1. Brisa de (i)realidade

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Jessica me puxou pelas mãos para a sala de estar, onde um jogo complicado de bebida rolava. Eu encarei a mesa de sinuca no canto e considerei me sentar lá mesmo já que o sofá estava ocupado pelos nerds do videogame.

– Como se sente agora que tem dezoito? – Ela perguntou, me entregando um copo vermelho – Quero me preparar para os próximos dois meses — Quantas pessoas que eu conheço matariam por um copo vermelho? Jake riu e deu de ombros atrás de mim, desistindo de começar uma briga com a minha melhor amiga pela minha atenção.

– Livre e... apreensiva, ainda estou tentando me decidir.

Hazel aparece do nada e dá um pulo para se sentar com Jessica na mesa:

– O Chase é escroto pra caralho.

– O que ele fez dessa vez? — Me coloquei entre suas pernas, fazendo graça. Quem quer que passasse e olhasse para nós, pensaria coisas obscenas, mas quem faria algum comentário? Eu era a porra da Allyson Hale.

– Tá de amasso com a Donavan — Ela inclina o pescoço para trás e choraminga.

Hazel, minha outra melhor amiga, insistia em se jogar para caras com o QI infinitamente menor do que o dela, esperando ganhar alguma coisa de caras babacas. Jessica também fazia isso, mas pelo menos suas escolhas envolviam caras da faculdade. As duas poderiam ser consideradas minhas únicas amigas de verdade no meio disso tudo, e nós éramos as abelhas rainhas de Lincoln High. Bem Meninas Malvadas, ne? Exagerei na comparação.

– Eu falei pra não se rebaixar, é a regra número um – Franzo as sobrancelhas e coço a cabeça olhando ao redor, com uma sensação esquisita pairando por mim.

– Fácil pra você falar, Jake é louco por você.

– Porque eu nunca me rebaixei.

– Porque você é Allyson Hale, isso te dá motivos suficientes.

– Você sabe que isso é uma grande besteira, Carter – Rio e tomo um gole generoso do meu copo antes de bater com ele na mesa de sinuca e puxar as duas pela mão. No fundo, aquela frase basta para me chatear, mas eu não podia demonstrar isso – Vem, vamos dançar, é meu aniversário!

Era realmente uma puta besteira. Eu era apaixonada por Jake desde o ensino fundamental. Na época ele usava cabelo espetado e aparelho nos dentes. Então quando cheguei em Lincoln High e ele olhou para mim... foi como o paraíso. E até hoje ainda tenho medo de que ele só tinha se aproximado porque me tornei conhecida. Até hoje tenho medo dele me trocar por alguém que diga sim a ele até a morte. Até hoje eu vivo por Jake Miller. E ele vivia por mim.

Enquanto balançava os cabelos de um lado para o outro ao som de um pop qualquer dos anos dois mil que saía das caixas de som, senti um arrepio na nuca, daqueles que fazem seu corpo todo ficar gelado. Virei-me instintivamente para a janela e juro que vi uma sombra me observando de lá. Ela partiu do mesmo jeito que chegou, rápida e misteriosamente.

As meninas perceberam que eu tinha parado de dançar e pararam também, perguntando o que tinha acontecido.

– Ahm... não sei, nada.

– Ei baby– Jake surge atrás de mim e me abraça pela cintura – Cadê aquela nossa foto no lago da cabana dos Cavs? Sabe, quando vencemos aquela batalha na água.

– Eu não me lembro, Jake – Olho para trás mais uma vez. Não tem nada na janela, Allyson, para de ser louca.

– Ah, claro que lembra – Ele tirou meu cabelo dos ombros e beijou a ponta da minha orelha, depois o pescoço. Ele tinha tanto poder sobre mim.

– É, lembra sim – David Barney passou por nós assobiando e eu automaticamente franzi as sobrancelhas, me perguntando o que ele estava fazendo aqui – É você e o Jake, com folhas por cima do biquíni e da sunga, apontando um para o outro como homens da caverna, e a Ally estava gata aquele dia — Ele ia seguir seu caminho, mas Jake o puxou pela gola da camisa, adorando começar uma briga, como sempre.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now