cap 9 - sou apenas eu, desgraçado como eu

Start from the beginning
                                    

-Sh, sh sh.... -Sussurro tentando acalmar meu irmãozinho. Posiciono ele com o peito contra o meu e no instante ele para de se debater. Seus soluços se tornam mais altos por torturantes minutos, em seguida, se tornam um choro silencioso como na maioria das vezes. Não consigo o apoiar completamente contra mim. Sua barriga começou a crescer recentemente. E por estarmos tentando que ele ganhe peso, está super saliente comparado ao resto do corpo.

Seu braço livre se enrosca em meu pescoço e sua cabeça em meu ombro. Ele está retomando a consciência. Me levanto com ele no colo, sentando-o no balcão da cozinha.

-Posso? -Pergunto alcançando o elástico de sua calça. Ele concorda secando os olhos com a manga. Abaixo o suficiente para ver o estrago. Sua carne está dilacerada, e por baixo, cicatrizes arroxeadas cobrem quase que completamente. Me afasto o suficiente para pegar um pano de prato limpo. Umedeço e começo a limpar o sangue que se acumula. Seu rosto nem sequer muda de expressão. Pego acima da cabeça dele, o kit de primeiros socorros.

Desde a recomendação do psiquiatra, tínhamos um em cada cômodo da casa praticamente. Abro uma pomada cicatrizante e aplico por cima dos ferimentos. Cubro com gaze e logo em seguida enfaixo com cuidado para não apertar demais. Noto que ele está fugindo de meu olhar. Pego seu rosto com as duas mãos e faço-o olhar pra mim.

-Ei. Está tudo bem. Eu sei que você está tentando. Foi na verdade minha culpa, me desculpe. -Falo me referindo ao garfo. Por um descuido, um garfo de metal foi parar no quarto de Brian, o que desencadeou o gatilho. -Vou comprar novos de plástico pra você, okay? Não quero que você se machuque mais. Você é muito importante pra mim. Você é o mundo dos seus filhos. Todos aqui te amam e ninguém mais vai te machucar, okay? Não vamos deixar.

Acaricio a cabeça dele. Não sei se ele me entendeu. Seu silêncio é torturante. Não sei o que se passa em sua mente. Não sei como resolver. Dou a medicação a ele com todo cuidado para que não engula seco. Em seguida, pego ele novamente no colo para irmos para seu quarto.

Sinceramente, não sei como ele desceu as escadas sozinho. Mas sabia que ele havia sido muito forte pra conseguir aquilo. Subo com ele em completo silêncio no colo. Abro sua porta e me deparo com o caos que está seu quarto. Roupas, pacotes de comida, pacotes de fraldas, uma pilha de cobertores e almofadas no chão...

Deito ele na cama enquanto ele me encara em silêncio. Vincent está dormindo tranquilo agora em seu bercinho abraçado em uma pilha de bichos de pelúcia.

Diferente das coisas dele mesmo, Brian estava cuidando muito bem das coisas de Vincent. Suas roupinhas estavam penduradas perfeitamente no closet. Vincent dormia apenas em cobertores limpos, diferente de Brian, que estava usando o mesmo desde o hospital e se recusava que trocassem sua roupa de cama.

Quando alguém veio trocar sua roupa de cama, encontramos ele deitado no chão da lavanderia no meio de seu lençol molhado.

A televisão estava ligada em algum show antigo do Nirvana. Kurt estava tocando About a Girl em um volume baixo. Quando ia me virar para sair, Brian segura firme minha mão. Entendo aquilo como um pedido de que eu fique.

Suspiro e me deito ao lado dele. Ele se aninha em meu peito, de costas para mim e de frente para Vincent.

As vezes eu acho que ele só está assim comigo e Alice pela falta de um Alfa. Segundo o médico que estava acompanhando sua gestação, ele poderia fazer isso em busca dos feromonios.

Brian além de ômega, tinha o agravante de ser recessivo. Provavelmente estava sentindo falta de sua Alfa.

Eu li tantas vezes a descrição dos policiais que o encontraram que seria capaz de descrever perfeitamente a Alfa de Brian.

Vendido + PerdidoWhere stories live. Discover now