellicot que fiquem atentos. A polícia está trabalhando em uma investigação minuciosa a respeito do estranho fato de suas costas estarem marcadas com uma estranha cicatriz. O que poderia ter acontecido? É possível que... – Paro de escutar, minha mente fica zonza e eu caio no sofá ao lado da minha mãe.

Zoe Paxton?

– Martin...

– Eu sei, Lana, não precisa me lembrar do quanto estamos correndo perigo agora. Acha que foi ela? Porque se foi, Ally estava prestes a sofrer um ataque por essa... garota.

– Não sei, de verdade.

– Vocês sabem de algo? Me falem. Essa menina era da minha escola! Caralho, o que tá acontecendo?

– Existem forças no Universo que não somos capazes de explicar, criaturas, criadas a partir do mal, com o único propósito de desejo e possessão, sem sentimentos ou algo que indique humanidade. Máquinas de matar, bebedores de sangue, lobos com sede de matança.

– Meus pais acreditam em vampiro, que legal.

– Allyson...

– O quê? Querem mesmo que eu acredite nessa insanidade? Estamos no século vinte e um, mãe! Eu sabia que não devia ter apresentado Crepúsculo para você.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now