Capítulo 1

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Verão de 2011

Dentro do táxi ela olha o seu relógio de pulso dourado e considera-se atrasada. Mas não importava o atraso, ele não imaginaria que ela estivesse parada em frente ao apartamento dele.

Entregou 30 reais ao motorista, e saiu do carro. Não se atreveu a olhar para o poderoso prédio, sabia que se ficasse parada iria sair dali. Sentiu a brisa do mar nas costas, passou pelas imensas portas de madeira com contornos dourados, até chegar ao hall todo branco, com pisos ornamentados em losangos. Com altas paredes até seu teto que aparentava ter pelo menos dois andares e nada aconchegante, foi com passos rápidos até o balcão que se encontrava na frente de uma parede vermelha, no meio do grande salão.

Colocou uma caixinha com embrulho prata em cima do balcão de mármore revestido de vermelho, e olhou para um homem de pele morena e ar convidativo. Este a olhou de volta e perguntou:

- Qual apartamento?

- Daniel Vandenberghe – sabia que ele iria perguntar seu nome para informar ao dono do apartamento sobre mais uma visita. Porém, já tinha programado tudo com o espelho do banheiro do avião.

- Qual o nome? – perguntou o gentil homem atrás do balcão. Singela, ela deu um sorriso e com sua cara gentil de menina-moça disse:

- Eu sou uma surpresa. Deveria ter chegado antes, mas os convidados da festa disseram para eu esperar no táxi. Sou uma amiga de longa data do Sr. Daniel. Espero que não haja problemas para o senhor se eu entrar e tocar a campainha sem ele saber.

O homem por trás do balcão estreitou os olhos, mas a cara suave e os olhos castanhos cor de mel da moça o fizeram a deixar entrar no interior do prédio, dizendo que não haveria de errar, já que o homem para qual seria a surpresa morava no último andar na única porta que existia.

Dentro do elevador, seu coração batia mais rápido que o tremulo dos seus dentes. Seu corpo rangia, seus nervos contraiam como se ela estivesse nua na neve, apesar de estar vestida com sua jaqueta meia manga, calça jeans e sapatilha sem salto, sentia cada vez mais frio. Até ela não saber mais a diferença de sentir frio e estar nervosa.

O elevador parou e ela começou a escutar vozes e músicas vindas do apartamento. Mais do que tudo, ela queria que ele não a reconhecesse, apesar de saber que seria impossível, mesmo com todos esses anos de ausência.

Com o pequeno embrulho seguro em uma das mãos, apertou a campainha.

Escutou a porta destrancar. Seus dentes se juntaram, seu corpo todo tremia, agora sabia ser de nervoso. Abriram a porta e viu uma moça mais baixa do que ela de cabelos curtos castanhos claros. Ela não esperava vê-la assim, viu que o mesmo pensamento ocorreu à moça.

- Meu Deus!- Disse a moça com cara de espanto.

Com o embrulho apertado na mão esquerda, o tremor ainda não parara. Apesar de ter ficado feliz de tê-la visto, ficou mais claro que ele nunca contou a ela o que aconteceu. Tímida, respondeu à moça com um simples “Oi, posso entrar?”

- Mas é claro Bri, eles vão ficar felizes em vê-la, achamos que depois de tudo, você fosse esquecer os velhos amigos de escola.

Ela sabia que ele não iria ficar feliz em vê-la. Nem um pouco feliz em vê-la, ali, parada, depois de tudo. Mas o sorriso da velha amiga fez o tremor amenizar.

- Ca, meu Deus, como é bom ver vocês - Disse em um tom que sabia ser de pura sinceridade.

Sabia que não tinha sido a única a errar, mas também sabia que o que havia feito não era certo. Martirizava-se por ter voltado, aquele medo voltando a atormentá-la. Mas ali, naquele momento ela sentiu as recordações voltarem e com o abraço que sua amiga deu, voltou uma emoção que a muito ela tinha perdido. A felicidade.

Antes Que o Verão AcabeWhere stories live. Discover now