5 - OS ECOS DA MORTE

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Aos poucos ambos estavam descobrindo os mistérios e segredos daquele lugar. Aquele enorme apartamento, uma cobertura duplex no centro da cidade que visto de longe seria só uma propriedade de uma antiga e rica família paulistana, mas que na verdade era o lar de uma família adotiva de bruxos que combatiam o mal na noite escura de São Paulo. Em uma dessas noites, Luna ainda estava perturbada com a sensação constante de que algo naquele momento em que viu o homem saindo das sombras havia conseguido olhar tão fundo dentro dela a ponto de quase a invadir. Aquilo tirava seu sono e a fazia se revirar várias e várias vezes na cama que os demais tinham colocado especialmente para ela no quarto cheio de livros e cristais de Verônica e Brenda. Ela se levantou e partiu em direção a cozinha com o objetivo de buscar um copo d'água antes de se decidir se subir para o terraço e fumar um cigarro sem antes pegar um casaco era uma boa ideia, afinal o topo daquele prédio poderia a congelar naquela hora da noite. Foi nesse mesmo instante que viu uma figura se esgueirar silenciosamente pelos corredores da propriedade, Luna ficou em silêncio e imóvel para que não fosse notada. Logo ela conseguiu ver quem era: Rian. Estava com o mesmo semblante que era uma mistura de tristeza e raiva e parecia usar seus pijamas. Rian era forte, sua pele era do mesmo tom de Mãe Aziza, seus cabelos loiros eram formados por várias tranças raiz que partiam do topo de sua testa até pequenos rabinhos em sua nuca. Os olhos eram negros e pareciam cansados.

Luna que havia acompanhado seu extensivo treino de artes marciais sabia que o garoto não era muito de falar, mas era dedicado, concentrado. Era definitivamente um guerreiro, e ousava dizer que era o líder daquele grupo mesmo não sendo o mais velho. A forma como ele tinha a habilidade mágica de transformar a superfície de sua pele em ouro puro transformava seus dedos, mão e braços em uma arma extremamente afiada e letal. Mas lá estava ele, tarde da noite caminhando de forma discreta pela sala. Luna espremeu seus olhos para ver o que ele estava fazendo para estar aquela hora da noite encarando a porta de entrada fechada do apartamento por dentro.

- Eu sei que está aí - disse ele rapidamente, sem tirar o olhar daquela enorme porta branca que dava entrada e saída a propriedade. 

Luna imediatamente fingiu que não estava tentando espionar e abandonou seu modo furtivo. Caminhou lentamente até ele.

- O que está fazendo? - Se aproximou usando aquele tom de voz surpreendentemente agudo.

- Quer ver uma coisa legal? - Perguntou Rian ainda sem olhar a menina de cabelos escuros ainda bagunçados.

Ele não esperou muito por uma resposta e logo inseriu no buraco da fechadura o que parecia ser uma chave grande, antiga e dourada presa no que parecia ser uma corrente fina e brilhante. Rian abriu a porta e então justamente no momento em que Luna esperava ver o corredor do prédio que levava aquela porta, ela viu o interior de uma enorme sala, com luz, cheiro, tamanho e cor diferentes. Luna não era muito experiente, mas tinha a certeza que aquilo era magia. O chão era de mármore creme, o pé direito daquele lugar era muito mais alto do que o corredor do prédio, havia uma iluminação mais amarelada e sutil proveniente de enormes lustres pendurados ao lado de enormes esqueletos de criaturas que Luna nem ousava tentar adivinhar quais eram. Rian partiu em frente e Luna foi logo atrás dele dando uma última olhada para a sala do apartamento. Rian fechou a porta atrás dos dois, eles já estavam naquele outro ambiente que parecia ser uma sala de museu. Repleto de enormes estantes, prateleiras, pedestais e expositores que sustentavam inúmeras e diferentes peças que Luna imediatamente suspeitou serem objetos e relíquias mágicas. Enquanto caminhava ela via uma relíquia hindu chamada Vajra, e mais a frente um conjunto de runas celtas. Sua imaginação fluiu enquanto ela pensava que por trás de cada um daqueles objetos havia uma aventura, uma história.

- Onde estamos? - Perguntou ela ainda boquiaberta com o que estava diante dos seus olhos.

- É aqui que guardamos tudo, de perigosamente amaldiçoado até perigosamente valioso...

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